Os microplásticos estão por toda parte, no sal de cozinha, no ar, nos alimentos, na cadeia alimentar e também no ato de lavar roupas. Isso é consequência de uma produção que utiliza tecidos de plástico para a confecção das roupas, como o poliéster. Esses tecidos liberam microfibras, que são uma categoria de microplásticos, porém com forma fibrosa.
Os tecidos de plástico são um problema ambiental, pois liberam microplásticos nos rios e mares após lavagens na máquina de lavar roupas. Uma vez no ambiente, os microplásticos podem entrar na cadeia alimentar e causar implicações para a saúde humana.
Para entender melhor a dimensão do problema dos microplásticos ao lavar roupa, pesquisas foram desenvolvidas. Um estudo publicado na revista Nature avaliou a poluição de microplásticos causada por processos de lavagem de têxteis sintéticos. Os resultados mostraram que as microfibras liberadas durante a lavagem variam de 124 a 308 mg por kg de tecido lavado dependendo do tipo de peça de roupa lavada.
Outro estudo realizado para a marca Patagônia por pesquisadores da Universidade da Califórnia analisou liberação de microfibras em diferentes tipos de jaquetas sintéticas, principalmente a do tipo fleece.
Primeiramente, a jaqueta foi submetida à lavagem e a água foi coletada e transportada para uma coluna de filtração. A quantidade de microfibras soltas em cada lavagem depende da intensidade da máquina e do tempo de uso da roupa. Quanto mais intensa for a lavagem e quanto mais antiga for a peça de roupa, maior será a liberação de microfibras.
Os resultados mostram que se cada habitante de uma cidade com população de 100 mil pessoas resolvesse lavar uma peça de roupa sintética por dia, até 110 kg de microfibras poderiam ser lançados em corpos d’água. Isso é o equivalente a lançar 15 mil sacolas plásticas nos oceanos por dia.
Essa modelagem, no entanto, está considerando que a água passou por tratamento (grande parte das fibras ficaram retidas) antes de chegarem à natureza, o que não é a realidade de muitos países, como o Brasil.
Pesquisadores procuraram outros métodos de pesquisa para entender com mais clareza a quantidade de microplásticos eliminados na lavagem de roupa. Um primeiro método foi elaborado em uma pesquisa liderada pelo Dr. Mark Summer, professor de sustentabilidade, varejo e moda na Escola de Design da Universidade de Leeds.
Esse teste usa um sistema chamado gyrowash que replica as ações encontradas em uma variedade de máquinas de lavar para medir sem segurança a quantidade de pequenas partículas de plástico liberadas durante a lavagem doméstica. Espera-se que esse teste também ajude no processo de encontrar soluções para a poluição de microfibra.
Não há precisão sobre a quantidade de microplásticos que escapa para o ambiente ao lavar roupa, mas já se sabe que esta quantidade é o suficiente para causar impactos negativos.
As microfibras são rapidamente consumidas por animais, causando bloqueio gastrointestinal, provocando dificuldades na alimentação e fome.
As fibras podem absorver substâncias tóxicas ao longo do caminho percorrido e podem causar distúrbios reprodutivos e problemas nos órgãos.
No fim dessa cadeia, encontra-se o ser humano consumindo essas espécies aquáticas e ingerindo microfibras que podem trazer diversos malefícios à saúde, tais como piorar a asma, inflamar o sistema imunológico, danificar os órgãos internos e chegar até às placentas de mulheres grávidas.
Uma solução para o problema dos microplásticos ainda exigirá ações em vários níveis. No entanto, algumas iniciativas já surgiram. Na França, foi aprovada uma lei que exige filtros de microplásticos em todas as novas máquinas de lavar até 2025. Em outras partes da Grã-Bretanha, membros do congresso visam a implantação da mesma regulamentação, assim como na Austrália e na Califórnia.
Há produtos, como o Guppyfriend, que filtram as fibras microplásticas e também podem ser parte da solução. O consumidor parece apoiar essa solução, é o que mostrou um estudo feito pela Planetcare.org. A pesquisa, que foi realizada com mais de 33 mil pessoas, mostrou que elas estão dispostas a pagar mais caro por uma máquina de lavar roupas com essa solução embutida.
Uma máquina de lavar produzida pela empresa Grundig também promete solucionar esses problemas. A máquina FiberCatcher já foi feita com um filtro de microplásticos embutido. Feito de 98% de materiais reciclados, esse filtro tem a vida útil de seis meses e pode ser substituído por outros da marca, com seu envio de volta para a sua reutilização sendo de graça.
Outros filtros que podem ser adaptados para se anexar em máquinas de lavar já existentes também estão sendo produzidos ao redor do mundo para tentar solucionar o problema.
Produzir roupas e tecidos que não perdem tantas microfibras e desenvolver melhores sistemas de gestão de águas residuais também são boas alternativas para o problema.
Por isso, novas alternativas além de fibras sintéticas estão sendo desenvolvidas para quebrar o ciclo de uma vez por todas. Empresas estrangeiras como a AlgiKnit e a Orange Fiber estão criando fibras orgânicas a partir de algas marinhas (kelp) e suco de laranja, que são biodegradáveis e não oferecem riscos para o mar. Além de ser uma ótima alternativa para fibras poluentes, roupas produzidas a partir desses materiais também têm a promessa da durabilidade, que pode ser a solução de outros problemas da indústria têxtil, como o fast-fashion.
Utilizar menos água na lavagem também pode amenizar o impacto. Estudos têm mostrado que, ao reduzir o volume de água usado durante os ciclos de lavagem, o número de microfibras liberadas das roupas pode ser reduzido em até 30%.
Pesquisas já mostraram que as roupas novas eliminam mais microfibras, sendo mais proeminentes nas primeiras oito lavagens. Assim, uma solução é praticar o consumo consciente, evitar tecidos de plástico, comprar menos roupas e conservá-las por mais tempo. Nesse caso, também podemos dar destaque ao slow fashion, uma alternativa sustentável à moda.
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