Imóveis desocupados emitem grandes quantidades de gases-estufa, revela pesquisa

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A expansão econômica acelerada da China nas últimas décadas trouxe consigo um problema ambiental pouco discutido: milhões de residências urbanas desocupadas que emitem quantidades significativas de carbono. Pesquisadores da Universidade Tsinghua, na China, identificaram que essas unidades habitacionais vazias são responsáveis por liberar milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para o agravamento das mudanças climáticas. O estudo, publicado na revista Nature Communications, alerta para a necessidade de políticas públicas e estratégias que mitiguem os impactos ambientais desse fenômeno.

A construção desenfreada de imóveis nas cidades chinesas foi impulsionada pela migração em massa de trabalhadores rurais para áreas urbanas, em busca de melhores oportunidades de emprego. No entanto, o setor imobiliário superestimou a demanda por moradias, resultando em taxas de ocupação extremamente baixas. Dados coletados pelos pesquisadores indicam que, entre 2001 e 2018, cerca de 17,4% das novas unidades residenciais construídas permaneceram desocupadas. Em 2021, estimativas apontavam que entre 20 e 65 milhões de imóveis estavam sem uso, número que pode ter aumentado desde então.

O impacto ambiental dessas residências vazias é duplo. Primeiro, há as emissões geradas durante a construção, devido ao uso intensivo de materiais como aço e cimento, que emitem centenas de quilos de dióxido de carbono por metro quadrado. Segundo, mesmo desocupadas, essas unidades continuam a consumir energia para sistemas de aquecimento e refrigeração centralizados, comuns em edifícios residenciais. Esse consumo desnecessário resulta em um desperdício energético considerável e em emissões adicionais de carbono.

Os pesquisadores calcularam que, apenas em 2020 e 2021, as residências desocupadas foram responsáveis pela emissão de 55,81 milhões de toneladas de carbono, o equivalente a 6,9% do total de emissões residenciais do país. Esse cenário coloca em xeque as políticas de desenvolvimento urbano e exige uma revisão urgente das práticas do setor imobiliário.

Para enfrentar o problema, os especialistas sugerem a adoção de medidas como a reutilização desses imóveis para outros fins, como habitação social ou espaços comerciais, além da implementação de tecnologias que reduzam o consumo energético em edifícios. A transição para materiais de construção mais sustentáveis também é apontada como uma solução viável para diminuir o impacto ambiental.

O estudo serve como um alerta para outros países que enfrentam desafios semelhantes em seus processos de urbanização. A China, como uma das maiores economias do mundo, tem a oportunidade de liderar mudanças significativas no setor imobiliário, promovendo práticas mais sustentáveis e reduzindo sua pegada de carbono. Enquanto isso, a questão das residências desocupadas permanece como um exemplo claro de como o planejamento urbano mal executado pode ter consequências ambientais graves e duradouras.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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