Um estudo recente revelou a complexidade da interseção entre as identidades indígena e LGBTQIA+ na Austrália. A pesquisa, uma das primeiras do mundo a explorar o assunto, foi conduzida por pesquisadores indígenas LGBTQIA+ e liderada pelo Centro de Educação e Pesquisa Indígena da Universidade Edith Cowan, em Perth, na Austrália Ocidental.
Como parte do projeto Breaking the Silence, a equipe produziu dois relatórios, com dados obtidos a partir de consultas a profissionais de saúde, sessões de grupos focais de serviços de saúde e 63 pessoas indígenas que também se reconhecem como LGBTQIA+.
As análises revelam que esses indivíduos enfrentam preconceitos internos e sentem que falta acolhimento de ambas as comunidades. Embora os resultados preocupem, os relatórios fornecem insights e recomendações valiosas para o setor de saúde, educação e serviços comunitários no suporte às pessoas LGBTQIA+ indígenas.
A pesquisa também mostrou que, apesar do preconceito, o “orgulho de ser quem é” permanece. Fazer parte de dois grupos socialmente discriminados coloca indígenas LGBTQIA+ em uma posição única, permitindo-lhes desafiar conceitos equivocados sobre sexualidade e identidade de gênero dentro de suas comunidades indígenas, e vice-versa.
Além disso, a maioria dos participantes da pesquisa garante que apoiar pessoas mais jovens que ainda estão aprendendo a lidar com essas interseções pode ser muito gratificante. Entretanto, tamanha responsabilidade também acarreta uma série de complicações.
O sentimento de invisibilidade e marginalização dentro das próprias comunidades, para além da sociedade em geral, parece ser comum entre pessoas indígenas LGBTQIA+. Apesar dos esforços de coletivos, grupos de ativistas, governos e mídia no combate a preconceitos, heterossexismo e racismo ainda são experiências recorrentes na vida desses indivíduos – e encontram terreno ainda mais fértil quando as identidades se sobrepõem. Confira alguns dados de destaque divulgados na pesquisa:
O foco principal desta pesquisa foi o acesso dos indígenas LGBTQIA+ australianos a uma variedade de serviços sociais, de saúde e educação.
Os participantes enfatizaram a importância de amigos, famílias, grupos de pesquisa e serviços de aconselhamento no fornecimento de atendimento responsivo e apoio em momentos de necessidade. Eles também destacaram níveis significativos de confiança nas organizações de saúde controladas pela comunidade aborígene.
Isso indica que as organizações indígenas de saúde podem empreender mais esforços para incluir as necessidades das pessoas indígenas LGBTQIA+ em seus serviços. Todas as organizações pesquisadas expressaram a intenção e o interesse em obter mais informações sobre as necessidades específicas dos clientes aborígenes LGBTQIA+.
Membros da comunidade e profissionais de saúde também identificaram etapas para melhorar o atendimento a essas pessoas, como empregar e manter funcionários LGBTQIA+ indígenas, adotar linguagem inclusiva, implementar treinamento de pessoal especializado e fomentar o diálogo sobre inclusão com conselhos e executivos.
No entanto, mudanças políticas mais amplas também são necessárias nas práticas de saúde. Elas incluem:
Tanto o racismo quanto a LGBTfobia devem ser enfrentados para que essas pessoas obtenham um senso de conexão e pertencimento dentro de suas comunidades. Segundo os pesquisadores, há uma defasagem no diálogo e no envolvimento contra a discriminação por parte das organizações e da sociedade australiana em geral. E não é diferente no Brasil.
Em 2019, a rapper Katú Mirim, bissexual e membra da comunidade indígena, criou o coletivo Tibira, o primeiro grupo dedicado exclusivamente à pauta indígena LGBTQIA+. A ideia surgiu depois que Katú ouviu, em plena parada do orgulho LGBT, em São Paulo, a frase: “Nossa, não sabia que existia índio LGBT”.
A partir daí, ela sentiu a necessidade de se conectar a outras pessoas que atravessassem experiências semelhantes e organizar um coletivo para discutir questões relacionadas à interseção de suas identidades.
O nome do coletivo é uma homenagem a Tibira, indígena do povo Tupinambá, assassinado em execução pública em 1614. O caso de Tibira foi o primeiro registro de crime por homofobia no Brasil.
Saiba mais sobre o coletivo e sobre a pauta indígena LGBTQIA+ nos vídeos abaixo:
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