Por Rodrigo Tammaro em Jornal da USP — Fragmentos de foguetes e satélites, equipamentos inoperantes e até ferramentas perdidas por astronautas. Existem milhões de objetos como esses orbitando o planeta Terra neste exato momento. Esse material sem utilidade é chamado de lixo espacial.
O lixo espacial não existia até o início dos anos 1960, quando os satélites artificiais começaram a ser lançados. Desde então, a quantidade de detritos em órbita aumentou de maneira significativa. Segundo estimativas da Nasa, já são mais de 100 milhões de objetos que viajam ao redor do planeta sem rumo ou função. Esse material é especialmente preocupante, pois pode colidir e prejudicar os satélites em operação.
De acordo com Roberto Costa, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, a situação ainda não é catastrófica, “mas o risco está aumentando com o tempo”. Apesar de a grande maioria desses objetos serem milimétricos, eles viajam em velocidades que podem passar dos 20 mil km/h. “Se eventualmente um fragmento desses colide com um satélite, ele pode causar danos operacionais”, afirma o professor.
Esses objetos podem permanecer em órbita por décadas. É o caso do Vanguard 1, que viaja ao redor da Terra desde 1958. Ao longo do tempo e das interações entre os fragmentos e o campo gravitacional, os detritos se aproximam do planeta até entrarem de volta na atmosfera.
Como a maioria desses objetos é muito pequena, ao entrarem na atmosfera eles queimam e se desintegram, por isso as chances de atingirem o solo são raras. Ainda assim, Costa conta que eventos como esse podem acontecer. Ele lembra de um caso em que pedaços de um foguete passaram pelo norte do Pará. Recentemente também houve um fragmento de foguete que caiu no Oceano Índico.
O professor destaca que o lixo espacial e seus possíveis impactos são especialmente relevantes se considerarmos a importância dos satélites no nosso cotidiano. Esses equipamentos são essenciais para áreas como as comunicações, sensoriamento remoto, meteorologia e militar. Na área de sensoriamento remoto, por exemplo, o Brasil possui satélites de sensoriamento remoto de grande importância para o monitoramento da floresta amazônica, de queimadas e previsões relacionadas às safras agrícolas.
“A nossa vida é muito vinculada com eles. Um problema catastrófico em um satélite pode gerar um prejuízo muito grande para um segmento econômico, regional ou social”, afirma Costa. A própria construção e o lançamento dos satélites envolvem muitos investimentos econômicos e científicos. “Seria uma perda lamentável se tudo isso fosse perdido por causa de uma colisão com um pedaço de alumínio de um foguete que está lá rodando há 20 ou 30 anos.”
“Não vai resolver, não tem como, mas é um problema que precisa ser minimizado.” É assim que o professor Costa avalia as iniciativas para reduzir o volume de lixo espacial. Existem tecnologias em desenvolvimento que buscam coletar esse material. Segundo Costa, isso pode ser útil para remover os fragmentos maiores, mas os pedaços pequenos seriam mais difíceis de serem coletados.
Como a perspectiva de remoção é muito difícil, “daqui para frente a ideia é sempre minimizar o problema”. Nesse sentido, uma alternativa são os foguetes lançadores, que não entram em órbita. No caso convencional, depois que o satélite é lançado, o foguete perde o controle e entra em órbita. A ideia seria utilizar foguetes capazes de lançar os satélites sem entrar em órbita. Assim, eles cairiam em locais programados e não acrescentariam mais lixo ao espaço.
Satélites com desórbita programada também são um caminho. “Sempre tem um satélite que foi lançado, deu tudo certo, mas sua vida útil acabou. O que fazer com ele? Uma possibilidade é incluir a capacidade de desorbitagem, um foguetinho capaz de acelerar ele para baixo de maneira que ele volte a cair na terra.”
“Não importa a sua atividade profissional e onde você mora, a atividade cotidiana de todo mundo é muito ligada a resultados que vêm dos satélites artificiais. Cada vez mais a gente depende deles. É importante ter isso em mente porque cada vez mais a gente vai ter que aprender a evitar que o lixo espacial cause problemas para nós”, conclui Costa.
Este texto foi originalmente publicado por Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não representa necessariamente a opinião do Portal eCycle.
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