Desde os primórdios, os seres humanos utilizam peles de animais para se manterem aquecidos e se protegerem do frio. Com o passar dos séculos, hábitos culturais tornaram as roupas itens essenciais do dia a dia, representando status e poder, para além do “valor de uso”. Os materiais utilizados na confecção das vestimentas mudaram com a evolução da tecnologia e da industria têxtil, mas mesmo itens simples e básicos como uma camiseta de algodão causam impactos ambientais.
O couro ainda está presente, mas em menor escala – um dos fatores é a conscientização sobre impactos causados ao meio ambiente para sua confecção (saiba mais sobre os impactos ambientais da indústria do couro). O algodão é bem comum em diversas peças de roupas e acessórios pela facilidade com que é encontrado e pela maleabilidade e sensação de conforto que o tecido proporciona, mas você sabe quais são os impactos ambientais de uma camisa de algodão e quais as pegadas que sua produção deixa?
Pegada é a marca que os pés de pessoas ou animais deixam no chão após a caminhada por determinada trilha. A pegada ecológica, a pegada hídrica e a pegada de carbono seguem a mesma lógica – elas são as marcas deixadas no meio ambiente pela exploração de recursos naturais e representam, respectivamente, as quantidades de solo, água e emissões de carbono equivalente necessárias para os processos de fabricação de bens de consumo, produtos e serviços. Conhecendo essas pegadas, podemos calcular se a biocapacidade está em harmonia com o nosso consumo de recursos naturais, podendo evitar a sobrecarga da Terra, mais conhecida como overshoot.
O cultivo de algodão é a parte mais intensiva, que usa a maior quantidade de recursos naturais entre todos os processos de produção de uma camiseta, pois é necessária uma área muito grande para que sejam alocadas as sementes da planta, ocupando um local que poderia ser destinado a florestas ou a cultivos mistos, atribuindo maior valor ambiental à plantação. Além disso, para que as sementes cresçam, é necessário que sejam muito irrigadas. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em média, são utilizados mais de 9.900 litros de água para uma monocultura de algodão genérica que produza aproximadamente uma tonelada de algodão bruto.
Analisando a pegada hídrica da cultura do algodão mundial, vemos que ela representa 3% de toda água utilizada na agricultura. Contabilizando todo o solo e toda a água empregados desde o cultivo de algodão, branqueamento, tingimento, impressão do tecido e confecção do vestuário, a pegada ambiental terá uma marca de 4,2 m² no solo e a pegada hídrica deixará um rastro de consumo de 3900 litros de água para a fabricação de apenas uma camiseta de algodão.
Alem do consumo excessivo de água azul e de água verde (que são as águas subterrâneas, águas doce de rios e lagos e água de chuva), a água cinza (aquela necessária para diluir todos os poluentes produzidos) também possui um valor bastante significativo de aproximadamente 20% na pegada da camiseta de algodão. Isso se dá pelo uso de fertilizantes e pesticidas que lixiviam nitrogênio para águas subterrâneas; e pelos processos de branqueamento, tintura e impressão do tecido, que lidam com muitos poluentes. Por incrível que pareça, ainda existem indústrias que não realizam tratamento de seus efluentes, poluindo mais as águas de rios e lagos e aumentando a pegada de água cinza dos processos relacionados.
Antes do tingimento, o algodão passa pelo branqueamento e, dependendo dos produtos químicos utilizados nesse processo, pode ocorrer a produção de dioxinas, que são altamente poluentes e provavelmente cancerígenas, conhecidos por provocar problemas reprodutivos e de desenvolvimento. As tinturas coloridas normalmente são fixadas ao tecido por meio de compostos que incluem metais pesados, como o mercúrio, chumbo, cadmio. Estes poluentes são facilmente encontrados em águas residuais de fabricas têxteis que, em algumas partes do mundo, podem ser lançadas diretamente nos rios e lagos sem o tratamento prévio – e mesmo quando são utilizados sistemas de tratamento estes compostos são de difícil remoção, às vezes permanecendo em pequenas quantidades na água, o que representa forte ameaça para a biodiversidade e para a potabilidade das águas.
Os maiores produtores de algodão do mundo são Estados Unidos, Índia e China, e os maiores exportadores são Estados Unidos, Índia e Uzbequistão.
O Uzbequistão, país localizado na Ásia Central, teve grande destaque mundial devido ao impacto negativo que produtores de algodão exerceram ao meio ambiente, mais precisamente no Mar de Aral. Para satisfazer a irrigação de suas culturas de algodão na região, foram instalados sistemas que captavam água dos principais rios que alimentavam o Mar de Aral, provocando uma diminuição drástica em seu volume, que chegou ter apenas 10% do que costumava. Essa redução no nível do mar causou fortes mudanças climáticas, aumento da concentração dos poluentes na água (diminuindo sua potabilidade), crise nas indústrias de pesca local, entre outros impactos ambientais negativos.
As imagens de satélite abaixo apresentam o Mar de Aral em dois períodos diferentes. A da esquerda foi capturada em 1989 e da direita é de 2008. Podemos notar a significativa redução de volume do corpo hídrico mais importante da região:
Para reduzir as pegadas deixadas no meio ambiente é essencial que se tenha uma conscientização dos impactos causados pelos produtos consumidos no dia a dia. Assim, é possível optar por aqueles menos agressivos, que requerem menos recursos naturais para a sua fabricação.
No caso da camiseta de algodão, existem fabricantes que expressam em sua etiquetas a pegada de carbono necessária em seu processo de fabricação, oferecendo a possibilidade de escolha por um produto menos impactante. Existem também camisetas feitas de algodão orgânico, que causam um menor impacto ambiental sobre o planeta. Confira aqui algumas camisetas com baixa pegada ambiental. Você também pode reutilizar camisetas velhas para fazer sacolas ecológicas. Reduzindo o consumismo e praticando o consumo consciente você também diminui a sua pegada. Para começar, que tal fazer compras em brechó? Evite os impactos ambientais da indústria de fast fashion e adote o slow fashion.
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