Longotermismo: o que esse conceito defende?

Longotermismo é um conceito do altruísmo eficaz, entenda a sua proposta

O longotermismo, também conhecido como longoprazismo, é um conceito criado pelo altruísmo eficaz — um movimento filantrópico de caridade com objetivo de encontrar o melhor jeito de ajudar os outros. O conceito de longoprazismo defende a ideia de que pessoas no presente devem dar prioridade ao futuro de novas gerações. 

O termo foi criado em 2017 pelo filósofo escocês William MacAskill, que o descreve como a ideia de que “afetar positivamente o futuro a longo prazo é uma prioridade moral fundamental de nosso tempo”. No entanto, ao longo dos anos, muitos pensadores criaram outras definições para o termo. 

Toby Ord, autor do livro “The Precipice: Existential Risk and the Future of Humanity”, acredita que o longotermismo “preocupa-se especialmente com os impactos de nossas ações no futuro de longo prazo”. Assim, defende que ações feitas para salvaguardar o potencial da humanidade poderiam melhorar o futuro. 

O que o longotermismo defende? 

Ao todo, o longotermismo é definido como um conjunto de diferentes ideias com o mesmo objetivo: o reconhecimento da importância do futuro na “preservação” da humanidade. Ele defende que a humanidade futura possui um grande potencial não realizado, e que depende do presente fazer com que essas oportunidades sejam exploradas.

O movimento acredita que a proteção da futura geração deve ser feita através de ações preventivas sobre possíveis desastres. De acordo com MacAskill, inventor do termo longotermismo, pandemias catastróficas, um desastre de IA, guerras nucleares ou mudanças climáticas extremas podem inviabilizar o grande potencial apresentado pelo futuro e, por isso, devem ser exploradas para sua possível prevenção. 

Diante disso, defensores do movimento impulsionam pesquisas relacionadas a esses tipos de prevenção. Um desses famosos defensores inclui o empresário Elon Musk, que além de endossar a publicação do livro de MacAskill, também contribuiu para a Future of Life Institute (FLI) — uma organização sem fins lucrativos com o objetivo de “reduzir os riscos enfrentados pela humanidade, particularmente o risco existencial da inteligência artificial avançada”.

Em geral, longotermistas, como são reconhecidos, trabalham a partir do apoio de pesquisas nascentes sobre a prevenção de catástrofes que podem, futuramente, afetar a humanidade. 

Do óbvio ao analítico 

A ideia defendida pelo longotermismo não é um conceito novo, e muitas vezes, vista como senso comum. De fato, grande parte da população já vive com a noção de que ações antrópicas podem influenciar o futuro.

Esse conceito é defendido, por exemplo, por ambientalistas e ativistas pela paz, que urgem a sociedade a caminhar para um futuro melhor, fazendo o possível no presente. 

Porém, muitos defensores do movimento, como o próprio MacAskill, reconhecem que embora nada que seja feito atualmente seja eficaz na mitigação das mudanças climáticas, existem outras possíveis ameaças contra a humanidade. A exploração da inteligência artificial, por exemplo, sendo uma delas. 

Longotermismo e neartermismo 

Dentro dos ideais impostos pelo altruísmo eficaz, existe um outro movimento que se difere do longoprazismo. O neartemismo, como é chamado, acredita no bem-estar da humanidade presente, que sofre com os efeitos de catástrofes atuais. Desse modo, ajudam a arrecadar fundos para combater problemas relacionados à pobreza extrema, incluindo a fome e o combate de doenças que afetam países em desenvolvimento. 

Críticas ao movimento

Muitas críticas ao longotermismo derivam da noção entre o individual e a humanidade como um todo. De acordo com Émile P Torresis, doutorando em filosofia na Leibniz Universität Hannover, na Alemanha, e antigo defensor do movimento, o longoprazismo possui uma visão individualista da humanidade.

“Os longotermistas [crêem que a] humanidade é um indivíduo com seu próprio “potencial” para desperdiçar ou realizar, arruinar ou realizar, ao longo de ‘sua vida’”, disse em seu texto para o Aeon. 

Torresis cria uma situação hipotética de uma catástrofe que reduz a população humana a zero. Dentro dessa situação, tragédias pessoais, como o sofrimento dos envolvidos na catástrofe, seriam negligenciadas por longotermistas, que, em vez disso, argumentariam sobre uma segunda tragédia decorrente do fato de que a extinção encerraria permanentemente o potencial do futuro a longo prazo. 

Nessa visão, situações realmente catastróficas são vistas como apenas um “tropeço” da humanidade, que ainda possui esse grandioso potencial defendido pelo longotermismo. Portanto, o movimento falha em reconhecer a humanidade como um coletivo. 

Além disso, o longoprazismo também sofre críticas referentes ao altruísmo eficaz — movimento que impulsionou a criação do longotermismo. O altruísmo eficaz, por sua vez, foi alvo de uma controvérsia mundial quando um de seus defensores,  Sam Bankman-Fried, usou secretamente os fundos do cliente para cobrir seus próprios negócios, levando ao colapso de sua bolsa e riqueza pessoal.

O escândalo corrompeu o ideal visto pelo altruísmo eficaz como uma metodologia falha, sem proteções significativas para impedir que os ricos ditem o que acontece com o dinheiro acumulado em organizações filantrópicas. E, desse modo, manchou as visões populares sobre suas subsequentes ideias, incluindo o longotermismo.