Javaporco, uma espécie introduzida por pecuários que resulta do cruzamento de javali com porco, pode transmitir doenças para quem consome sua carne
Javaporco é um animal híbrido, resultado do cruzamento de javali e porco. Ele é um animal grande que pode chegar facilmente aos 200 quilos. O javaporco se adapta a qualquer ambiente e se reproduz com bastante facilidade, tendo cerca de dez filhotes por gestação até três vezes por ano.
Por toda essa facilidade de reprodução, os javaporcos se tornaram um problema para os produtores rurais no Brasil, pois eles invadem as plantações para se alimentar e as destroçam. Por outro lado, muitos produtores viram potencial no animal para a produção de carne, no entanto, pesquisas mostram que a carne de javaporco pode transmitir diversas doenças causadas por protozoários, bactérias e vírus.
Origem do javaporco
A história da origem do javaporco tem diversas versões. O professor Adriano Garcia Chiarello, do Departamento de Biologia da USP, conta que os javaporcos podem ser um javali puro, vindo da Eurásia, que ainda ocorre em seu estágio natural por lá. Ele foi trazido para a América do Sul há mais de 100 anos.
Na década de 60 a 80, os javalis foram levados para a Argentina, mas escaparam e acabaram chegando ao Brasil. Ao se espalharem, os javalis encontraram porcos domésticos e se acasalaram. A partir disso, nasceram os descendentes, que são os javaporcos.
Além disso, produtores também se interessaram pelo cruzamento entre os porcos com os javalis para ter uma carne “diferenciada”. Já os criadores de javalis se interessaram pelo cruzamento para que a produção fosse mais rápida, pois a gestação dos javalis é mais demorada.
A comunidade de biólogos aceita a história de que o javaporco chegou à América do Sul, importado de países asiáticos por pecuaristas argentinos e uruguaios. O objetivo era produzir carne para consumo humano com qualidade semelhante à da carne de javali. Isso, no entanto, foi considerado um desastre ecológico, pois diversos lugares do Brasil foram tomados por javaporcos.
Introdução de javaporcos no Brasil
O javaporco não tem um predador natural. Além disso, se reproduz com facilidade, sendo comparado até mesmo com os coelhos. Ao chegarem ao Brasil, os javaporcos, ferozes e agressivos, passaram a invadir as plantações em bandos, devorando e destruindo tudo.
Isso fez com que muitos produtores adotassem a caça para controle dos animais. Contam eles que os animais chegavam em bandos de até 50 javaporcos. Isso fez com que, em 2013, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) permitisse o abate para controlar os animais.
No período entre 2019 e 2020, cerca de 100 mil javaporcos foram abatidos. Exterminar populações inteiras de javaporcos, entretanto, é uma missão praticamente impossível. Eles se procriam em uma velocidade surpreendente e, em geral, possuem alta capacidade cognitiva e boa memória.
Na região Sul e Sudeste, tornou-se comum o consumo de carne de javaporco, sobretudo na forma de churrasco. Mas pesquisas apontam os riscos dessa prática.
Consumir carne de javaporco é perigoso
O consumo da carne de javaporco e o contato com a saliva e o sangue do animal trazem riscos pela possibilidade de transmitir agentes causadores de doenças. Estevam Guilherme Hoppe, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, investigou a questão dos javaporcos e a transmissão de doenças.
Ao analisar amostras de sangue de animais abatidos na área rural de algumas cidades (Barretos, Cajobi, Matão, Monte Azul Paulista e Morro Agudo), o pesquisador viu que 20 dos 26 javaporcos estavam infectados com o Toxoplasma gondii, um protozoário que causa a zoonose toxoplasmose.
Além disso, foram identificados anticorpos contra patógenos causadores de doenças comuns na criação de suínos domésticos, como circovírus suínos tipo 2, e outros que podem ser transmitidos aos seres humanos, como vírus da hepatite E.
A veterinária Virgínia Santiago Silva, da Embrapa Suínos e Aves em Santa Catarina, alerta dizendo que a detecção de anticorpos significa que os patógenos circularam entre os animais.
No Brasil, a venda e distribuição do abate não são práticas permitidas. Por isso, não há diretrizes para o preparo da carne de javaporco como em outros países, trazendo mais riscos às pessoas que costumam consumi-la.
O pesquisador Hoppe recomenda que, para evitar a toxoplasmose, a carne seja congelada a -20 graus Celsius (ºC) por sete dias e não seja consumida mal passada. As temperaturas que assam peças grandes de carne, entretanto, nem sempre são suficientes.
Além disso, a veterinária Silva informa que defumar, cozinhar, salgar ou congelar não garante a eliminação de larvas. Portanto, o risco continua existindo.