O que é invasão biológica?

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Invasão biológica é o nome dado ao processo que ocorre quando espécies não indígenas (exóticas ou alóctones) se estabelecem em um novo território. São diversos os fatores que influenciam esse processo, sendo a influência humana o principal. As invasões biológicas têm se tornado cada vez mais frequentes com consequências para a diversidade biológica, para os gastos públicos e para a saúde humana. Entenda melhor como esse processo ocorre e o que pode ser feito para controlá-lo.

O que são espécies exóticas e alóctones?

Uma espécie exótica é um organismo originário de outro país. Espécies transplantadas ou alóctones, em contrapartida, são aquelas deslocadas de sua área geográfica nativa, dentro do mesmo país de origem. A presença de espécies não indígenas (exóticas ou alóctones) por si só não representa nenhum problema para um ecossistema. Não sendo incomum, por exemplo, encontrar plantas exóticas à venda para fins ornamentais. 

No entanto, quando uma espécie exótica (alien species, em inglês) ou alóctone é introduzida, de forma acidental ou não, e se adapta e passa a se proliferar e a se dispersar, alterando o ecossistema local, essa espécie passa a ser chamada de “espécie exótica invasora” e causa problemas em longo prazo que tendem a se agravar e não permitir a recuperação natural dos ecossistemas afetados. Esse é o processo de invasão biológica, hoje considerado uma das cinco principais causas de perda de biodiversidade no mundo (1, 2, 3).

Como a invasão biológica acontece?

Mecanismos de dispersão, barreiras geográficas, distância do local de origem e até mesmo o acaso são fatores que influenciam a distribuição natural das espécies nos ecossistemas, sendo que a maioria das espécies continentais tende a ser endêmica, isto é, são espécies que confinam-se a tipos particulares de ecossistemas.

Para que uma espécie consiga se introduzir em um novo ambiente, ela necessita superar condições de potencial adverso para sua sobrevivência. As barreiras a serem superadas incluem os filtros biótico, fisiológico, e biogeográfico:

  • Biogeográfico: barreiras geográficas, como mares, montanhas e rios;
  • Fisiológico: condições abióticas, como diferentes graus de temperatura, umidade e insolação;
  • Biótico: passando pelos dois filtros anteriores, a espécie terá de interagir com as espécies presentes no local, o que pode ser um desafio para sua sobrevivência.

A partir das primeiras migrações, colonizações e, mais recentemente, a globalização, pode-se dizer que o filtro biogeográfico perdeu força por todo o mundo, o que acelerou os processos de introdução de espécies e, consequentemente, ainda que não em mesmo grau, de invasão biológica.

Imagem de Meritt Thomas, disponível no Unsplash

Fatores para a invasão bem-sucedida

De forma geral, os propágulos (indivíduos ou partes desses, como ovos, sementes, flores, etc.) que tiverem a capacidade de ultrapassar os filtros biogeográficos e fisiológicos tendem a ser bem-sucedidos na invasão do novo território. Possuir grande variabilidade genética, curto tempo de geração e/ou múltiplas estratégias reprodutivas são alguns atributos de espécies exóticas que têm êxito na invasão. Tratando-se de animais vertebrados, os invasores que tendem a ter mais êxito são os que apresentam uma associação estreita com seres humanos. 

Há também locais que são mais suscetíveis a invasões de espécies não indígenas do que outros. Estes geralmente são caracterizados pelo seu isolamento geográfico e histórico (ilhas e dunas são especialmente frágeis), baixa diversidade de espécies indígenas, ausência de inimigos co-adaptados (competidores, predadores, parasitas e doenças) e altos níveis de distúrbio decorrentes de ações antrópicas.

Em todos esses casos, cabe também como fator a pressão de propágulos, que é a quantidade de organismos ou de seus propágulos que se inserem em determinada área. Quanto maior for essa pressão, mais facilmente ocorrerá a invasão biológica.

A degradação ambiental que o estabelecimento de espécies exóticas causa e a existência de ambientes fragilizados por impactos ambientais adversos geram um cenário que se retroalimenta e é difícil de combater.

A influência humana na introdução de espécies invasoras

De forma intencional, as primeiras espécies introduzidas ocorreram, em maior parte, para suprir necessidades e desejos por produtos agrícolas, florestais e de pesca diversos, por motivações econômicas. O uso ornamental é a maior razão dessas introduções intencionais, mas estas também ocorrem por razões religiosas, usos medicinais, para camuflagem de instalações militares, para experimentação científica, e até mesmo para recriar paisagens dos lugares de origem de imigrantes.

Já a introdução acidental de espécies exóticas acontece com mais frequência em ambientes marinhos, devido à água de lastro e à incrustação de organismos aquáticos nos cascos das embarcações. O lixo oceânico foi identificado como um impulsionador das invasões biológicas em meio marinho, por meio do que pode ser chamado de rafting plástico.

