Por que o javali é uma espécie invasora?

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O javali (Sus scrofa) é um animal onívoro ancestral do porco doméstico e nativo da Ásia, Europa e partes do norte da África. Em primeira instância, esses porcos selvagens foram domesticados e mantidos por séculos como animais de fazenda em partes da Europa e da Ásia.

A partir do século 16, os europeus levaram esses mamíferos consigo quando se instalaram nos Estados Unidos, Austrália e outros países. No Brasil, o javali foi introduzido durante a década de 1960 para a exploração comercial da carne. 

No entanto, assim como em outros países em que a espécie foi introduzida, a produção não foi desenvolvida, resultando no escape e soltura desses animais na fauna local. 

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, o javali é uma das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo. 

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Características

Assim como o porco doméstico, o javali possui um corpo volumoso, focinho longo, móvel e cartilaginoso, cascos pretos e uma cauda de comprimento médio. Geralmente, pode variar em tons de marrom ou preto e é coberto por uma camada de pelos grossos.

Os javalis também têm uma camada extra grossa de pele protetora que os auxilia em suas lutas por direitos de acasalamento. Além disso, diferentemente dos porcos domésticos, podem possuir presas que são usadas em brigas e na autodefesa dos animais. 

Considerados “onívoros oportunistas”, esses animais se alimentam de praticamente qualquer alimento, como plantas, frutas, raízes e nozes. Porém, ajustam seus hábitos alimentares ao que está disponível no meio ambiente, consumindo ovos de pássaros ou tartarugas, insetos ou pequenos animais.

Foto de Jonathan Göhner na Unsplash

Por que o javali é considerado um animal invasor? 

Para que um animal seja considerado uma espécie invasora, ele deve possuir certas características no meio em que se encontra. Em geral, muitos consideram as espécies invasoras como animais que não pertencem ao local em que foram introduzidos, porém, nem toda espécie não nativa é invasora. 

Algumas características que compõem os animais invasores são: 

  • Não nativos da área em que foram introduzidos; 
  • Adaptam-se para a nova área facilmente;
  • Reproduzem rapidamente;
  • São prejudiciais à economia, à propriedade e à fauna e flora nativas da região. 

Mas o que diferencia o javali de muitas outras espécies invasoras é a sua capacidade de adaptação, entre outras características. De fato, esse animal é indiferente à temperatura, não possui predadores naturais em áreas em que foi introduzido e também é forte e ágil, contribuindo para a sua agressividade no meio ambiente. 

“Sua agressividade e facilidade de adaptação são características que, associadas à reprodução descontrolada e à ausência de predadores naturais, resultam em uma série de impactos ambientais e socioeconômicos, principalmente para pequenos agricultores”, de acordo com o Ibama

Riscos ao meio ambiente 

Os impactos do javali podem variar de acordo com as condições sanitárias da espécie e suas relações com o ambiente e com outras espécies. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde é um dos principais invasores, presente em cerca de 48 estados diferentes, esse animal impacta, principalmente, a agricultura local. 

Muitos fazendeiros descobriram que os javalis percorrem as fileiras de plantação durante a noite, extraindo as sementes uma a uma, destruindo e devorando plantações inteiras. Similarmente, eles são responsáveis pela erosão do solo, riachos e outras fontes de água, possivelmente causando a morte de peixes e outras espécies. 

Seus impactos na vegetação impulsionam o crescimento de plantas invasoras, também prejudicando a biodiversidade dos locais em que habitam. 

Além disso, podem se alimentar de quase qualquer animal, incluindo o gado, especialmente cordeiros, cabritos e bezerros. Eles também comem animais selvagens, como veados e codornas e ovos de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção.

Acredita-se que nos Estados Unidos, esses animais sejam responsáveis por um dano total de 2,5 bilhões de dólares anualmente — principalmente derivados de seus hábitos alimentares. 

Adicionalmente, os javalis são suscetíveis a parasitas e infecções, potencialmente carregando doenças que podem ser transmitidas a seres humanos e porcos domésticos, ameaçando a indústria de carne suína. Uma das condições consequentes ao convívio e proximidade com esses animais inclui a brucelose, que adoeceu caçadores e veterinários, e a leptospirose, que infectou triatletas e pilotos.

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Manejo e controle do javali 

Em resposta ao aumento populacional da espécie e sua ameaça aos ecossistemas brasileiros, o controle da espécie foi legalizado pelo Ibama em 2013, de acordo com regras estabelecidas pela Instrução Normativa N° 03/2013. Desse modo, a caça de javali é autorizada em todo o território nacional onde há a incidência do animal e mediante a autorização do Ibama. 

De acordo com a instituição, há registros da presença de javalis em quinze unidades da federação: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Roraima, Tocantins, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

No entanto, muitos especialistas acreditam que a caça esportiva do javali não fez diferença a longo prazo em quantos porcos selvagens existem, principalmente nos EUA. 

“É contra-intuitivo pensar, mas a caça não é a solução para a existência de javalis. Não desencorajamos a captura de suínos selvagens por caçadores oportunisticamente. Mas não a vemos como uma ferramenta que resolverá esse problema”, disse Michael Marlow, biólogo da vida selvagem e gerente assistente do programa National Feral Swine Damage Management do USDA, em depoimento ao Wired.

Desde a fundação do programa em 2014, ele já conseguiu eliminar a população de javalis em sete estados do país e diminuí-la em Iowa, Vermont, Washington e Wisconsin. Entretanto, outros estados ainda lidam com a população selvagem, uma vez que a espécie é conhecida por sua extrema inteligência e capacidade de evitar e desviar de armadilhas. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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