Surto de H5N1 expõe fragilidades na contenção da doença e pressiona por novas estratégias sanitárias
A persistência do vírus H5N1 em rebanhos avícolas dos Estados Unidos revela um cenário alarmante: produtores de ovos enfrentam perdas financeiras e emocionais crescentes, enquanto especialistas alertam para o aumento do risco de transmissão entre espécies e para humanos. Com mais de 150 milhões de aves afetadas desde 2022, incluindo mamíferos como vacas leiteiras, a gripe aviária consolida-se como uma crise sanitária de proporções inéditas.
Impacto humano e animal em escala global
Desde março de 2024, 66 dos 67 casos humanos registrados no país ocorreram, incluindo a primeira morte confirmada. A disseminação do vírus para animais selvagens e domésticos amplia as rotas de contágio, enquanto a indústria avícola tenta conter prejuízos bilionários. Greg Herbruck, CEO de uma das maiores produtoras de ovos dos EUA, descreve a experiência de sacrificar 6,5 milhões de galinhas como “traumática”, com equipes exaustas e processos de biossegurança insuficientes para evitar reinfecções.
Biossegurança: entre investimentos e frustrações
Fazendas comerciais investiram centenas de milhões de dólares em medidas como estações de lavagem de caminhões, sistemas de luz para repelir aves selvagens e transporte controlado de funcionários. Apesar disso, o vírus atravessou barreiras. Emily Metz, do American Egg Board, admite que os protocolos adotados após o surto de 2015 — responsável por reduzir a transmissão entre fazendas de 70% para 15% — falharam diante da agressividade da cepa atual. “Estamos sendo derrotados”, reconhece.
Vacinação: dilema entre saúde pública e comércio
A pressão por campanhas de imunização em aves divide opiniões. Enquanto a Organização Mundial de Saúde Animal defende a medida como parte de uma estratégia integrada, a indústria teme perder US$ 6 bilhões anuais em exportações, já que países compradores restringem produtos de animais vacinados. John Clifford, ex-diretor do USDA, alerta para impactos econômicos domésticos, como a queda de US$ 18 bilhões no mercado interno e a eliminação de 200 mil empregos.
Fronteiras tênues entre aves comerciais e domésticas
A falta de consenso sobre biossegurança entre criadores amadores complica o cenário. Katie Ockert, da Michigan State University, relata polarização: de um lado, entusiastas rigorosos; de outro, céticos que subestimam o risco. A proximidade entre galinheiros caseiros e habitats de aves migratórias — potenciais vetores do vírus — torna a vigilância quase impossível.
Caminhos incertos em meio à crise
Especialistas como Nahid Bhadelia, da Universidade de Boston, defendem ações urgentes para reduzir exposições humanas, incluindo a vacinação de rebanhos. David Swayne, veterano em pesquisas avícolas, ressalta que a adaptação do vírus a mamíferos exige respostas imediatas para evitar mutações perigosas. Enquanto o USDA estuda desenvolver vacinas compatíveis com a cepa em circulação, produtores como Herbruck reconstroem plantéis sob a sombra do medo, temendo novos surtos.
A lição histórica, segundo Bhadelia, é clara: postergar medidas eficazes amplia danos. Se o vírus adquirir capacidade de transmissão humana direta, as consequências poderão ser irreversíveis. A gripe aviária não é mais apenas um problema de aviários — é uma ameaça multidimensional que exige cooperação global.