Já existe tecnologia suficiente para a descarbonização de edifícios e transportes, aponta pesquisa

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A transição para sistemas energéticos limpos em edifícios e transportes, dois setores que representam 26% das emissões globais de gases de efeito estufa, pode ser acelerada com tecnologias já existentes. É o que revela um estudo publicado na Nature Energy, conduzido por pesquisadores do Centro Euro-Mediterrânico sobre Mudanças Climáticas (CMCC) e outras instituições. A combinação de eletrificação, eficiência energética e mudanças comportamentais emerge como um caminho viável para reduzir drasticamente as emissões até 2050, alinhando-se às metas climáticas internacionais.

Estratégias integradas reduzem custos e desafios técnicos

A substituição de veículos a combustão por elétricos e a adoção de bombas de calor em residências poderiam diminuir as emissões diretas em até 77% nos edifícios e 86% nos transportes. Quando aliadas a melhorias no isolamento térmico, sistemas de ar condicionado mais eficientes e ajustes no uso diário de energia — como redução do tamanho de moradias ou regulagem de termostatos —, os cortes poderiam chegar a 85% e 91%, respectivamente. A integração dessas medidas reduziria ainda a demanda anual por eletricidade em até 33%, diminuindo custos e sobrecarga nas redes elétricas.

A pesquisa, que utilizou sete modelos globais de avaliação integrada — incluindo o modelo WITCH, desenvolvido pelo CMCC —, demonstra que a descarbonização depende menos de inovações futuras e mais da aplicação estratégica de tecnologias atuais. “O desafio não está na falta de ferramentas, mas na implementação de políticas que combinem eficiência, eletrificação e mudanças de comportamento”, afirma Johannes Emmerling, cientista sênior do CMCC.

Abordagem multissetorial amplia eficácia

Diferentemente de análises anteriores, que avaliaram medidas isoladas, o estudo adotou uma perspectiva sistêmica para entender como eletrificação, eficiência e padrões de consumo interagem. Alice Di Bella, pesquisadora do CMCC, destaca que a sinergia entre essas estratégias é essencial para evitar pressões desnecessárias na infraestrutura energética. “Priorizar apenas a eletrificação, por exemplo, exigiria investimentos massivos em geração e distribuição de energia. Já a combinação com eficiência e mudanças comportamentais torna o processo mais equilibrado”, explica.

Os resultados reforçam a viabilidade econômica de limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2050, desde que governos e indústrias adotem políticas que incentivem a renovação de edificações, a expansão de transporte público eletrificado e a conscientização sobre uso racional de energia. Entre as recomendações, está a revisão de padrões de construção civil e a criação de subsídios para tecnologias de baixo carbono.

Políticas públicas devem liderar transição

O estudo alerta para a necessidade de regulamentações que acelerem a substituição de combustíveis fósseis e promovam hábitos sustentáveis. Medidas como a taxação de emissões em setores intensivos e a priorização de programas de retrofit em edifícios antigos são apontadas como urgentes. Para os pesquisadores, a falta de ação coordenada entre países e a lentidão na atualização de marcos legais representam os principais obstáculos à descarbonização.

“As soluções técnicas existem. Agora, é preciso vontade política para escaloná-las”, conclui Emmerling. Com a aplicação adequada, edifícios e transportes podem se tornar pilares de uma economia de baixo carbono, beneficiando tanto o clima quanto a qualidade de vida urbana.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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