Plástico se fragmenta virando microplástico e causa uma série de prejuízos ambientais ao entrar na cadeia alimentar
O impacto ambiental do lixo plástico no oceano e, consequentemente, na cadeia alimentar, se tornou uma verdadeira preocupação ambiental para governos, cientistas, ONGs e pessoas comuns do mundo inteiro.
Um estudo realizado durante seis anos pelo 5 Gyres Institute estimou que há cerca de 5,25 trilhões de partículas de plástico flutuando no oceano, o que é equivalente a 269 mil toneladas de plástico.
E o pior é que parte de todo esse plástico – no formato de microplástico e nanoplástico – acaba entrando na cadeia alimentar e prejudicando diversos organismos, inclusive humanos
O mais alarmante é que, uma vez no ambiente, os microplásticos absorvem substâncias químicas perigosas e são ingeridos por organismos marinhos, penetrando em toda a cadeia alimentar, inclusive a terrestre. Além de absorverem substâncias químicas perigosas persistentes e bioacumulativas, em muitos casos o próprio microplástico é feito de materiais perigosos para os organismos, como no caso de plásticos que contém bisfenóis.
Plástico na cadeia alimentar
Diferentes tipos de plástico marinho acabam em partes diferentes da cadeia alimentar. Sacolas de plástico, por exemplo, se parecem com águas-vivas e são consumidas pelas tartarugas.
Alarming instant an arrow worm eats a microfiber and plastic enters the ocean’s plankton food chain. As seen on BBC https://t.co/gJVxWzxZjI. pic.twitter.com/G14xKf4zRm— Dr Richard Kirby (@PlanktonPundit) 13 de março de 2017
O lixo plástico pode viajar por longas distâncias. Um estudo mostrou que o microplástico presente no gelo Ártico percorreu quase mil quilômetros de uma praia da Noruega até chegar no gelo.
Anna Marie Cook, uma das cientistas líderes da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, acredita que as estimativas sobre a quantidade de plástico existente no oceano são subestimadas. Isso porque as estimativas são feitas com o uso de redes de arrasto de plástico da superfície do mar. Não são contabilizados os plásticos que afundam, o que faz com que o alcance do problema do microplástico na cadeia alimentar seja subestimado: “Um pouco mais de metade de todo o plástico afunda, seja no ambiente de sedimentos perto da costa ou no fundo do oceano”, explica Marie Cook.
Um estudo apontou evidências da quantidade de plástico no fundo dos oceanos. Cientistas do Germany’s Senckenberg Research Institute and Natural History Museum foram para a fossa Kuril-Kamchatka no noroeste do Oceano Pacífico coletar amostras de sedimentos de diferentes profundidades, 5.143 m, 6.065 m , 7.138 m e 8.255 m.
A equipe encontrou 15 tipos diferentes de plásticos nessas amostras de sedimentos, inclusive alguns que são usados em embalagens, como polietileno e polipropileno. Aparentemente, uma quantidade significativamente maior de microplásticos se acumula nas regiões mais profundas, fazendo com que as trincheiras oceânicas funcionem como verdadeiras armadilhas de plástico. Isso também significa que a base da cadeia alimentar está sendo amplamente afetada, já que muitos invertebrados se alimentam de sedimentos, incluindo as partículas microplásticas.
O plástico está presente em todo o planeta. E o futuro não nos reserva boas notícias, já que a produção mundial de plástico cresce constantemente há mais de meio século, passando de aproximadamente 1,9 toneladas em 1950 para cerca de 330 milhões de toneladas em 2013. O Banco Mundial estima que 1,4 bilhões de toneladas de lixo são geradas globalmente a cada ano e, desse total, 10% é plástico. A Organização Marítima Internacional proibiu o despejo de resíduos de plástico (e da maioria dos outros lixos) no mar. No entanto, mesmo que seja descartado corretamente, uma parte do plástico que deveria ser depositado em aterros, incinerado ou reciclado escapa para o meio ambiente – e uma fração considerável desse plástico que escapa acaba no oceano.
Com os efeitos da exposição solar, da oxidação, da ação física de animais e ondas e dos choques mecânicos, o plástico que chega no oceano ou no ambiente terrestre vai gradualmente se fragmentando e se transformando em microplástico.
Mas a fragmentação de grandes peças de plástico não é a única maneira de os microplásticos acabarem no oceano. Nurdles – pastilhas de plástico utilizadas como matéria-prima para a produção de produtos plásticos – podem cair de navios ou caminhões e acabar no ambiente terrestre ou no oceano.
