Por Mariana Carneiro em Jornal da USP — A Prefeitura de Belo Horizonte criou uma biofábrica para distribuir joaninhas, animal carnívoro que pode auxiliar no manejo de pragas na agricultura urbana. A técnica, conhecida como controle biológico, se baseia na própria pirâmide alimentar dos insetos e funciona como alternativa ao uso de agrotóxicos.
“As principais pragas agrícolas são insetos, que causam danos de centenas de milhões de dólares ao redor do mundo, anualmente”, explica Silvio Nihei, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP e doutor em Entomologia. “Logo, o primeiro passo até aplicar efetivamente o controle biológico é identificar a praga e sua origem.” Os insetos inoportunos podem ser nativos ou exóticos, ou seja, introduzidos artificialmente na fauna brasileira, e verificar tal informação é essencial para determinar a espécie de animal que irá predá-los.
A linha de trabalho adotada no controle biológico preza pela utilização de inimigos naturais nativos, para que a inserção de mais espécies estrangeiras no ambiente do País não seja necessária. A ocorrência, segundo Nihei, pode resultar em uma desproporção ambiental a mais, além daquela criada pela própria praga.
Depois de identificada, a espécie pretendente à agente de controle biológico é submetida a mais uma série de estudos. O professor explica que a estimativa de eficácia na redução das pragas agrícolas, por exemplo, é um dado importante obtido nas pesquisas: há insetos altamente eficientes no controle populacional, que são capazes de exterminar até 95% das pragas. “Mas, muitas vezes, nossos candidatos não são tão eficientes. O que nós podemos fazer nessa situação é buscar outros controladores potenciais ou até mesmo fazer uma combinação: junto com o controle biológico, podemos utilizar um controle físico ou um controle químico reduzido”, conta.
Outro estudo fundamental ao processo indica se é possível criar o inseto predador em laboratório: a técnica deve ser acessível, uma vez que sua aplicação em larga escala depende de produções e solturas locais. “Um dos últimos passos é medir o risco ambiental dessa criação em massa”, destaca o biocientista, que continua: “O aumento populacional do inseto pode trazer um desequilíbrio, porque eles não vão caçar somente a praga. Eles se alimentam de tudo que estiver ali disponível”. Para evitar o risco, o controle biológico demanda investimento prévio e um estudo em detalhes.
Os resultados, no entanto, ressarcem os esforços: o uso de bioinseticidas traz benefícios para o meio ambiente, a economia, a sociedade e a saúde pública. A substituição dos agrotóxicos por insetos diminui a contaminação da água e terras utilizadas na agricultura, o que permite o cultivo de alimentos orgânicos, livres de compostos químicos. “Outra vantagem direta para o agricultor é a sua não contaminação. Ele não precisará manipular, manusear e borrifar inseticidas químicos”, adiciona Nihei. Além disso, o controle biológico evita que as pragas desenvolvam resistência ao inseticida, o que acontece de forma crescente após o uso de agrotóxicos. “O controle químico é muito caro. O agricultor precisa aplicar cada vez mais inseticida, em maior concentração e frequência, o que aumenta o custo escalonadamente ao longo do tempo.”
A redução do uso de agrotóxicos também contribui para a contenção de gastos na área da saúde. A alimentação saudável possibilitada pela agricultura orgânica potencializa o bem-estar dos indivíduos, o que, a longo prazo, pode reduzir o número de visitas e internações em hospitais. “Muitos dos problemas de saúde atuais podem estar associados à maior quantidade de inseticidas que temos usado. Nos últimos três ou quatro anos, uma grande quantidade de agrotóxicos foi aprovada para uso e, com isso, muitos outros problemas vão surgir”, diz o professor Nihei. “Nós devemos pensar desde já em fazer o controle biológico e investir na ciência, para que daqui a cinco, dez, 15, 20 anos tenhamos uma melhor saúde da população”, finaliza.
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