A degradação da superfície terrestre causada pela ação humana já ameaça a qualidade de vida de 2/5 da população do planeta. Junto com as mudanças climáticas, além de problemas como migrações em massa e aumento de conflitos, isso pode causar a extinção de espécies animais e de plantas. Estas são as principais conclusões do “Diagnóstico sobre Degradação e Restauração da Terra”, aprovado durante a Sexta Plenária da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), realizada em Medellín, na Colômbia.
Em todo o mundo, a atividade humana levou animais e plantas ao declínio, afetando o nosso próprio bem-estar por conta da exploração excessiva dos recursos naturais e de poluentes. A menos que sejam tomadas medidas drásticas, os estoques de peixes podem se esgotar até 2048 e mais da metade das espécies de aves e mamíferos da África desaparecer até 2100.
Até 90% dos corais da Ásia-Pacífico sofrerão “degradação severa” até 2050, enquanto na Europa e na Ásia Central quase um terço das populações conhecidas de peixes marinhos e 42% dos animais e plantas terrestres estão em declínio. “Essa tendência alarmante coloca em risco as economias, os meios de subsistência, a segurança alimentar e a qualidade de vida das pessoas em todos os lugares”, alertou a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
Os relatórios ressaltam que a natureza fornece aos humanos comida, água limpa e energia, além de regular o clima da Terra. São elementos fundamentais para a vida e que estamos “minando”, segundo Robert Watson, presidente da IPBES. “A biodiversidade continua sendo perdida em todas as regiões do globo. Estamos perdendo espécies, estamos degradando ecossistemas. Se continuarmos agindo dessa forma, continuaremos perdendo biodiversidade a taxas crescentes”, alerta.
Ao longo de três anos, cientistas voluntários examinaram cerca de 10 mil publicações científicas para o mais extenso levantamento sobre biodiversidade desde 2005. As conclusões foram resumidas em quatro relatórios aprovados pelos 129 países-membros da IPBES. Elas contêm diretrizes para os governos criarem políticas mais amigáveis em relação à biodiversidade no futuro.
A pesquisa alerta que as populações de espécies nas Américas, que já são 31% menores do que quando os primeiros colonos europeus chegaram, terão encolhido cerca de 40% até 2050. Na África, estima-se que cerca de 500 mil quilômetros quadrados de terra estejam degradados, além da possibilidade de que o continente sofra perdas de plantas significativas e veja seus lagos com a produtividade reduzida em 20% a 30% até 2100.
Na União Europeia a situação é ainda pior: apenas 7% das espécies marinhas avaliadas tinham um “estado de conservação favorável.” O presidente da IPBES alerta para a possibilidade de que a humanidade se torne responsável pela sexta extinção em massa da Terra. Os cientistas dizem que o consumo voraz da biodiversidade pela humanidade pode desencadear a primeira extinção em massa de espécies desde o desaparecimento dos dinossauros – a sexta em nosso planeta em meio bilhão de anos.
Os relatórios dizem que, em muitos lugares, as mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis para energia estava piorando a perda de biodiversidade. Para Watson, é importante transmitir aos formuladores de políticas a ideia de que as duas questões devem ser vistas como um conjunto. “As mudanças climáticas afetam a biodiversidade, mudanças em nossa vegetação natural afetam as mudanças climáticas. E ambas, se não fizermos isso corretamente, vão prejudicar muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: água limpa para todos, segurança alimentar para as pessoas, segurança energética, segurança humana, equidade”, explica.
Como a demanda polulacional e o crescimento econômico tendem a aumentar, o aquecimento global deve continuar sendo uma causa de perda de espécies, mesmo nos melhores cenários, gerando maior degradação dos ecossistemas. Algumas soluções possíveis apontadas pelos cientistas são criar mais áreas protegidas, restaurar zonas degradadas e repensar subsídios que promovem a agricultura insustentável.
Governos, empresas e indivíduos devem considerar o impacto sobre a biodiversidade ao tomar decisões sobre agricultura, pesca, silvicultura, mineração ou desenvolvimento de infraestruturas. Cada região irá exigir uma solução diferente e os pesquisadores acreditam que ainda é possível interromper ou mesmo reverter alguns dos danos causados.
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