Espécies exóticas invasoras no Brasil

É bem documentada a existência de 365 espécies exóticas invasoras no Brasil, sendo 45 destas presentes em ambientes marinhos, 101 em ambientes aquáticos continentais e 219 em ambientes terrestres. Dentre essas, as mais conhecidas são:

  • o javali (Sus scrofa),
  • o coral-sol (Tubastraea spp.),
  • o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei),
  • o peixe-leão (Pterois spp.),
  • o caracol-gigante-africano (Achatina fulica),
  • e o mosquito Aedes aegypti.

O Projeto Pró-Espécies, coordenado pelo Departamento de Conservação e Manejo de Espécies do Ministério do Meio Ambiente e implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), articula a Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras, com a WWF-Brasil como agência executora.

Dentre diversas ações, o Projeto tem por objetivo criar um sistema de alerta e detecção precoce de invasões biológicas e integrar as ações da União, estados e municípios para reduzir as ameaças à conservação de espécies brasileiras.

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Impactos relacionados e perspectivas futuras

A invasão de plantas não indígenas por si só pode gerar diversos impactos, tais como alterações na ciclagem de nutrientes, nas cadeias tróficas, na produtividade, na distribuição de biomassa e nas taxas de decomposição, promover extinção de espécies nativas e prejudicar relações entre polinizadores e plantas e até mesmo processos evolutivos. 

A invasão biológica também pode ocasionar alterações físicas do ecossistema, sendo algumas destas erosão, sedimentação e mudanças nos ciclos hidrológicos. Esse processo também aumenta a probabilidade de incêndios e ainda pode reduzir o valor econômico da área e o valor estético da paisagem.

A saúde humana também pode ser afetada pelas invasões biológicas, pois parte das espécies invasoras podem ser hospedeiras de doenças, havendo assim uma relação entre as invasões biológicas com o surgimento de zoonoses (4). 

Um estudo prevê que, devido à intensificação de fatores como mudanças climáticas, mudanças no uso da terra, perda da biodiversidade e migração humana, as invasões biológicas tendem a aumentar em média 36% no período de 2005 a 2050. Esse aumento deve vir com um alto custo, pois estudos apontam impactos econômicos significativos das invasões biológicas e que estes devem triplicar a cada década.

Formas de controle das invasões biológicas

Para oferecer uma direção clara aos governos signatários da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB), esta possui diretrizes que guiam a elaboração de estratégias e objetivos a serem alcançados para o combate às invasões biológicas

Existem outras convenções relacionadas ao tema que possuem diretrizes que a CDB recomenda que seus países signatários sigam, entre as quais estão a Convenção Internacional sobre Controle e Gestão de Água de Lastro e Sedimentos de Navio, a Convenção Internacional de Proteção de Plantas, e a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres.

No Brasil, o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental possui uma base de dados sobre espécies exóticas invasoras em território nacional, oferecendo informações valiosas para gestão pública, para pesquisas científicas e para ações de manejo, além do público em geral.

Estudos mostram que, de forma geral, a prevenção da pressão gerada por propágulos deve ser a prioridade das ações de combate às invasões biológicas. Essas medidas incluem  implementação de regulação e legislação específicas,  promoção de informação e quarentena, detecção precoce, monitoramento e  remoção rápida dos indivíduos encontrados. Nos casos mais avançados de impacto, cabe realizar o manejo, a contenção e o controle dessas espécies. Junto a essas medidas, também é preciso investir na restauração dos ecossistemas afetados.

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Como colaborar?

Algumas formas colaborar para o controle das espécies invasoras são:

  • Não soltar ou abandonar animais de estimação em parques, florestas ou outros ambientes naturais, nem plantar espécies não nativas nesses lugares. 
  • Não jogar o conteúdo de aquários em rios, mares, lagoas ou açudes;
  • Ao visitar algum desses ambientes, não se deve levar nenhuma espécie, nem mesmo sementes e bulbos, como lembranças;
  • Informar-se sobre as espécies invasoras que mais afetam sua região e se há atividades para a comunidade programadas na unidade de conservação mais próxima de você, consultando órgãos ambientais locais;
  • Preferir ter plantas nativas em casa, pois isso contribui para a dispersão das sementes dessas em áreas próximas. Por isso mesmo, evite adquirir novas plantas não indígenas;
  • Ajudar a informar outras pessoas sobre os impactos que as invasões biológicas causam.
Thaís Niero

Bióloga marinha formada pela Unesp e graduanda de gestão ambiental. Tentando consumir menos e melhor e agir para alcançar as mudanças que desejo ver na sociedade.

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