Será que hidratar a pele pode ser perigoso?

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Os hidratantes podem ser definidos como produtos químicos que têm por objetivo aumentar o conteúdo de água da última camada da epiderme da pele, chamada de queratina ou estrato córneo. Essa definição da pesquisadora Christina Marino, da Washington State Department of Labor and Industries, aponta também que os hidratantes atuam por meio de ingredientes que podem ser agentes oclusivos e/ou umectantes, além de agentes emolientes. Não sabe o que essas palavras difíceis significam? A gente explica abaixo:

Basicamente, os agentes oclusivos são responsáveis por impedir que a pele perca água por evaporação. Esses agentes atuam formando uma camada extra na pele, como se fosse um filme de proteção. Alguns dos agentes oclusivos são: petrolatos (considerado o de maior eficiência), cera de abelha, a lanolina e óleos minerais.

Já os agentes umectantes atingem a camada de queratina da pele e são responsáveis por aumentar a capacidade de retenção de água. Os agentes umectantes mais comuns são: os aminoácidos, ureia, ácido lático, propileno glicol, glicerina e o butileno.

Os emolientes, de acordo com a New Zealand Dermatological Society Incorporated, têm por objetivo suavizar a pele e dar flexibilidade a ela. Eles são encontrados na forma de lipídios e alguns exemplos de emolientes são: o óleo de rícino, óleo de jojoba e a queratina.

Outro fato importante sobre os hidratantes é que os seus componentes podem ser classificados em ingredientes ativos ou ingredientes inativos/excipientes. Os ingredientes ativos são aqueles responsáveis por manter a água na pele (agentes umectantes), proteger a pele, formando uma camada de proteção (agentes oclusivos), e por manter a pele macia e lubrificada (emolientes).

Considerados como ingredientes inativos são aqueles que têm por função atuar na parte estética e de durabilidade do produto hidratante, como os emulsificantes, os conservantes, antioxidantes e fragrâncias.

Riscos para saúde e ambiente

Os hidratantes levam em sua fórmula diversos ingredientes, que podem variar de produto para produto. Mas existem alguns que podem ser considerados básicos, pois estão presentes na maioria deles. Abaixo, listamos alguns desses ingredientes e apontamos seus riscos para a saúde e o meio ambiente.

No grupo das substâncias de função oclusiva temos:

Óleo mineral (mineral oil)

De acordo com o Environmental Working Group (EWG), esse ingrediente, que é uma mistura de hidrocarbonetos, pode conter impurezas, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs – sigla em inglês). Os PAHs são considerados carcinogênicos tanto para os humanos quanto para outras espécies. Diversas pesquisas apontam que o óleo mineral também é carcinogênico e tumorigênico. O óleo mineral se apresenta na forma líquida em produtos cosméticos, como os hidratantes.

Existem produtos que apresentam a mesma denominação, mas são utilizados para lubrificação de motores. Esses produtos possuem diferentes composições entre si, porém não deixam de ser produtos derivados do petróleo.

O óleo mineral apresenta toxicidade para organismos, sendo que as principais áreas atingidas são os olhos, a pele e o sistema respiratório. Em caso de produtos utilizados na forma de aerossol, o óleo mineral é possivelmente tóxico para o sistema imunológico humano. É conhecido que, quando em contato com a pele, ele ocasiona a obstrução dos poros, aumentando as chances de surgimento de acne. Segundo a Environment Canada Domestic Substance List, o óleo mineral é classificado como possivelmente perigoso e tóxico. Existem estudos que apontam a relação direta entre exposição ao ingrediente e o aparecimento de câncer, porém as evidências ainda são limitadas para se confirmar essa relação. Além de produtos cosméticos, o óleo mineral também é utilizado em itens alimentícios, tendo a sua quantidade limitada.

Nos rótulos de produtos hidratantes, o óleo mineral pode aparecer com outros nomes, como: light mineral oil, heavy mineral oil, deobase, liquid paraffin, liquid petrolatum, paraffin oil e petroleum.

Lecitina (lecithin)

Considerado um lipídio que pode ser encontrado tanto em animais como em vegetais, a lecitina oferece um grau de preocupação alto, de acordo com o EWG, por apresentar absorção avançada na pele e também por ter várias fontes de exposição, pois é possível encontrar a lecitina na comida também. Para produtos em aerossol, foram detectados efeitos nos sistemas imunológico e respiratório humano.

Sabe-se do modo avançado que a lecitina é absorvida pela pele, porém existe uma grande lacuna de dados sobre os seus efeitos. Sobre isso, a Food and Drug Administration (FDA/EUA – órgão americano que fiscaliza e autoriza o comércio de alimentos e cosméticos) recomenda, em relatório, que a concentração da lecitina em produtos não seja maior que 15%, destacando que a falta de dados atualmente é insuficiente para garantir a segurança do uso do lipídio em cosméticos. Além disso, o órgão ressalta que a lecitina não deve ser usada em produtos cosméticos, pois pode haver a formação de N-nitroso e é perigoso inalar Lecitina e N-nitroso.

