Os hidrofluorcarbonetos (HFCs) são gases do efeito estufa fluorados artificiais que rapidamente se acumulam na atmosfera. Eles começaram a ser usados como substitutos dos CFCs para aparelhos de ar condicionado, refrigeração, retardadores de chamas, aerossóis e solventes. Apesar de representarem uma pequena fração dos atuais gases estufa, o impacto é particularmente forte no aquecimento atmosférico e, se não forem controlados, esses poluentes climáticos de vida curta poderão ser responsáveis por quase 20% da poluição climática até 2050.
O efeito estufa é um processo que faz com que o planeta se mantenha aquecido e, dessa forma, possibilita a existência de vida e não apenas de geleiras na Terra. Mas o grande perigo está na aceleração desse processo, provocado pela atividade humana. Atividades como o desmatamento de florestas e a emissão de gases de efeito estufa têm sido determinantes no desequilíbrio do balanço de energia do sistema atmosférico da Terra, gerando maior retenção de energia e o aquecimento global. O HFC faz parte do grupo de gases estufa liberados pela ação antrópica que aceleram o aumento na temperatura, embora seja usado para amenizar o impacto do CFC sobre a camada de ozônio.
Quando se trata de mudanças climáticas, o dióxido de carbono é o grande vilão da história. Mas a emissão de outros gases, como é o caso do clorofluorcaboneto (CFC), também é responsável por tal aceleramento, uma vez que contribui para a destruição da camada de ozônio. Por conta disso, em 16 de setembro de 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal – onde ficou acordado o banimento gradativo do CFC e sua substituição por outros gases que não agredissem a camada de ozônio.
A partir desse novo cenário, o mercado teve de se adaptar à nova realidade e buscar alternativas. Passou-se a usar os clorofluorcarbonetos (HCFCs), que, assim como o CFC, são usados para refrigeração (freezers de supermercado, geladeiras, frigoríficos, etc.) e são bem menos nocivos à camada de ozônio, porém ainda causam danos. Posteriormente, os HCFCs foram substituídos pelos hidrofluorcarbonetos, os HFCs, que são livres de cloro e por isso não prejudicam a camada de ozônio.
Porém, o que parecia ser uma solução acabou, com o tempo, mostrando limitações. Os gases HFC interagem com os outros gases de efeito estufa, contribuindo para o desequilíbrio do aquecimento global.
O lançamento dos hidrofluorcarbonetos na atmosfera ao longo da segunda metade do século XX foi um dos motivos do aumento desproporcional da temperatura da Terra (como atesta o vídeo ao fim da matéria). O potencial individual e coletivo dos HFCs para contribuir com mudanças climáticas na superfície terrestre pode ser conferido pela sua eficiência radioativa, força radioativa e/ou Potencial de Aquecimento Global (GWP, na sigla em inglês) – que é muito maior que o do dióxido de carbono.
Pesquisadores alertam que o aumento do uso do gás HFC pode complicar o problema em relação ao aquecimento global, gerando uma variedade de impactos potencialmente graves, como o derretimento de geleiras, elevação do nível dos mares e oceanos, prejuízo à agricultura, desertificação de áreas naturais, aumento de desastres naturais como furacões, tufões e ciclones, entre outros diversos entraves.
A expectativa é a de que, só nos Estados Unidos, o uso do HFC dobre até 2020 e triplique em 2030. Caso não haja mudanças na emissão desse gás, este será responsável por 20% das emissões globais de efeito estufa até a metade do século XXI. Isso significaria que a meta de limitar o aumento da temperatura na Terra 2°C acima dos índices do começo do século XX (como os cientistas recomendam) seria impossível de ser atingida.
Os gases HFC também podem influir na temperatura da estratosfera, atmosfera e troposfera, e são responsáveis por um aumento na temperatura da tropopausa tropical (camada intermediária entre estratosfera e a troposfera) de 0.4 Kelvin (K).
Se, por um lado, o buraco na camada de ozônio está diminuindo desde o Protocolo de Montreal, a temperatura do planeta tem aumentado descontroladamente nas últimas décadas por conta (entre outros fatores) da emissão dos chamados hidrocarbonetos halogenados (entre eles o CFC e o HFC).
Então, para erradicar este problema, foi fechado um acordo com quase 200 países em outubro de 2016, em Quigali, capital de Ruanda, que visa a eliminação progressiva dos hidrofluorocarbonos (HFC).
O calendário adotado prevê que um primeiro grupo de países, os chamados desenvolvidos, reduza sua produção e seu consumo de HFC em 10% antes do final de 2019 em relação aos níveis de 2011-2013, e 85% antes de 2036.
Um segundo grupo de países em vias de desenvolvimento, entre eles a China – o maior produtor mundial de HFC -, a África do Sul e o Brasil se comprometeram a iniciar sua transição em 2024. Deverão alcançar uma redução de 10% em relação aos níveis de 2020-2022 para 2029 e de 80% para 2045.
Um terceiro grupo de países em desenvolvimento, incluindo Índia, Paquistão, Irã e Iraque terá redução de 10% em relação ao período 2024-2026 em 2032 e de 85% em 2047.
Como os hidrofluorcarbonetos formam parte dos chamados poluentes climáticos de vida curta e permanecem na atmosfera por entre cinco e dez anos, especialistas acreditam que sua erradicação terá efeitos imediatos na redução do aquecimento global. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o acordo fechado em Quigali evitará um aumento global da temperatura até o final do século XXI de até 0,5°C.
Fica claro então que o gás HFC e outros gases que contribuem para o aquecimento global são motivo de preocupação, devendo-se equilibrar as necessidades humanas com a segurança ambiental.
Segundo Paula Tejón Carbajal, da ONG Greenpeace, o acordo de Quigali só terá êxito se a comunidade internacional optar por soluções de mudança que preservem o meio ambiente.
Um dos resultados desse acordo foi uma confirmação de certos países participantes de financiarem um compromisso para essa transição. Além disso, diversas empresas europeias substituíram o uso de HFC por hidrocarbonetos de baixo potencial estufa, em especial o ciclopentano e o isobutano.
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