Ideia de “lobo alfa” dominador é um mito, afirma pesquisa

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Uma pesquisa realizada na United States Geological Survey alerta para o fato de que a ideia culturalmente difundida de “lobo alfa” agressivo e dominador é um equívoco. À revista Scientific American, o cientista sênior que liderou o estudo, L. David Mech, afirma que o lobo é um colaborador na matilha. Quando a comida é escassa, por exemplo, ele deixa de comer para alimentar os filhotes, assim como faz a fêmea.  

Muitos biólogos especializados em animais selvagens já utilizaram os termos “alfa” e “beta” para descrever a hierarquia em matilhas de lobos, mas, segundo Mech, eles abandonaram esses termos justamente porque eles não representam a realidade comportamental desses animais. 

De acordo com o pesquisador, essas terminologias surgiram em meados do século XX a partir de pesquisas feitas em matilhas de lobos colocados em cativeiro. O problema metodológico é que matilhas em cativeiro não são nada parecidas com as selvagens. 

Ao manter os lobos em cativeiro, os humanos juntam animais adultos sem parentesco compartilhado. Nesses casos, surge uma hierarquia de domínio, diz Mech, mas é o equivalente animal do que pode acontecer em uma prisão humana, não a maneira como os lobos se comportam quando estão livres.

O cientista explica que as matilhas de lobos selvagens são compostas por um macho reprodutor, uma fêmea reprodutora e seus filhotes dos últimos dois ou três anos que ainda não se estabeleceram por conta própria.

No final dos anos 1980 e 1990, Mech observou um bando todos os anos na Ilha Ellesmere, no nordeste do Canadá. Seu estudo, publicado em 1999 no Canadian Journal of Zoology, foi uma das primeiras pesquisas de vários anos, e revelou que, em vez de se engajarem em duelos sangrentos, os lobos são cuidadosos uns com os outros. 

Os filhotes mais novos se submetem aos irmãos mais velhos, e todos se submetem ao pai e à mãe. Entretanto, quando a comida é escassa, os pais alimentam os filhotes primeiro. 

A luta interna pelo domínio é inédita em uma matilha típica. Quando os filhotes têm dois a três anos de idade, eles saem da matilha em busca de parceiros, com o objetivo de formar sua própria matilha. A noção do lobo alfa de desafiar o pai pelo domínio da matilha existente simplesmente não está no manual do lobo, afirma Mech. 

Na verdade, mesmo o conflito familiar é raro, explica o pesquisador. “Digamos que [um] par tem alguns lobos de um ano que ainda não se dispersaram. Os adultos vão manter os filhotes mais velhos longe da carcaça enquanto alimentam os filhotes mais novos”, diz ele. “Esses são lugares onde pode haver competição e, às vezes, conflito, mas é um piscar de olhos ou dois.”

Mech usou a nomenclatura do lobo alfa em um livro clássico de biologia do lobo, The Wolf: Ecology and Behavior of an Endangered Species, publicado em 1970. Mas ele fez questão de evitar o uso do termo à medida que novas pesquisas surgiram. 

Depois de um esforço de anos, ele finalmente conseguiu que The Wolf fosse retirado de circulação em 2022, diz ele. O livro de 2003 Lobos: Comportamento, Ecologia e Conservação, que ele co-editou com o zoólogo Luigi Boitani, agora é muito mais preciso e atualizado, diz ele.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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