Invasão biológica é o nome dado ao processo que ocorre quando espécies não indígenas (exóticas ou alóctones) se estabelecem em um novo território. São diversos os fatores que influenciam esse processo, sendo a influência humana o principal. As invasões biológicas têm se tornado cada vez mais frequentes com consequências para a diversidade biológica, para os gastos públicos e para a saúde humana. Entenda melhor como esse processo ocorre e o que pode ser feito para controlá-lo.
Uma espécie exótica é um organismo originário de outro país. Espécies transplantadas ou alóctones, em contrapartida, são aquelas deslocadas de sua área geográfica nativa, dentro do mesmo país de origem. A presença de espécies não indígenas (exóticas ou alóctones) por si só não representa nenhum problema para um ecossistema. Não sendo incomum, por exemplo, encontrar plantas exóticas à venda para fins ornamentais.
No entanto, quando uma espécie exótica (alien species, em inglês) ou alóctone é introduzida, de forma acidental ou não, e se adapta e passa a se proliferar e a se dispersar, alterando o ecossistema local, essa espécie passa a ser chamada de “espécie exótica invasora” e causa problemas em longo prazo que tendem a se agravar e não permitir a recuperação natural dos ecossistemas afetados. Esse é o processo de invasão biológica, hoje considerado uma das cinco principais causas de perda de biodiversidade no mundo (1, 2, 3).
Mecanismos de dispersão, barreiras geográficas, distância do local de origem e até mesmo o acaso são fatores que influenciam a distribuição natural das espécies nos ecossistemas, sendo que a maioria das espécies continentais tende a ser endêmica, isto é, são espécies que confinam-se a tipos particulares de ecossistemas.
Para que uma espécie consiga se introduzir em um novo ambiente, ela necessita superar condições de potencial adverso para sua sobrevivência. As barreiras a serem superadas incluem os filtros biótico, fisiológico, e biogeográfico:
A partir das primeiras migrações, colonizações e, mais recentemente, a globalização, pode-se dizer que o filtro biogeográfico perdeu força por todo o mundo, o que acelerou os processos de introdução de espécies e, consequentemente, ainda que não em mesmo grau, de invasão biológica.
De forma geral, os propágulos (indivíduos ou partes desses, como ovos, sementes, flores, etc.) que tiverem a capacidade de ultrapassar os filtros biogeográficos e fisiológicos tendem a ser bem-sucedidos na invasão do novo território. Possuir grande variabilidade genética, curto tempo de geração e/ou múltiplas estratégias reprodutivas são alguns atributos de espécies exóticas que têm êxito na invasão. Tratando-se de animais vertebrados, os invasores que tendem a ter mais êxito são os que apresentam uma associação estreita com seres humanos.
Há também locais que são mais suscetíveis a invasões de espécies não indígenas do que outros. Estes geralmente são caracterizados pelo seu isolamento geográfico e histórico (ilhas e dunas são especialmente frágeis), baixa diversidade de espécies indígenas, ausência de inimigos co-adaptados (competidores, predadores, parasitas e doenças) e altos níveis de distúrbio decorrentes de ações antrópicas.
Em todos esses casos, cabe também como fator a pressão de propágulos, que é a quantidade de organismos ou de seus propágulos que se inserem em determinada área. Quanto maior for essa pressão, mais facilmente ocorrerá a invasão biológica.
A degradação ambiental que o estabelecimento de espécies exóticas causa e a existência de ambientes fragilizados por impactos ambientais adversos geram um cenário que se retroalimenta e é difícil de combater.
De forma intencional, as primeiras espécies introduzidas ocorreram, em maior parte, para suprir necessidades e desejos por produtos agrícolas, florestais e de pesca diversos, por motivações econômicas. O uso ornamental é a maior razão dessas introduções intencionais, mas estas também ocorrem por razões religiosas, usos medicinais, para camuflagem de instalações militares, para experimentação científica, e até mesmo para recriar paisagens dos lugares de origem de imigrantes.
Já a introdução acidental de espécies exóticas acontece com mais frequência em ambientes marinhos, devido à água de lastro e à incrustação de organismos aquáticos nos cascos das embarcações. O lixo oceânico foi identificado como um impulsionador das invasões biológicas em meio marinho, por meio do que pode ser chamado de “rafting plástico”.
É bem documentada a existência de 365 espécies exóticas invasoras no Brasil, sendo 45 destas presentes em ambientes marinhos, 101 em ambientes aquáticos continentais e 219 em ambientes terrestres. Dentre essas, as mais conhecidas são:
O Projeto Pró-Espécies, coordenado pelo Departamento de Conservação e Manejo de Espécies do Ministério do Meio Ambiente e implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), articula a Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras, com a WWF-Brasil como agência executora.
Dentre diversas ações, o Projeto tem por objetivo criar um sistema de alerta e detecção precoce de invasões biológicas e integrar as ações da União, estados e municípios para reduzir as ameaças à conservação de espécies brasileiras.
A invasão de plantas não indígenas por si só pode gerar diversos impactos, tais como alterações na ciclagem de nutrientes, nas cadeias tróficas, na produtividade, na distribuição de biomassa e nas taxas de decomposição, promover extinção de espécies nativas e prejudicar relações entre polinizadores e plantas e até mesmo processos evolutivos.
A invasão biológica também pode ocasionar alterações físicas do ecossistema, sendo algumas destas erosão, sedimentação e mudanças nos ciclos hidrológicos. Esse processo também aumenta a probabilidade de incêndios e ainda pode reduzir o valor econômico da área e o valor estético da paisagem.
A saúde humana também pode ser afetada pelas invasões biológicas, pois parte das espécies invasoras podem ser hospedeiras de doenças, havendo assim uma relação entre as invasões biológicas com o surgimento de zoonoses (4).
Um estudo prevê que, devido à intensificação de fatores como mudanças climáticas, mudanças no uso da terra, perda da biodiversidade e migração humana, as invasões biológicas tendem a aumentar em média 36% no período de 2005 a 2050. Esse aumento deve vir com um alto custo, pois estudos apontam impactos econômicos significativos das invasões biológicas e que estes devem triplicar a cada década.
Para oferecer uma direção clara aos governos signatários da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB), esta possui diretrizes que guiam a elaboração de estratégias e objetivos a serem alcançados para o combate às invasões biológicas.
Existem outras convenções relacionadas ao tema que possuem diretrizes que a CDB recomenda que seus países signatários sigam, entre as quais estão a Convenção Internacional sobre Controle e Gestão de Água de Lastro e Sedimentos de Navio, a Convenção Internacional de Proteção de Plantas, e a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres.
No Brasil, o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental possui uma base de dados sobre espécies exóticas invasoras em território nacional, oferecendo informações valiosas para gestão pública, para pesquisas científicas e para ações de manejo, além do público em geral.
Estudos mostram que, de forma geral, a prevenção da pressão gerada por propágulos deve ser a prioridade das ações de combate às invasões biológicas. Essas medidas incluem implementação de regulação e legislação específicas, promoção de informação e quarentena, detecção precoce, monitoramento e remoção rápida dos indivíduos encontrados. Nos casos mais avançados de impacto, cabe realizar o manejo, a contenção e o controle dessas espécies. Junto a essas medidas, também é preciso investir na restauração dos ecossistemas afetados.
Algumas formas colaborar para o controle das espécies invasoras são:
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