Leite sintético: o que é, produção e promessas

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O leite sintético é uma tecnologia que tem como objetivo substituir o mercado de leite tradicional. A premissa é obter um produto que, além de não contribuir para a exploração animal, gere menos impactos ambientais e climáticos. Apesar de ainda estar em fase de pesquisa, o leite sintético pode representar uma mudança drástica na indústria alimentícia.

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Qual o problema do leite tradicional?

O leite é comumente produzido em grandes sistemas de exploração animal. Esse produto leva o nome de leite de vaca, e é responsável por pelo menos 3,4% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo o Relatório sobre o Estado do Reino Unido sobre o Clima 2020. Além disso, o gado e outros ruminantes que são utilizados na produção dessa bebida geram 37% das emissões de metano na atmosfera.  

Tudo isso sem contar a grande quantidade de água e energia que são usadas para que a indústria continue funcionando, os maus tratos que os animais sofrem e as queimadas criminosas causadas apenas para obter mais pastos. Esse acumulado de pontos negativos da produção, faz com que muitos indivíduos optem por eliminar de vez o consumo de leite de origem animal. 

Porém, essa atitude não é tão fácil de se colocar em prática. Isso porque dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que 80% da população mundial faz consumo ativo de produtos lácteos. Mas como fazer a substituição desse alimento tão comum na vida do ser humano?

Algumas pessoas optam por cortar de vez o consumo de leite, enquanto outras substituem por alternativas vegetais, como o leite de soja, de castanha ou de amêndoas. Porém, futuramente, o leite sintético poderá ser mais uma opção nas estantes dos mercados.  

Qual é o leite mais saudável?

A lactose é um dos carboidratos encontrados no leite animal, responsável pelo gosto adocicado da bebida. A existência desse açúcar pode causar alergia em algumas pessoas, conhecidas por terem intolerância à lactose. Em casos mais leves, o indivíduo apresenta dores na barriga, constipação ou diarreia, em quadros graves, a alergia pode levar à morte por choque anafilático.

Outro fator que pode tornar o leite animal em uma alternativa não muito saudável é a presença de agrotóxicos e resquícios de antibióticos. O processo de produção de leite concentra substâncias agrotóxicas desde a alimentação dos animais, que podem ser repassadas ao ser humano através da ingestão do leite. Por fim, as vacas leiteiras também recebem antibióticos para lidar com as infecções da extração do leite, que, de acordo com estudos, pode estar ligado ao surgimento de alergias à bebida. 

Levando em consideração todos esses fatores, é possível entender porque alguns grupos optam por evitar a ingestão de leite animal. Como alternativa a isso, eles buscam leites vegetais, não só são livres de crueldade e exploração, mas também não contêm lactose e são seguros para quem tem intolerância. 

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O leite sintético como opção

No entanto, o leite sintético tem ganhado força no mercado e no mundo da pesquisa, principalmente por prometer similaridade ao animal. Existem dois fatores negativos que levam a população para longe do consumo do leite vegetal: o seu gosto e a sua produção.

Por ser feito com uma grande variedade de vegetais, o leite plant-based não tem o mesmo gosto do animal. Na verdade, ele é bem diferente. Isso faz com que algumas pessoas se afastem e sejam desfavoráveis a ideia de substituir a bebida tradicional por uma mais sustentável.

Outro ponto importante, que preocupa alguns ambientalistas, é o fato de que a produção em grande escala de leite vegetal estimula monoculturas. Essa prática é danosa por vários motivos, seja pelo empobrecimento do nutricional e a exaustão do solo, o gasto exagerado de água e energia elétrica, e até mesmo pela perda de fertilidade do solo. Para saber mais, confira: “Monocultura: características e impactos”.

Como o leite sintético é feito em laboratório, o mercado parece promissor. Sem o uso de outros animais, monoculturas e a intervenção direta do ser humano na natureza, especialistas têm apontado o leite sintético como o caminho para um futuro cada vez mais ecológico.

Como é feita a produção do leite sintético?

O leite sintético é feito através de um processo biotecnológico chamado “fermentação de precisão”. Esse é um processo em que genes responsáveis pela síntese das proteínas do leite são introduzidos em microrganismos geneticamente modificados. Depois disso, os organismos são colocados em um biorreator junto com uma solução aquosa com açúcar, minerais e vitaminas.

Quando estão nas condições adequadas de temperatura, oxigênio, pressão e agitação, os microrganismos se proliferam e transformam os açúcares nas proteínas encontradas no leite. Por fim, são adicionados mais açúcares, gorduras, minerais e saborizadores para obter o produto final: o leite sintético. 

O resultado é um produto livre de crueldade animal, e que pode ser customizado para evitar complicações em quadros de condições relacionadas ao consumo de leite, como alto nível de colesterol ruim e intolerância à lactose

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Leite sintético é mesmo o futuro?

O processo de fermentação de precisão não é uma tecnologia nova. Na verdade, ele tem sido usado há anos para a produção de insulina, antibióticos, vitaminas e saborizadores. Para além da criação de leite sintético, ele também tem sido usado para produzir clara de ovos, colágeno e mel.

A ideia de que o leite sintético seria o futuro da indústria alimentar se baseia no fato de que ele se mostra promissor para mitigar o avanço das mudanças climáticas e dos maus tratos aos animais. 

Apesar das grandes possibilidades que podem surgir com o avanço do leite sintético, especialistas ainda não tem certeza sobre o seu futuro no mercado. Afinal, ainda existem muitas perguntas a serem respondidas, como:

  • A alternativa geneticamente modificada é capaz de substituir a homogeneização do leite animal na indústria?
  • O quão ambientalmente correto ele pode ser? Afinal, para que ocorra produção de grande escala é necessário que existam grandes fábricas
  • No caso do leite sintético substituir a indústria leiteira, como ficam os pequenos produtores de leite familiar?
  • Haverá investimento o suficiente para facilitar a baixa dos preços do leite sintético, para que o produto seja acessível? 

Por enquanto essas questões ainda precisam ser respondidas, e o leite sintético é a promessa de um futuro mais sustentável e saudável. A única maneira de garantir que projetos como esses sigam em frente é se posicionando contra os malefícios causados pela indústria do gado e do leite. 

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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