Os numerais Kaktovik são um sistema numérico de base cinco, também chamado de quinário. Eles são utilizados por vários grupos indígenas da região do Ártico, incluindo os inuítes, que habitam regiões do Alasca, Canadá, Groenlândia e partes da Rússia.
Esse sistema numérico foi batizado de “numerais Kaktovik”por um grupo de alunos inuítes do ensino médio e seu professor em homenagem ao vilarejo do Alasca onde foram criados, Kaktovik.
Os numerais Kaktovik são especialmente adequados para aritmética visual rápida, usando o sistema tradicional de contagem oral inuíte, ele foi adaptado para permitir que as pessoas contassem quantidades usando partes do corpo, como dedos, para não ter que retirar as luvas e se expor ao frio extremo.
Essa adaptação ao meio ambiente é uma vantagem importante do sistema numérico inuíte em relação ao sistema hindu-arábe, amplamente utilizado em outras partes do mundo, como no Brasil.
No sistema de numerais Kaktovik, as quantidades são descritas primeiro em grupos de cinco, 10 e 15 e depois em conjuntos de 20. O sistema “é realmente a contagem de suas mãos e a contagem de seus dedos dos pés”, diz à revista Scientific American a professora Nuluqutaaq Maggie Pollock, que lecionou usando o sistema Kaktovik em Utqiagvik, uma cidade que fica a 480 quilômetros de onde os numerais foram inventados. Por exemplo, diz ela, tallimat — a palavra Iñupiaq para 5 — vem da palavra para braço: taliq. “Em seu braço, você tem dedos tallimat ”, explica Pollock.
Iñuiññaq, a palavra para 20, representa uma pessoa inteira. Nas práticas tradicionais, o corpo também serve como uma multiferramenta matemática. “Quando minha mãe fez uma parka para mim, ela usou o polegar e o dedo médio para medir quantas vezes seria capaz de cortar o material”, diz Pollock. “Antes de réguas ou réguas, [o povo Iñupiat] usava as mãos e os dedos para calcular ou medir.”
Por exemplo, o número 18 é representado pela combinação dos dedos indicador e médio da mão direita dobrados, enquanto o número 27 é representado pelos dedos indicador, médio e anelar da mão esquerda dobrados.
Assim como muitas outras comunidades indígenas no Alasca e em outras partes do mundo, Kaktovik passou por um processo de racismo ambiental decorrente da colonização.
No caso de Kaktovik, a colonização teve início com a chegada de exploradores russos asiáticos e europeus na região, que estabeleceram o comércio de peles e outras atividades comerciais que tiveram impactos significativos nas comunidades inuítes locais.
Mais tarde, com a compra do Alasca pelos Estados Unidos em 1867, o governo americano estabeleceu políticas que visavam assimilar e integrar os povos indígenas à cultura dominante.
Essas políticas incluíam a proibição de práticas culturais tradicionais, a educação em internatos, a restrição de acesso a terras e recursos naturais e a imposição de leis e regulamentos que limitavam a autonomia e a liberdade das comunidades indígenas.
Durante os séculos 19 e 20, as escolas americanas suprimiram a língua Iñupiaq – primeiro de forma violenta e depois silenciosamente. “Tínhamos um tutor da aldeia que nos ajudava a nos misturar no mundo do homem branco”, diz Pollock sobre sua própria educação. “Mas quando meu pai ia para a escola, se ele falasse a língua, eles batiam em suas mãos. Foi uma tortura para eles.” Na década de 1990, o sistema de contagem Iñupiaq estava perigosamente perto de ser esquecido.
Todas essas políticas tiveram impactos significativos na cultura e nos modos de vida dos inuítes de Kaktovik, contribuindo para a desaculturação e a perda de suas tradições e práticas culturais.
Hoje em dia, as comunidades inuítes de Kaktovik e de outras partes do Alasca continuam a enfrentar desafios significativos, incluindo a mudança climática, a perda de habitats naturais e a pressão de atividades industriais, como a exploração de petróleo e gás, que ameaçam suas terras e recursos naturais.
Existem várias diferenças entre o sistema numérico utilizado em Kaktovik e o sistema numérico hindu-arábe, que é amplamente utilizado em todo o mundo, incluindo no Brasil. Algumas das principais diferenças incluem:
Embora o sistema de numerais Kaktovik possa ter algumas desvantagens em relação ao sistema hindu-arábe em termos de representação de números grandes, facilidade de realizar cálculos matemáticos e uso generalizado, ele apresenta algumas vantagens em relação ao contexto e às necessidades da comunidade inuíte, como:
O sistema numérico hindu-árabe tem algumas vantagens em relação ao sistema numérico inuíte utilizado em Kaktovik, incluindo:
Embora o sistema de numerais Kaktovik tenha sua própria lógica e efetividade dentro da cultura e do contexto local, o sistema numérico hindu-arábe oferece vantagens em termos de representação de números grandes, facilidade de realizar cálculos matemáticos e uso generalizado em todo o mundo.
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