Por Simone Lemos em Jornal da USP | Todos sabemos que o oceano é rico em uma imensa biodiversidade marinha, mas não é só isso. Ele também oferece uma grande diversidade de minerais em suas profundezas, que já estão sendo garimpados. Esse tipo de trabalho tem um alto custo e muitos riscos. Atualmente, não há mineração em escala comercial no mar e não existe uma técnica específica de mineração marinha, destaca Luigi Jovane, professor associado do Instituto Oceanográfico (IO) da USP.
“Algumas empresas construíram alguns equipamentos e tiveram projeto de pesquisa para estudar técnicas de exploração, mas novas máquinas estão ainda sendo desenvolvidas para otimizar a eficiência e minimizar os impactos causados por plumas em mobilização de sedimento no fundo do mar, que são os maiores riscos. Veículos submarinos operados remotamente podem ser utilizados para localizar os principais locais de extração e coleta no fundo do mar”, diz ele. Empresas, em sua maioria, asiáticas, chinesas e japonesas, estão desenvolvendo os projetos para coletar nódulos polimetálicos com bombas hidráulicas, sistema de mangueiras que levam os materiais extraídos para embarcações ou plataformas na superfície.
A lama vulcânica, as crostas de ferro manganês, os nódulos polimetálicos e os depósitos de sulfeto polimetálico podem ser explorados para extrair elementos e-tech, ou seja, elementos críticos e essenciais para as tecnologias modernas. As fumarolas hidrotermais são ricas em cobre, ouro, chumbo, prata e outros metais preciosos. Além disso, fosforitos, grânulos carbonáceos, lithothamnium e outros tipos de algas marinhas são usados para fertilizantes, suplementos para animais, entre muitos outros usos.
Segundo o professor Jovane, essas amostras são transportadas para o processamento, que pode ser feito diretamente no navio ou com técnicas mais complexas em fases de metalurgia. “Existem vários métodos para cada um desses materiais para coleta. As máquinas que são usadas fundamentalmente são um tipo de draga com um sistema de aspiração, mas existem também outros tipos de técnicas como ultrassom, martelos pneumáticos, que conseguem desagregar e fragmentar as rochas para depois serem levadas à superfície”. O componente da pluma é muito importante porque pode elevar a toxicidade e gerar uma grande quantidade de material em suspensão, que pode ser levado pelas correntes. Isso pode mudar muitas características físicas e químicas da água para grandíssimas distâncias e pode ter impactos que hoje não são conhecidos.
A extração não utiliza materiais tóxicos diretamente para a mineração, mas outros trabalhos trazem riscos. O professor explica que, para a parte de metalurgia, a extração das terras raras e metais das crostas, dos nódulos, é necessária uma grande quantidade de energia e de produtos químicos que são altamente tóxicos e poluentes.
Há falta de estudos sobre os efeitos ambientais da mineração de longo prazo em alto-mar. Os impactos mais diretos nos locais de mineração são a destruição das formas naturais do solo e da vida marinha (micro e macrofauna), a compactação do fundo do mar e a criação de plumas de sedimentos que perturbam a vida aquática. O material liberado pode percorrer grandes distâncias. Ele pode sair, por exemplo, do Atlântico Sul e chegar até a Irlanda, o mar do Norte na Europa e ter um impacto gigantesco sobre o clima, a pesca, sobre as condições da água em outro lugar do mundo, porque todas as correntes são interligadas. Além disso, os impactos criam também a poluição sonora, luminosa, efeitos eletromagnéticos ou interrupção de suprimento de larvas, contaminação e alteração do fluxo de fluidos.
Vários impactos ambientais sobre as espécies podem ser detalhados, como o distúrbio na diversidade ecológica. As espécies mais tolerantes sobreviverão, enquanto as menos tolerantes poderão ser extintas. O distúrbio no suprimento de larvas causará o declínio de certas espécies. Mais importante ainda: o habitat dos organismos bentônicos (micro ou macro) poderia ser destruído, pois seu substrato seria extraído. As fumarolas hidrotermais contêm um habitat próspero, a menos que não sejam realizados estudos e pesquisas cuidadosos antes da mineração.
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, International Seabed Authority), organização internacional estabelecida de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, decide a quem (país ou empresa) e sob quais condições o contrato de exploração deve ser concedido. Os contratos de licença de exploração da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos são bem explicados e seu objetivo é estudar todos os aspectos da mineração em mar profundo, com foco especial nos impactos ambientais. Até o momento, não há contratos de exploração (comerciais) concedidos pela ISA.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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