O plástico é um material versátil, resistente e que trouxe mais facilidade para o dia a dia. Porém, este material apresenta problemas ambientais na sua produção, consumo e pós-consumo. Parte destes problemas referem-se ao seu descarte inadequado no meio ambiente, o que afeta a mobilidade e reprodução de animais, quando não os mata, aumenta a invasão biológica marinha e costeira por meio do rafting plástico, além de contaminar os recursos hídricos e o solo.
Dados tais problemas, há uma busca incessante por soluções tecnológicas que facilitem a reciclagem do plástico ou permitam sua biodegradação. As larvas de alguns insetos parecem ser um início para estas soluções. Conheça-as a seguir:
A traça-da-cera (nome científico: Galleria mellonella) é um dos insetos que comem plástico em sua fase larval. No meio natural, a larva desta espécie se desenvolve alimentando-se dos conteúdos de favos de mel. Foi ao retirar as larvas que encontrou em uma de suas colmeias e colocá-las em um saco plástico de polietileno que a pesquisadora Federica Bertocchini descobriu a habilidade inesperada do invertebrado.
Bertocchini e seus colegas associaram a capacidade das larvas de Galleria mellonella de biodegradar sacolas plásticas a duas enzimas presentes na saliva do animal. Eles acreditam que a descoberta de tais enzimas e o potencial de sintetizá-las no futuro podem levar ao desenvolvimento de um plástico facilmente degradável, o que colaboraria para a economia circular por meio do upcycling deste material.
Talvez o bicho-da-farinha (Tenebrio molitor) seja o mais conhecido dos animais que comem plástico. Isto porque, além de ser vista como praga para a indústria de grãos e cereais, a larva desta espécie de besouro é amplamente utilizada para a alimentação de aves e répteis e foi o primeiro inseto a ser aprovado pelo Painel sobre Nutrição do EFSA (Autoridade Europeia de Segurança Alimentar) para o consumo humano.
Por conta do seu rico perfil nutricional, a larva é considerada uma alternativa às atividades pecuárias, o que auxiliaria no combate à insegurança alimentar e às mudanças climáticas. Assim, a descoberta que a larva de Tenebrio molitor pode viver a partir de uma dieta de isopor (uma forma de poliestireno) torna o potencial da espécie ainda mais eco-friendly.
No caso do bicho-da-farinha, a biodegradação ocorre por meio de enzimas produzidas por microrganismos presentes no trato digestivo das larvas.
Apesar da larva conseguir se alimentar de outros tipos de plástico, como o poliuretano (material da esponja de lavar louça), são observados resíduos plásticos (microplásticos) em suas excretas. Desta forma, ainda é necessário investigar os caminhos enzimáticos para a degradação de plásticos por Tenebrio molitor.
As larvas de Zophobas morio são popularmente conhecidas como “tenébrio gigante” devido a sua aparência similar, porém maior, a de Tenebrio molitor. Também chamada de superverme, esta é outra larva capaz de devorar isopor, ao ponto de ser considerada uma “mini usina de reciclagem” por um dos autores do estudo sobre esta capacidade da larva.
Além da trituração feita pelos aparelhos bucais da larva de tenébrio gigante, enzimas produzidas por bactérias do seu trato digestivo são responsáveis por biodegradar o poliestireno. Em conjunto com sistemas mecânicos para a trituração do isopor, a sintetização destas enzimas pode ser importante ferramenta no gerenciamento de resíduos plásticos.
Além das larvas mencionadas, existem outros seres vivos, como fungos, bactérias (1, 2) e até minhocas são capazes de comer plástico. No entanto, isto não significa que estes organismos devam ser criados com a função de biodegradar diferentes tipos de plásticos, mas que a forma que a degradação acontece deve ser estudada a fundo para que possa ser reproduzida em laboratório.
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