Rosa Diez Garcia propõe como alternativa a dieta climatarian, mas, segundo ela, para implementá-la é necessário repensar o atual sistema alimentar
Por Brenda Marchiori em Jornal da USP – As mudanças climáticas têm levantado discussões sobre nossos hábitos cotidianos e seus impactos no meio ambiente, incluindo a forma como nos alimentamos. E assim surgiu a dieta climatarian – conhecida também como planetária, cliamariana ou ainda dieta do Antropoceno (proposta em artigo publicado pela Lancet em 2019) – como alternativa para diminuir esses impactos. Mas, para implementá-la, é necessário repensar o atual sistema alimentar, avalia Rosa Diez Garcia, professora de Nutrição e Metabolismo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O que motiva a adoção desse tipo de alimentação não é o mesmo que ocorre “com outras dietas da moda”, conta Rosa. A climatarian se propõe a gerar menos carbono, atenuando as mudanças climáticas representadas por “aumento de temperatura, intensificação de catástrofes, aumento da desertificação, das pragas, do degelo e do nível do mar, e todas as consequências mudanças no ecossistema”, elenca a professora, alertando que são mudanças que “vão levar à escassez alimentar” e ao aumento da fome e da falta e encarecimento dos alimentos.
Rosa diz que vivemos “uma demanda emergente” para repensar o sistema alimentar, pois “já estamos tendo sinais dessas mudanças”. E, para isso, enfatiza que é necessário considerar as políticas públicas, já que “a dieta que nós temos adotado não é compatível com a nossa própria sobrevivência a médio e a longo prazo”. Exemplifica citando a criação de ruminantes, que ocupa 75% de toda terra agrícola e é responsável por 60% de toda a emissão de gases desse setor, com contribuição de apenas 36% das proteínas consumidas na alimentação humana.
Sustentável, saudável e socialmente justa
Esse tipo de alimentação não é algo novo, diz a professora, mas exige tomada de consciência e aquisição de conhecimento por parte da sociedade, principalmente das gerações mais novas, que podem ser as mais afetadas. “Só essa mudança muito drástica e de uma forma muito representativa vai poder atenuar as mudanças climáticas”, afirma.
Como proposta para o desincentivo da produção de alimentos que geram impactos negativos ao meio ambiente, Rosa aposta no aumento do “consumo de alimentos in natura, alimentos regionais e sazonais”. O que, segundo ela, leva a uma dieta mais saudável e de boa procedência com “produções ecológicas”.
Para a professora Rosa, os impactos da dieta na cadeia de produção alimentar devem ser pensados com o objetivo de “preservar e valorizar o cultivo responsável”. Deve-se levar em conta a responsabilidade social sobre o pequeno produtor, “de modo que a gente tenha uma sociedade mais equânime, mais justa e mais saudável e um planeta em que a gente possa viver”, conclui.
Como seguir a dieta climatarian
Para adotar a dieta climatarian, é preciso comprar “menos alimentos industrializados e embalados, comprar de pequenos produtores próximos da nossa localidade, isso implica menos gasto de combustível, alimentos da temporada, uma produção ecológica, como a agroflorestal, e outros tipos de produção que preservam o ambiente e a conservação do solo, consumir mais frutas, legumes e verduras e menos carnes”. A dieta do Antropoceno, por exemplo, propõe que sejam consumidas de 14 a 15 gramas de carne por dia.
Adotar formas de preparo que consumam menos energia, opção por alimentos crus, formas de cozimento que gastem menos combustível, por exemplo, panelas de pressão, não desperdiçar alimentos, ser mais racional na produção de alimentos, evitar o uso de plástico e optar por consumir materiais recicláveis são outras medidas que atenuam os impactos sobre o meio ambiente. Trata-se de uma série de atitudes que devem “ajudar a diminuir a produção de carbono”, lembra a professora.