Hashi: origem, tipos, costumes e sustentabilidade

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Hashi é o nome japonês dado aos “palitos” que servem como utensílio de cozinha em regiões da Ásia, como a China, Coreia, Japão e Tailândia. A palavra japonesa significa “ponte”, e surgiu no país como um amuleto que significava a conexão entre deuses e humanos. 

Durante o período Heian, os hashis eram vendidos pela cidade de Kyoto como um amuleto que afastava criaturas do mal. Eles foram colocados em altares de Shinto (uma religião japonesa) e na época eram acoplados um ao outro pela ponta, semelhante aos hashis de treino que existem hoje em dia. 

Com o tempo, o hashi acabou se tornando um utensílio de cozinha, utilizado principalmente na preparação de pratos e durante a refeição. Essa mudança aconteceu por volta do século X, porém, na China, a prática já era bem popular um pouco antes de 1200 a.C.

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Quais são os tipos de hashi?

Hashi na China 

Apesar do nome comumente usado no mundo ser hashi, esse utensílio tem outra denominação na China. Os chineses chamam os palitos de Kuázi (筷子), palavra formada por dois caracteres, uma palavra que faz referência aos termos “rápido” e “bambu”

A popularidade do kuázi se tornou grande entre os chineses devido ao filósofo Confúcio, que era vegetariano e defendia que o garfo e a faca remetiam a violência que os animais sofriam, e por isso não deveriam ser usados. Para Confúcio a mesa de jantar deveria ser um santuário de calma e contentamento.

Além disso, o hábito de se alimentar com o kuázi também ajudaria na prática do mindful eating, afinal é possível pegar apenas uma pequena quantidade de alimento com os palitos. Facilitando a alimentação devagar e contemplativa.

Os kuázi são a forma mais antiga que existe do utensílio, mas também se diferenciam pela aparência. Isso porque são maiores que os hashis, com pelo menos 28 centímetros, o que se dá pela tradição chinesa de dividir comida. Assim, é possível alcançar potes através da mesa e oferecer para a pessoa que lhe faz companhia na refeição.

Os primeiros hashis eram feitos de bronze, porém, atualmente eles podem ser feitos com vários materiais como: madeira, metal, alumínio, plástico, bambu e pedra jade. 

Hashi no Japão 

No Japão o tamanho normal de um hashi (箸) é de 20 cm, podendo ser de 18 cm para crianças. Não existe uma tradição de compartilhar alimentos no país como existe na China, e por isso a extensão do utensílio é reduzida, para ser algo mais individual.  

Devido ao fato de que o peixe é um alimento tradicional da cultura japonesa, os hashis costumam ser mais pontudos. Assim é possível fazer a remoção das espinhas e das escamas do animal. Além disso, a maioria dos produtos são feitos de madeira ou metal, como o titânio.

Hashi na Coreia 

Na Coreia do Sul o hashi é conhecido como sujeo (수저) , que significa uma mistura das palavras “palito” e “colher”. Eles são feitos de metal, como aço inoxidável ou prata, e podem ter entre 23 a 25 centímetros de comprimento. É comum que os coreanos usem o utensílio juntamente com uma colher, para comer o arroz

As extremidades são cônicas, e diferente do hashi, tem uma circunferência mais plana, que permite que sejam colocadas em uma superfície sem rolar. 

Hashis e costumes 

Existe uma etiqueta sobre o uso de hashis na maioria dos países que fazem o uso desse utensílio. É importante ter em mente que algumas características podem variar de acordo com a cultura da região. Entretanto, alguns costumes são quase universais e algo concordado entre diversas nações, como:

  • Não colocar os hashis na vertical na comida, pois remete aos incensos usados em funerais;
  • Evite usar hashis pessoais para pegar comida de pratos comuns;
  • Não comer diretamente dos pratos que estão servido o alimento, apenas pegue a comida e coloque no seu prato;
  • Evite enfiar o hashi na comida;
  • Enquanto estiver comendo coloque o hashi sobre o prato;
  • Não use o utensílio para apontar a outra pessoa;

Cozinhando com hashi 

Como já mencionado, o hashi serviu como utensílio para cozinhar por muito tempo antes de ser usado na mesa de jantar. Até os tempos atuais ele ainda é uma opção no preparo de diferentes receitas. No entanto é preciso saber escolher o material certo para essa prática:

  • Hashis de bambu costumam ser mais longos, mais propícios para a preparação de receitas, mas dependendo da qualidade eles podem deteriorar rápido com tempo (por serem biodegradáveis);
  • Os de metal podem ser lavados e armazenados por muito tempo, sem nenhum problema. Porém, eles conduzem calor com facilidade e não são adequados para a cozinha;
  • Os de plástico também duram mais tempo, mas devido ao material podem acabar derretendo em uma distração;
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Hashi, sustentabilidade e resíduos 

O descarte adequado de hashi pode ser uma dificuldade, principalmente com a grande produção de resíduos de restaurantes que oferecem hashis descartáveis. 

Ao mesmo tempo que a alternativa de plástico não é adequada, devido às problemáticas relacionadas ao material — como a dificuldade de reciclar — outras opções também tem seus problemas. 

ChopValue

O hashi de madeira é uma alternativa prática e biodegradável, isso significa que quando descartada no meio ambiente ela se degrada com facilidade. Engenheiro e pesquisador, Felix Böck da ChopValue, estima que cerca de 100 mil hashis de madeira vão parar no lixo de Vancouver (cidade onde sua empresa reside) todos os dias. Ele também estipula que em cidades da Ásia o número deve ser bem maior, pelo menos um milhão.

Mesmo sendo biodegradáveis, esses hashis de madeira descartáveis se acumulam em, gerando uma sobrecarga de resíduos que pode ser nociva para os aterros sanitários. Foi a partir desse entendimento que Böck criou a ChopValue, com intuito de reutilizar esses materiais para a produção de móveis e decorações.

O procedimento funciona da seguinte forma: o engenheiro faz a coleta dos hashis de madeira em restaurantes de Vancouver, e os leva para seu local de produção. Lá, ele prensa todos os palitos juntos, com a ajuda de uma chapa e solda, e então usa a madeira para suas criações.

É importante frisar que, apesar de importante, a iniciativa só resolve um dos problemas dessa produção: o resíduo. Além disso, existe a extração de madeira usada neste tipo de hashi, que pode resultar no desmatamento, se não houver responsabilidade ambiental por parte das empresas. Ainda mais considerando que a procura de madeira aumentou em 60% no mundo inteiro, nos últimos 50 anos, mais do que é sustentável para o planeta.

O uso de madeira reciclada ou de reflorestamento são alternativas para a sustentabilidade dessa produção. 

Hashi de alumínio  

Para evitar o descarte de milhares de hashis descartáveis toda a vez que você for em um restaurante asiático, é possível fazer o uso de palitos de alumínio reutilizáveis. Essa alternativa é benéfica devido à capacidade ilimitada de reciclagem desse tipo de material. 

Ou seja, você pode usá-lo por muito tempo, em casa ou na rua, e quando ele for descartado, pode ser reciclado diversas vezes — sem perder sua qualidade.

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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