Greenpeace e Fridays For Future iluminam a noite de Brasília e outras quatro capitais alertando sobre a crise climática e o negacionismo do governo Bolsonaro
Por Camila Doretto em Greenpeace – Hoje acontece a Greve Global pelo Clima, uma mobilização mundial que, aqui no Brasil, já ganhou cara, nome e sobrenome, assim como a crise climática. E essa última não é motivo para comemorações, mas serve de alerta para que muitos de nós façamos definitivamente uma escolha: agir ou… Bom, mas não há mais tempo para uma segunda opção se não quisermos ver mais enchentes recordes, secas extremas, crise hídrica e aumento da conta de luz, agravamento das desigualdades e outros impactos decorrentes do aquecimento do planeta, impulsionado pelas ações humanas.
A estimativa, segundo o Fridays For Future (Sextas-feiras pelo Futuro, em português), que lidera o movimento, é que pelo menos 85 países participem da mobilização. No Brasil, alguns grupos de jovens optaram por manifestações presenciais, outros vão dedicar esforços às redes sociais, onde a pressão também é efetiva e faz eco através do uso das hashtags e da marcação acirrada em cima dos negacionistas e de todos os líderes de governo que agem como se a crise climática não fosse realidade. Até o fechamento deste texto, estavam inscritos para grevar (sim, nos bastidores, a ação já até virou verbo!) jovens de pelo menos vinte cidades brasileiras.
Mas o clima contra a inação de nossos governantes já começou a esquentar desde ontem! Como forma de marcar presença e iluminar o pensamento dos negacionistas, ruralistas e passadores de boiada, junto à rede Projetemos, o Fridays For Future Brasil, com o apoio do Greenpeace Brasil, fez projeções simultâneas em cinco cidades: Belém (PA), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP) e Recife (PE).
Em Brasília, as projeções aconteceram em quatro pontos da cidade: Biblioteca Nacional, Praça dos Três Poderes, em uma das Cúpulas do Congresso Nacional e no Terminal Rodoviário.
“A Crise Climática já é realidade”, “Bolsonaro, Mentiroso Climático”, “Crise Climática, realidade que mata” e “Amazônia ou Bolsonaro” foram algumas das mensagens projetadas. Veja a seguir o registro das projeções e o recado dado pela mobilização liderada pela juventude brasileira.
Por que descolonizar o sistema?
A crise climática é consequência das ações humanas, conforme atestou o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês). Ela é resultado de um modelo de desenvolvimento insustentável, baseado no uso predatório da natureza e na desigualdade social. Um modelo que, historicamente, estimula o uso desenfreado dos recursos naturais para beneficiar a uma minoria, enquanto a maior parte da população que já enfrenta inúmeras outras crises fica com os prejuízos.
O que a juventude pede ao eleger a hashtag “Descolonizar o Sistema” como o principal chamado é simplesmente a inversão dessa lógica.
“Descolonizar o sistema é uma forma da gente desconstruir um olhar colonial sobre as relações sociais e o meio ambiente, como por exemplo a discriminação racial, que resultou em uma parcela da população, como negros e indígenas, deslegitimadas e escravizadas; além da imposição da monocultura como forma de produção exploratória. E apesar de todos serem iguais perante a lei, por conta desse processo, nem todos passaram a ter acesso às mesmas oportunidades”, diz Daniel Holanda, ativista do Fridays For Future Brasil.
Para a mudança necessária, é preciso frear a continuidade dos processos que seguem sendo reproduzidos por um desenho de humanidade ultrapassado e fracassado, que propaga a desumanização de algumas populações, além de fazermos a transição para uma sociedade que foque na colaboração, no respeito aos limites da natureza e que essa seja vista como aliada para que possamos garantir um presente e um futuro digno, saudável e justo para todes. A juventude pede também o fim das injustiças socioambientais e climáticas, essas que fazem com que as pessoas que menos contribuíram para que chegássemos ao ponto que chegamos, sejam as que mais sofrem os impactos.
O chamado para “descolonizar o sistema” é, portanto, uma oportunidade para repensarmos nossas ações enquanto sociedade, mas também que descolonizemos a nós mesmos. Garantir a justiça climática passa por desconstruir os padrões que perpetuam a discriminação e a desigualdade.
Para além de respeitar, precisamos aprender com os povos historicamente oprimidos e deslegitimados pelo sistema hegemônico, como indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e periféricas, e incorporar suas visões e soluções de desenvolvimento cooperativo e solidário nas definições dos rumos da nossa sociedade.
É necessário falar de crise climática e reconhecer que isso inclui falar de raça, classe, gênero, orientação sexual, de direitos humanos e civis.
O grito da juventude surge diante de um governo que aposta no retrocesso e reproduz lógicas coloniais de ameaça aos direitos territoriais constitucionais dos povos indígenas, e de ameaça à democracia e aos direitos civis. Ainda mente enquanto avança com um projeto de destruição da Amazônia, principal causa das emissões de gases estufa no Brasil.
“O chamado da juventude é uma grande oportunidade para que líderes mundiais e grandes empresas se inspirem e tomem decisões urgentes e efetivas para garantir um presente e um futuro mais justo e sustentável para todes. Não temos mais tempo para promessas que levem 30 ou 50 anos para serem colocadas em prática. Precisamos de ações agora para que já na próxima década não cheguemos ao aumento de 1,5º C na temperatura média do planeta, como alertaram os mais de 200 cientistas de 185 nações no último relatório do IPCC”, defende Pamela Gopi, porta-voz da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.
“Não podemos mais tolerar governantes negacionistas liderando países. A juventude quer poder sonhar além dos próximos dez anos e, por isso, semeia engajamento, conscientização e ação para que a gente chegue em um mundo mais verde e justo para todes”, ressalta Gopi.