Luta pela Vida reúne cerca de 5 mil indígenas

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O Acampamento Luta pela Vida começou a semana confirmando expectativas de que seria um dos maiores eventos indígenas realizados em Brasília. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), cerca de 5 mil pessoas de 112 povos e 20 estados, de todas as regiões do país, participaram das manifestações nesta segunda-feira (23). Essa mobilização ainda é a que concentra o maior número de jovens lideranças, também com mulheres em destaque. Uma delas é Txai Suruí, de 24 anos, vinda de Rondônia, o estado mais desmatado da Amazônia proporcionalmente à sua área. Ela está na capital federal com uma delegação de 23 integrantes da Juventude Indígena de Rondônia, movimento do qual é coordenadora e uma das fundadoras.
 
Pela manhã, houve apresentações, cantos e danças de diversos povos. À tarde, Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Apib, organização responsável pelo chamamento para o acampamento, recomendou que as delegações reforçassem o debate sobre os objetivos da mobilização. Nesta terça (24/8), começam as agendas políticas. Haverá uma manifestação no Congresso Nacional, pois uma série de projetos de lei que ameaçam direitos constitucionais dos povos indígenas estão em votação e em discussão no Parlamento, e uma marcha até o Supremo Tribunal Federal (STF), onde guerreiros e guerreiras permanecerão em vigília.
 
Isso porque o STF marcou para esta quarta o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365, que trata de demarcações de terras e teve repercussão geral reconhecida pela Corte. Sendo assim, o que ficar decidido agora influenciará as próximas decisões judiciais sobre o tema. A expectativa dos indígenas é de que, assim como em outras ocasiões, como no caso da demarcação do território Raposa Serra do Sol, o Supremo siga firme como guardião da democracia.
 
No acampamento, foram montadas cinco tendas para atendimento de saúde e credenciamento de delegações de cada uma das regiões brasileiras. Estão sendo realizadas testagens de Covid-19 e foi feita a recomendação para que somente participassem do encontro pessoas vacinadas. Os protocolos sanitários estão sendo observados por uma equipe de saúde de profissionais indígenas em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Fundação Oswaldo Cruz de Brasília e do Rio de Janeiro (Fiocruz DF e RJ), Ambulatório de Saúde Indígena da Universidade de Brasília (Asi/UNB) e Hospital Universitário de Brasília (HUB).
 
Txai está vacinada. Ela conta que sua vida sempre foi vinculada às organizações dos povos originários, por ser filha do líder indígena Almir Suruí e da ativista Neidinha Suruí. Ela é estudante de direito e tem como um dos focos de luta as questões climáticas. A articulação rondoniense reúne cerca de mil jovens de 12 povos, com idades entre 15 e 29 anos. “Ainda estamos discutindo nosso manifesto e diretrizes, esse é um trabalho para conscientização que iniciamos na pandemia e ainda temos muitas restrições por causa dos riscos de contaminação, mas já fizemos várias oficinas sobre direitos indígenas e políticas públicas, por exemplo”, salienta.
 
Para Txai, participar dos protestos em Brasília é reafirmar a importância dos povos indígenas não apenas para a conservação da natureza, mas também da vida humana. “A presença de indígenas é essencial para manter as florestas em pé. As áreas mais conservadas são justamente onde vivemos. E, muitas vezes, estão pressionadas pelo agronegócio”, resume. “O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) deixa claro que os seres humanos não têm mais tempo, já estamos sofrendo emergências climáticas em todo o mundo. E se aqui em Brasília está quente, em Rondônia está insuportável. Agosto é mês de seca e queimadas. Falar em mudanças climáticas é falar em qualidade de vida para o planeta”.
 
Integrante da delegação jovem de Rondônia, o presidente da Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau também fotografa e filma para o coletivo Mídia Índia, presente no acampamento com 48 comunicadores indígenas de diversos estados. Ele ainda usa os equipamentos, como câmera fotográfica, filmadora e drone, para o monitoramento do território indígena contra invasões. Assim, é possível documentar crimes ambientais e fornecer subsídios para que os órgãos de controle atuem. “Essas ferramentas tecnológicas fortalecem as organizações indígenas e também são importantes para que eu possa evoluir no meu próprio trabalho”, afirma. Bitaté considera que a comunicação o aproxima mais da realidade de outros povos e das lutas que precisam ser travadas. “A juventude tem força junto com as lideranças antigas. E as redes sociais dão visibilidade às nossas demandas”, acredita.

Equipe eCycle

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