As libélulas são insetos predadores que pertencem à ordem Odonata. Esses animais exercem um papel importante no controle biológico de pragas e atuam como bioindicadores de qualidade ambiental. Além disso, são protagonistas de numerosas crenças e tradições que habitam a imaginação popular há muitos séculos.
Os insetos possuem o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen. Além de um par de antenas, a cabeça das libélulas é ocupada por seus grandes olhos. O tórax, relativamente pequeno e compacto, apresenta três pares de patas e dois pares de asas membranosas ligadas a ele. Já seu abdômen é fino e longo.
O termo “libélula” pode ter se originado de dois termos latinos: libellules, o diminutivo de “livro” (liber) – devido à semelhança de suas asas com um livro aberto – ou libella, que significa balança – enquanto voam, as libélulas parecem uma balança, se mantendo em perfeito equilíbrio.
Odonata é considerada a segunda ordem de insetos com maior número de espécies aquáticas. Sua riqueza global é estimada em cerca de 6 mil espécies descritas.
O conhecimento sobre a distribuição de libélulas brasileiras é restrita. De fato, apenas em 2023, pesquisadores do Laboratório de Zoologia do IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes descobriram uma nova espécie de libélula, que foi encontrada na unidade de conservação do Parque Nacional “Grande Sertão Veredas”.
No entanto, a fauna encontrada no Brasil representa aproximadamente 14% da riqueza mundial.
Em inglês, as libélulas são conhecidas como dragonflies. Segundo uma lenda Xamânica, a libélula era um dragão sábio e dotado de magias que, durante a noite, difundia luz com sua própria respiração de fogo. Um dia, para enganar um coiote, o dragão aceitou o desafio de se transformar em uma libélula, tornando-se prisioneiro de seus próprios poderes. Depois disso, além de perder suas magias, o dragão ficou preso em seu novo corpo para sempre.
A estrutura corporal das libélulas permite que elas sejam caçadoras implacáveis. Elas voam mais rápido do que a maioria dos outros insetos. E, podem mudar instantaneamente a direção do voo, pairando no ar como minúsculos helicópteros. Por permitirem uma visão panorâmica (360 graus), seus grandes olhos são capazes de localizar presas acima, abaixo, em frente, atrás e de ambos os lados.
Seu tempo de voo pode variar de dias a alguns minutos. Como ocorre com as espécies migratórias que apresentam asas mais largas e conseguem planar nas correntes aéreas. As libélulas podem voar de cinco a seis horas por dia, podendo chegar a percorrer 100 quilômetros.
Da mesma maneira que sapos, rãs e pererecas, as libélulas possuem dois ciclos de vida distintos – dentro e fora da água. Impactando tanto os ecossistemas aquáticos quanto terrestres.
Em ambas as fases da vida, as libélulas são predadoras. Na existência submersa, a larva se alimenta de microcrustáceos, como filhotes de peixes, girinos e outras larvas. Depois, já como libélula, sua alimentação se restringe a moscas, besouros, abelhas, vespas e até outras libélulas.
Os registros fósseis de libélulas mais antigos foram encontrados na França e datam do período Carbonífero, há cerca de 300 milhões de anos. No Brasil, os fósseis datam do período Cretáceo (há aproximadamente 100 milhões de anos). E, foram identificados na Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe, na divisa dos Estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Esses arquivos impressionam pela diversidade e pela semelhança na estrutura básica do inseto.
Os ovos de libélulas são postos dentro ou perto da água e levam de duas a três semanas para chocar. Quando nascem, as ninfas (larvas) de libélulas desenvolvem a capacidade de respirar debaixo d’água. Elas utilizam um movimento semelhante à propulsão a jato para se locomover.
Isso as permite devorar organismos aquáticos nocivos, como larvas de mosequito. A ninfa continuará a contribuir para o ecossistema aquático por cerca de cinco anos. Além de insetos nocivos, a larva se alimenta de pequenos organismos, girinos e filhotes de peixes
Em um dado momento, as ninfas fazem a transição do meio aquático para o terrestre. Lá elas fazem sua última metamorfose, transformando-se em libélulas adultas. A mudança para o novo mundo é feita geralmente à noite, para escapar dos predadores.
Em fase terrestre, as libélulas se alimentam de insetos como abelhas, moscas, besouros, vespas e pernilongos. Isso auxilia no controle biológico de doenças transmitidas por esses animais.
Em fase adulta, a expectativa de vida de uma libélula é de seis meses.
A maior parte das espécies de libélulas é nativa de climas quentes, principalmente de regiões tropicais e subtropicais. No entanto, elas podem ser encontradas em todos os continentes, com exceção da Antártida. Em território nacional, 828 espécies são distribuídas em 14 famílias e 140 gêneros.
Na fase aquática, seus membros habitam comunidades de água doce das mais variadas. É comum encontrar representantes da ordem em ambientes lóticos, como rios e riachos, e em ambientes lênticos, como lagoas, lagos e açudes.
Vale ressaltar que a fase larval é sempre aquática, enquanto a fase adulta é terrestre ou aérea.
A presença de libélulas funciona como um excelente bioindicador da qualidade do meio ambiente. Todo rio ou lago com águas limpas possui libélulas. No entanto, mínimas alterações físico-químicas da água ou do ar são suficientes para expulsá-las. Por esse motivo, esses insetos são utilizados no monitoramento de ecossistemas aquáticos.
Por se alimentarem de outros insetos, as libélulas são capazes de ingerir grande quantidade de mosquitos transmissores de doenças, incluindo o Aedes aegypti, evitando sua disseminação. Dessa maneira, elas também desempenham uma importante função como controladores biológicos.
A grande ameaça à vida das libélulas é a poluição ambiental. Na água, alterações no pH, condutividade ou na quantidade de oxigênio dissolvido causam mudanças drásticas em suas características físicas e químicas. No ar, ocorrem processos semelhantes por conta dos gases de efeito estufa e das mudanças climáticas.
As ações antrópicas e as consequentes mudanças climáticas causam efeitos negativos sobre a população dos mais variados insetos. Assim, refletindo no número de indivíduos e em sua distribuição.
Conforme dados levantados pela revista Univates, uma a cada 10 espécies de Odonatas está ameaçada de extinção. Isso reforça a importância de priorizar a conservação de áreas ainda não afetadas pela ação humana. Além de minimizar os impactos da ação antrópica em áreas que já apresentam redução na diversidade de espécies.
Na tradicional cultura nativa americana, a libélula é considerada um símbolo de transformação e renascimento, associada à reencarnação e às almas dos mortos. Esses insetos também podem significar força e prosperidade.
O povo birmanês costumava realizar regularmente o ritual de jogar libélulas nas águas que cercavam seus assentamentos. Atualmente, entende-se que sua intenção era controlar a população de mosquitos e prevenir a disseminação de doenças como febre amarela ou malária. Para o povo nativo, esse ritual trazia proteção.
Além disso, seu voo e as cores refletidas por suas grandes asas geraram fascínio em muitas civilizações. Sua capacidade de sobreviver às transformações da vida é considerada uma inspiração para a existência humana.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais