Por Lucas Guaraldo em IPAM Amazônia | Os meses de seca no Brasil são marcados por extensas queimadas e gigantes incêndios florestais que, além de destruir a vegetação nativa, desequilibram ecossistemas e lançam toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. De acordo com dados do MapBiomas, mais de 2.932.972 hectares foram consumidos pelo fogo até julho de 2022, sendo 1.479.739 apenas na Amazônia.
Anos recordes de incêndios ambientais deixam impactos negativos que podem ser evitados com o uso de técnicas e estratégias de MIF (Manejo Integrado do Fogo). A prática consiste em uma série de ações de conscientização, prevenção, envolvimento comunitário, recuperação de áreas degradadas e, principalmente, a queima prescrita em áreas de biomas adaptados ao fogo e sob risco de grandes incêndios em seus perigos de seca.
Além disso, o MIF se inspira nas comunidades tradicionais, que há gerações usam o fogo de maneira controlada e sustentável, promovendo o monitoramento de áreas naturais, fazendo aceiros e se organizando de maneira articulada para vigilância e primeiro combate dos focos de calor.
Para melhor explicar e ilustrar o funcionamento da estratégia, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) lançam um vídeo informativo. O material tem como objetivo conscientizar a audiência preocupada com meio ambiente sobre a diversidade de ações que o MIF engloba, destacando seus benefícios e esclarecendo dúvidas correntes.
O programa piloto do MIF no Brasil, aplicado no Parque Nacional da Chapada das Mesas, Parque Estadual do Jalapão e Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, em 2014, conseguiu reduzir em até 39% as emissões de gases de efeito estufa provenientes de incêndios na região, além de ter diminuído até 57% da área queimada por incêndios, em três anos.
Contudo, apesar de muito eficiente no controle da extensão de incêndios e perdas de biodiversidade, o MIF deve ser aplicado de formas diferentes nos diversos biomas do Brasil, respeitando as especificidades de cada vegetação e clima. A queima prescrita que é feita em algumas áreas do Cerrado não se aplica a áreas de florestas úmidas, por exemplo.
No vídeo recém-lançado, Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM, afirma que o MIF tem um papel importante na prevenção de incêndios na Amazônia, e comenta as peculiaridades de sua aplicação na floresta. “Na Amazônia, segundo bioma que mais queima no Brasil, o MIF é fundamental porque trabalha na perspectiva da prevenção. Então trabalhamos com a confecção periódica de aceiros em áreas de risco, formação de brigadas locais, mapeamento da vegetação, das áreas vulneráveis e de barreiras à passagem do fogo”, explica.
Os incêndios aumentam a poluição do ar e a emissão de gases do efeito estufa, acentuando as mudanças climáticas, alterando o ciclo das chuvas, essenciais para o abastecimento da população e irrigação de lavouras, e aumentando as diferenças de temperatura. Seus impactos ainda incluem a morte de animais silvestres, degradação de ecossistemas, o aumento de doenças respiratórias e prejuízos econômicos a toda sociedade.
Para além da mitigação às mudanças do clima, o MIF possibilita uma economia aos cofres públicos, considerando que os gastos com combate a incêndios envolvem mais despesas com aeronaves, helicópteros, combustível, equipamentos e horas de trabalho e desgaste das equipes envolvidas. Todo o esforço de prevenção e planejamento do MIF garante um melhor custo-benefício.
Para Lívia Carvalho Moura, assessora técnica do ISPN que pesquisa o MIF no Cerrado há mais de doze anos, a prevenção é tema urgente e pouco debatido na esfera política. “O MIF precisa entrar na agenda das políticas públicas. Em vez dos combates urgentes, exaustivos, trágicos e caríssimos, entra em cena um planejamento preventivo”, afirma.
Assista ao vídeo completo no canal do IPAM no YouTube:
Estagiário sob supervisão de Natália Moura*
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