Nos rótulos de produtos hidratantes, a lecitina pode aparecer com outros nomes, como: egg yolk lecithin e glycine soja lecithin. Além dos hidratantes, a lecitina pode ser encontrada também em sabonetes, xampus, cremes para os olhos e batons.

Colesterol (cholesterol)

Composto orgânico encontrado em todos os tecidos conjuntivos de animais, também está presente nos cosméticos, atuando como oclusivo ou como emulsificante. Segundo pesquisa publicada no Journal of the American College of Toxicology, a principal reação do contato do colesterol com a pele é a irritação – como o ingrediente é encontrado em produtos para pele, cabelos, olhos e em maquiagens, a fonte de exposição por meio da pele é facilitada. De acordo com essa pesquisa, a concentração de colesterol nesses produtos cosméticos não excede a 5%, porém, nos testes realizados foi utilizada uma concentração muito menor que 5% e ainda assim foi identificada irritação na pele.

O colesterol pode ser prejudicial ao meio ambiente, pois ele tem a capacidade de se bioacumular e ser persistente no ambiente, ou seja, não se degrada ou, em alguns casos, a sua degradação pode demandar um longo período de tempo. De acordo com o EWG, alternativas ao uso do colesterol em produtos cosméticos podem basear-se na utilização de álcoois complexos sólidos provindos de fontes vegetais.

Nos rótulos de produtos hidratantes, o colesterol pode aparecer com outros nomes, como: cholesterin, provitamin D e cholesteryl alcohol.

No grupo das substâncias de função emoliente temos:

Ciclometicone (Cyclomethicone)

Segundo pesquisadores do Scientific Committee on Consumer Safety, o ingrediente é considerado o nome genérico de um conjunto de compostos cyclic dimethyl polysiloxane e utilizado em produtos de cuidados com os cabelos, pele e em desodorantes e antitranspirantes. Além da função emoliente, esse ingrediente também é utilizado em cosméticos com a função umectante, solvente e para controle de viscosidade. Muitas vezes o seu emprego está ligado à presença do silicone, sendo que o ciclometicone também é utilizado em implantes de seios de silicone.

A sua concentração em diversos produtos pode variar de 0.1% a 54%. Os produtos cosméticos que possuem a maior concentração de ciclometicone são os destinados aos cuidados com os cabelos (exceto tinturas) e desodorantes/antitranspirantes. De acordo com pesquisas e testes realizados, o ingrediente pode causar irritação de pele e olhos. E o resultado mais alarmante é que para uma exposição crônica ao ciclometicone, as chances de apresentar câncer aumentam drasticamente. Em testes realizados, após exposição por 2 anos ao ciclometicone, animais apresentaram tumores, e os efeitos carcinogênicos aumentaram significativamente para altas concentrações (160 ppm).

Nos rótulos de produtos hidratantes, o ciclometicone pode aparecer com outros nomes, como: decamethyl, dow corning 344 ou 345 e dimethylsiloxane.

Conservantes

Uma atenção maior também deve ser dada para a presença de conservantes nos hidratantes. Os conservantes, de acordo com o Official Journal of the European Union, são substâncias utilizadas somente para impedir o crescimento de microrganismos no produto. Nos rótulos, os conservantes são encontrados com a terminologia parabeno (em inglês: paraben, methlylparaben, propylparaben, butylparaben, ehtylparaben, entre outros). Outro conservante que merece atenção é o 4-hydroxbenzoic acid. A absorção desses conservantes pela pele é fator que eleva as possibilidades de aparecimento de vários tipos de cânceres, como o câncer de mama.

Atenção aos rótulos!

As informações sobre os ingredientes que compõem os produtos hidratantes ou outros cosméticos devem estar obrigatoriamente presentes no rótulo. Procure olhar sempre a composição dos cosméticos que você está comprando. E se assim for possível, dê preferência para produtos que não contenham os ingredientes acima listados. Se tiver fácil acesso a produtos naturais, que não contêm compostos tóxicos, opte por comprá-los em vez de investir em itens cheios de ingredientes tóxicos à saúde.

No caso dos hidratantes, como visto anteriormente, o seu principal objetivo é evitar a perda de líquido e adicionar água à pele para que ela fique hidratada. Desse modo, escolha produtos hidratantes que contenham a água como principal ingrediente. Infelizmente, nem todos os produtos listam os ingredientes em ordem decrescente em termos de quantidade na composição do item, ou seja, se o primeiro ingrediente listado no rótulo for água, não significa necessariamente que a água é o ingrediente em maior quantidade no produto. De qualquer forma, mesmo com a pouca informação, tente pesquisar na internet (site do fabricante pode ser uma boa) para se certificar sobre estar adquirindo um produto confiável.

Para cosméticos à base de óleo, prefira produtos que contenham óleos vegetais, ao invés dos óleos minerais, em sua composição.

Saiba mais sobre como ler rótulos de cosméticos, assistindo ao vídeo (em inglês) produzido pelo EWG:

Equipe eCycle

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