Grupos indígenas usam WhatsApp para identificar peixes contaminados por mercúrio

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Povos indígenas estão usando o WhatsApp para identificar a concentração de mercúrio em peixes do Rio Pixaxá. O trabalho é resultado de um projeto do Instituto Kabu em parceria com a empresa Unyleya Socioambiental, que faz o monitoramento da fauna aquática local para o povo Kayapó. 

No grupo do Whatsapp, intitulado “Monitoramento de Pesca”, dez monitores de povos indígenas trabalham em conjunto com um intérprete, três técnicos e um coordenador do Instituto Kabu. Esses monitores relatam as pescas do dia, volume, tamanho e espécies de peixes encontrados para que especialistas entendam mais sobre a situação do Rio, além de auxiliar habitantes locais. 

O projeto de monitoramento foi impulsionado pelos próprios Kayapós, que queriam entender mais sobre o impacto da mineração no ecossistema aquático local. Assim, o Instituto Kabu, criado em 2008 pela comunidade indígena, criou uma parceria com pesquisadores para que a população pudesse criar sua própria pesquisa. 

Peixes contaminados por mercúrio: ameaça ao ambiente e à saúde

Um estudo realizado em 2018 justificou as preocupações do povo Kayapó. A tese feita na Universidade Federal do Pará comprovou que alguns rios que fazem fronteira, ou são próximos ao Rio Pixaxá, possuem peixes com altas concentrações de mercúrio — que excedem os valores considerados seguros pela OMS e pela ANVISA. 

Para essas comunidades, até baixas concentrações de mercúrio podem ser perigosas, uma vez que dependem de espécies de peixes locais para a sua alimentação. O consumo constante da carne de animais contaminados do metal resultante da mineração faz com que a substância se acumule no organismo humano, podendo causar sérios problemas à saúde.

De acordo com a OMS, a exposição ao mercúrio pode causar distúrbios neurológicos e comportamentais, com sintomas que variam entre a dor de cabeça e a disfunção cognitiva e motora.

Portanto, com ajuda da Unyleya Socioambiental, os Kayapós selecionaram dois monitores de cada uma das cinco aldeias da parte sul do Rio Pixaxá para seguirem com o monitoramento. 

Os peixes coletados passam por um diagnóstico feito por técnicos da empresa, que passam as informações para as aldeias correspondentes. Resultados anteriores comprovaram a contaminação de 29 peixes de 10 espécies diferentes. 

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“Assim que vimos os resultados, passamos a comer menos certos tipos de peixe”, disse Bep Ojo Kaiapó, intérprete do estudo, em uma entrevista ao NPR. “Se houver algo que possamos fazer para evitar adoecer, faremos.”

Embora o projeto ajude os Kayapós de imediato, habitantes das aldeias esperam que as descobertas feitas pelo monitoramento do Rio Pixaxá inspire mudanças governamentais para uma melhor proteção da saúde e da terra local. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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