Interior do país é uma das fontes de lixo no mar

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Por Carlos Fioravanti, de Santos, para a Revista Pesquisa Fapesp | Apresentados no congresso Diálogos da Cultura do Mar, realizado em Santos (SP) até o dia 15 deste mês, os resultados preliminares de um diagnóstico sobre o percurso de resíduos plásticos indicaram que as fontes desse material que chegam ao mar não estão apenas na região costeira. Encontram-se também no interior, incluindo as bacias hidrográficas do rio Amazonas, na região Norte, e do rio da Prata, formado pelos rios Paraná e Uruguai, cujas águas banham a costa brasileira no sul do país. Essas fontes recém-caracterizadas somam-se a outras do litoral, como a lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, e a baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

O relatório final da Blue Keepers, projeto da Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, deve liberado em breve no site da organização. “Como o problema não é só das populações costeiras, mas também do interior do país, precisamos levar essas informações para dentro da casa de cada brasileiro, para evitar o escape de resíduos plásticos”, comentou Gabriela Otero, coordenadora do Blue Keepers.

De acordo com esse estudo, cada brasileiro descarta em média 16 quilogramas de materiais plásticos por ano, dos quais boa parte apresenta alto risco de chegar ao mar.

“O movimento dos plásticos rumo ao mar depende muito de três fatores, chuva, inclinação do terreno e vento”, disse Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) e da cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano. “O vento pode levar resíduos de centrais de triagem e de aterros sanitários que estejam à beira de rios.”

Por ano, de acordo com o estudo da Blue Keepers, chegam ao mar 3.445.190 toneladas de materiais plásticos descartados pelos brasileiros, o equivalente a 47,8% dos 7,1 milhões de toneladas de plástico processado em 2021, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). As duas principais metas do projeto até 2030 são reduzir 30% da quantidade de plástico que chega à costa do Brasil e fortalecer a gestão de resíduos sólidos em 100 municípios brasileiros.

Desde 2010, como resultado da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os municípios brasileiros despendem em média entre 6% e 12% do orçamento para reduzir a quantidade de lixo. Em um debate que se seguiu à apresentação dos resultados do relatório, Karen de Oliveira Silverwood-Cope, coordenadora-geral de Oceano, Antártica e Geociências do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), lembrou, porém, que ainda não há regulação para a gestão do plástico já despejado no ambiente.

Turra observou que a coleta de resíduos plásticos deveria ser pensada regionalmente e não apenas em cada município, que pode não ser necessariamente a fonte, mas o destino dos materiais indesejados. Marcos Libório, secretário de Meio Ambiente da prefeitura de Santos, concordou: “Nossa praia é limpa diariamente, mas não é o suficiente. Precisamos trabalhar com os nove municípios da Baixada Santista.”

Este texto foi originalmente publicado pela Pesquisa Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thaís Niero

Bióloga marinha formada pela Unesp e graduanda de gestão ambiental. Tentando consumir menos e melhor e agir para alcançar as mudanças que desejo ver na sociedade.

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