Campeãs da Terra 2021, as Mulheres do Mar da Melanésia receberam a maior honraria dada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), na categoria Inspiração e Ação
Por Nações Unidas Brasil – Campeãs da Terra 2021, as Mulheres do Mar da Melanésia receberam a maior honraria dada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), na categoria Inspiração e Ação.
O grupo capacita mulheres em biologia, ecologia e técnicas de mergulho para que elas protejam recifes.
Elas atuam dentro do chamado Triângulo de Corais, uma área que cobre cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados, entre a Grande Barreira de Corais e os arquipélagos da Melanésia e do sudeste Asiático.
Segundo o PNUMA, a menos que sejam tomadas medidas drásticas para limitar o aquecimento global a 1,5°C, os corais vivos nos recifes poderão diminuir de 70% a 90% até 2050.
Para a maioria das pessoas, nadadeiras, máscaras e roupas de neoprene são equipamentos recreativos. Para o grupo sem fins lucrativos Mulheres do Mar da Melanésia, esses são materiais de transformação.
Elas foram as Campeãs da Terra 2021 na categoria Inspiração e Ação, a maior honraria oferecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em reconhecimento a indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente.
Munida com equipamentos de mergulho, a equipe de mais de 30 integrantes mapeia a saúde dos delicados recifes de corais que cercam a Melanésia, um conjunto de Estados insulares no sul do Pacífico. O objetivo é ensinar as mulheres biologia e técnicas de mergulho, para que assim elas possam monitorar a saúde dos recifes, bem como criar e restaurar áreas de proteção marinha.
“Lembro-me da primeira vez que estive em uma vila de pescadores para tentar recrutar algumas mulheres para o nosso programa”, recorda Israelah Atua, integrante da organização. “Elas nem queriam nos ouvir. Mas nós as convencemos de que a conservação marinha é necessária para proteger nossa subsistência”.
As Mulheres do Mar da Melanésia trabalham no chamado Triângulo de Corais, uma área que cobre cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados, entre a Grande Barreira de Corais e os arquipélagos da Melanésia e do sudeste Asiático.
Rica em biodiversidade marinha, a região é um dos principais destinos para o turismo náutico, além de ser o lar de uma grande indústria pesqueira. Também é particularmente ameaçada pelo crescimento populacional e por níveis elevados de descarte irregular de resíduos.
Ecossistema- Em todo mundo, os recifes são reféns das mudanças climáticas, da pesca excessiva e da poluição. De acordo com dados do PNUMA, de 2009 até hoje, quase 14% dos corais do mundo desapareceram e muitos dos que permaneceram estão em perigo.
Recifes saudáveis são fundamentais para enfrentar os impactos das mudanças climáticas, como a acidificação dos oceanos e os eventos extremos. No entanto, a previsão da agência ambiental das Nações Unidas é que, a menos que sejam tomadas medidas drásticas para limitar o aquecimento global a 1,5°C, os corais vivos nos recifes poderão diminuir de 70% a 90% até 2050.
Atuação – A boa notícia é que esses ecossistemas são resistentes e podem se recuperar, caso o ambiente marinho seja protegido. As Mulheres do Mar, dirigidas pela Coral Sea Foundation, atuam desde 2018 nas Ilhas Salomão e na Papua-Nova Guiné promovendo a restauração dos recifes.
Elas também apoiam o estabelecimento de áreas onde a pesca é proibida, garantindo assim a existência de peixes em abundância para a vida futura das comunidades.
Mas não é apenas dentro da água que o grupo promove mudanças. As Mulheres do Mar simultaneamente mudam a narrativa do papel feminino na comunidade e oferecem oportunidades de liderança.
“Ter uma mulher na comunidade que defenda o estabelecimento das reservas marinhas e a conservação, em uma linguagem local, é importante para que as mensagens iniciais sobre a importância de áreas de proteção marinha sejam transmitidas”, disse Andy Lewis, diretor executivo da Coral Sea Foundation. “Nenhum trabalho de conservação pode ser feito nesses países sem o reconhecimento explícito da cultura indígena”.
Ancestralidade – Para as Mulheres do Mar, a combinação do conhecimento indígena com a ciência é essencial para o engajamento nas comunidades. O aprendizado que se obtém através do conhecimento tradicional – onde os peixes estão presentes em certos períodos do ano, a relação entre a cor dos corais e os dados levantados com a pesquisa ou como a maré pode mudar conforme a mudança climática -, é importante para ampliar o alcance do grupo e demonstrar o valor da preservação e das áreas marinhas protegidas.
Em compensação, o grupo orgulha-se de desafiar as convenções indígenas sobre o papel da mulher no lar, na comunidade e na sociedade. “Quando você treina uma mulher, você treina uma sociedade”, disse Evangelista Apelis, Mulher do Mar e codiretora do programa em Papua-Nova Guiné. “Estamos tentando instruir as mulheres e envolvê-las, para que depois possam retornar e causar um impacto em suas próprias famílias e em sua sociedade também”.
Preparação- As Mulheres do Mar passam por um rigoroso treinamento em biologia marinha, complementado por uma formação prática em técnicas de inspeção de recifes e ecologia. Depois, aprendem a mergulhar.
“O que mais amo no meu trabalho é poder nadar e vivenciar a beleza do mundo subaquático”, afirma Apelis. “Antes de mergulhar, você imagina todo o tipo de coisa, mas a realidade é ainda mais hipnotizante — os peixes, os naufrágios… É como se tudo tivesse acabado de ganhar vida”.
Todas as Mulheres do Mar são apoiadas por meio de certificação em mergulho reconhecida internacionalmente e são ensinadas a usar GPS e câmeras subaquáticas para pesquisar as populações de peixes e corais nos recifes do Triângulo de Corais.
Resultados – O trabalho do grupo já resultou em propostas para mais de 20 novas áreas marinhas protegidas. “Os recifes de coral são um santuário para a vida marinha e sustentam a economia de diversas comunidades litorâneas”, diz a diretora executiva do PNUMA, Inger Anderson. “Os recifes de coral são vitais para o futuro do nosso planeta e o trabalho feito pelas Mulheres do Mar para proteger estes belos e diversos ecossistemas é absolutamente inspirador”.
Para Naomi Longa, líder de equipe da Mulheres do Mar na província de Papua-Nova Guiné, ajudar a criar reservas marinhas significa que ela não é apenas uma liderança em sua comunidade, mas também uma guia para o futuro. Como as pressões populacionais na terra aumentam a pressão sobre o mar, o programa de reservas marinhas é um investimento no bem-estar a longo prazo para as comunidades vulneráveis a tensões e impactos.
“Estamos, na verdade, conservando alimentos para gerações futuras”, disse Naomi. “Há espécies morrendo, portanto, essas que vivem em reservas marinhas podem ser as únicas remanescentes quando nossas gerações futuras nascerem”.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. A meta é estimular neste período a revitalização de bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeira para reverter o quadro de destruição.