Microesferas utilizadas como esfoliantes em produtos de higiene pessoal, como produtos de limpeza para a pele, pastas de dentes e xampus, podem escapar da água das instalações de tratamento de água e parar no mar.
Até mesmo a lavagem de roupas feitas de tecidos de fibras plásticas pode ser fonte de microplástico para o oceano.
O atrito dos pneus dos carros com o asfalto e a lavagem da rua pela chuva também carrega microplástico para o mar. Entenda mais sobre esse tema na matéria: “Plástico nos oceanos: qual sua origem?“
Os organismos marinhos da cadeia alimentar consomem plásticos de vários tamanhos. Os menores – microplásticos – são pequenos o suficiente para serem confundidos com alimentos pelo zooplâncton. E essa é uma das vias de entrada do plástico na cadeia alimentar. Alguns organismos maiores confundem os nurdles (que normalmente medem menos de 5 mm de diâmetro) com ovos de peixe ou outras fontes de alimento.
Testes laboratoriais mostram que os aditivos químicos, poluentes e metais absorvidos na superfície do plástico ingerido podem desossar e se transferir para as tripas e os tecidos dos organismos marinhos.
Entretanto, no caso dos humanos, o plástico não prejudica o organismo somente pela sua entrada na cadeia alimentar, mas também pela transferência de substâncias perigosas de embalagens para os alimentos, esse é o caso do plástico feito a partir do bisfenol.
Uma pesquisa mostrou que substâncias nocivas e persistentes podem se bioacumular (aumentar a concentração no organismo) e biomagnificar (aumentar a concentração em níveis tróficos mais elevados) nos organismos.
O número de espécies consumindo plásticos é crescente. Ecologistas da Stanford University’s Hopkins Marine Station revisaram 129 estudos em 171.774 indivíduos de 555 espécies de peixes marinhos. Das espécies, 210 que são capturadas comercialmente comem plástico. Ao investigar as espécies mais vulneráveis à ingestão, os pesquisadores notaram que os peixes em níveis mais altos da cadeia foram os que mais consumiram.
Os peixes comercializados, por sua vez, chegam à alimentação de bilhões de seres humanos. Um estudo publicado na revista Environmental Science and Technology aponta que os humanos já consomem de 39 mil a 52 mil partículas de microplástico por ano. E já há evidências dos riscos que isso pode causar, tais como piorar a asma, inflamar o sistema imunológico, danificar os órgãos internos e chegar até às placentas de mulheres grávidas.
Danos causados pelo plástico à cadeia alimentar
O pesquisador Mark Browne, da Universidade da Califórnia, mostrou que os microplásticos com tamanho de 3,0 e 9,6 μm de diâmetro podem parar no intestino de mexilhões e permanecer ali por mais de 48 dias. Um estudo de 2012, realizado por outro grupo, mostrou que os microplásticos absorvidos pelos mexilhões resultaram em uma forte resposta inflamatória.
A ecologista Heather Leslie, da Universidade Livre de Amsterdã, afirma que partículas de plástico podem induzir respostas imunotoxicológicas, alterar a expressão gênica (aumento do risco de câncer) e causar morte celular, entre outros efeitos adversos. “Os microplásticos podem passar pela placenta e pela barreira hematoencefálica e podem ser absorvidos no trato gastrointestinal e nos pulmões, locais onde os danos podem ocorrer”, diz ela.
Mas, como afirmam alguns cientistas, não se sabe com segurança todo o potencial de danos que plástico podem causar na cadeia alimentar, sendo necessário realizar mais estudos e aumentar a visibilidade da questão.
O que fazer?
Para reduzir o lixo plástico na cadeia alimentar, o primeiro passo é praticar o consumo consciente, ou seja, repensar e reduzir o seu consumo. Já pensou em quantos supérfluos utilizamos no dia a dia que poderiam ser evitados?
Por outro lado, quando não for possível evitar o consumo, a saída é optar pelo consumo o mais sustentável possível e pela reutilização e/ou reciclagem. Mas nem tudo é reutilizável ou reciclável. Nesse caso, realize o descarte corretamente. Confira quais são os postos de coleta mais próximos de sua casa nos mecanismos de busca do Portal eCycle.
Mas lembre-se: mesmo com o descarte correto é possível que o plástico escape para o ambiente, então consuma com consciência.
Para saber como reduzir o seu consumo de plásticos, dê uma olhada na matéria: “Como reduzir o lixo plástico no mundo? Confira dicas indispensáveis“.
Para saber como consumir de maneira mais sustentável, veja a matéria: “O que é consumo sustentável?“. Deixe sua pegada mais leve.