Imagem de Michal Průcha no Unsplash
O mês de janeiro de 2024 entrou para a história como o mais quente já registrado, superando em 0,09°C o recorde anterior, estabelecido no mesmo mês do ano passado. Dados do Copernicus Climate Change Service revelam que as temperaturas globais ficaram 1,75°C acima dos níveis pré-industriais, mantendo uma sequência alarmante de extremos climáticos. O resultado surpreendeu cientistas, que esperavam um resfriamento gradual devido ao fenômeno La Niña, sinalizando desafios complexos para os modelos de previsão.
La niña fraca e o paradoxo climático
Especialistas projetavam que o fim do El Niño, em janeiro, daria espaço para o La Niña, conhecido por reduzir temporariamente o calor global. Contudo, as temperaturas permaneceram próximas de níveis recordes. Stefan Rahmstorf, da Universidade de Potsdam, destacou a gravidade da situação: pela primeira vez, um janeiro sob influência do La Niña registrou médias mais altas que o período anterior dominado pelo El Niño. Um sinal preocupante, já que, nas últimas seis décadas, todos os anos com La Niña foram mais frios que os anteriores.
Oceanos em ebulição e incertezas científicas
As águas superficiais dos oceanos, responsáveis por absorver 90% do calor excedente da atmosfera, atingiram a segunda maior temperatura já documentada em janeiro. A persistência desse aquecimento intriga pesquisadores. Julien Nicolas, do Copernicus, ressaltou que mesmo com a transição para o La Niña, o resfriamento esperado não ocorreu. Uma hipótese em estudo é a redução de emissões de enxofre por navios a partir de 2020, o que teria diminuído a reflexão da luz solar pelas nuvens e amplificado o aquecimento.
Além do acaso: a sombra dos combustíveis fósseis
Embora ciclos naturais como El Niño e La Niña influenciem variações anuais, cientistas concordam que o aquecimento de longo prazo está intrinsecamente ligado à queima de combustíveis fósseis. Em 2023 e 2024, a média global de temperaturas ultrapassou 1,5°C acima da era pré-industrial, aproximando-se perigosamente do limite estabelecido pelo Acordo de Paris. Apesar de não configurar uma ruptura definitiva do teto climático, o cenário reforça a urgência de cortes radicais nas emissões.
O que esperar de 2025?
Projeções indicam que o próximo ano não deve repetir os recordes de 2023 e 2024, mas tende a se consolidar como o terceiro mais quente da história. O Copernicus monitorará as temperaturas oceânicas para entender padrões futuros. Enquanto isso, Bill McGuire, da University College London, classifica a persistência do calor como “assustadora”, especialmente diante da ineficácia do La Niña em frear a crise.
Lições de um planeta em transe
O episódio recente evidencia que respostas simplistas são insuficientes. Combinações entre ações humanas, como poluição atmosférica e desmatamento, e dinâmicas naturais ainda pouco compreendidas exigem investigações mais profundas. Para Robert Vautard, do IPCC, teorias sobre mudanças na cobertura de nuvens ou na química atmosférica merecem atenção prioritária. Enquanto a ciência busca respostas, governos e sociedade enfrentam o desafio de acelerar a transição para energias limpas — única saída para evitar colapsos irreversíveis.
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