Por Guilherme Castro Sousa em Jornal da USP | Em um artigo publicado no periódico Nature, pesquisadores da Escola de Ciências e Engenharia Ambiental de Shenzhen, na China, analisaram dados de satélite fornecidos pela agência espacial norte-americana (Nasa) e detectaram um aumento na proliferação de microalgas, também conhecidas como fitoplâncton, nas regiões costeiras de todo o planeta.
De acordo com Frederico Brandini, professor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, o fitoplâncton é um ser fotossintetizante essencial para a produção de oxigênio na atmosfera. Essa fotossíntese é realizada através da clorofila, pigmentação de coloração verde, responsável pela captação de luz solar tanto nas plantas quanto nas algas. E foi essa característica que possibilitou a detecção, via satélite, desses seres microscópicos. “Quando a radiação solar bate no oceano, reflete sobretudo a luz verde, que é oriunda dessas microalgas, desses pigmentos fotossintetizantes”, ilustra.
No estudo, com auxílio de algoritmos computacionais, cientistas analisaram dados de satélite para comparar o tamanho e a frequência da proliferação de algas ao longo das costas dos continentes do mundo. “Eles transformam essas imagens numa concentração de clorofila na água, haja vista que, quanto mais refletido o verde, mais clorofila. Então, é possível calibrar e medir numa escala planetária”, conta o professor, que não participou da pesquisa.
“Microalgas são pequenas porque precisam se manter em sustentação. Elas não precisam ter um tronco, uma única célula é capaz de fazer tudo que uma árvore faz: absorver nutrientes, [fazer] trocas gasosas, excretar, fazer fotossíntese.” Por isso, o professor explica, esses organismos não precisam acumular carbono, além de servirem de alimento para crustáceos microscópicos.
Contudo, apesar de serem importantes para o equilíbrio da biosfera terrestre, o crescimento acelerado das microalgas pode denunciar desequilíbrio ambiental. Segundo o especialista, a concentração desses organismos já aumentou de 20% a 30% nos últimos 20 anos e a aceleração desse crescimento, como apontada no artigo, só reafirma esse diagnóstico.
“As algas, quando crescem demais, acumulam matéria orgânica no sedimento marinho. Isso demanda mais oxigênio para ser degradado, causando condições anóxicas (com baixa concentração de oxigênio)”, explica Brandini. Além disso, o professor também destaca que certas espécies produzem elementos tóxicos que podem prejudicar a atividade humana nos mares.
Considerando as mudanças climáticas que podem influenciar essa proliferação, o professor sugere maneiras de lidarmos com as consequências. “Com modelagens podemos fazer previsões. Quando essas microalgas nocivas chegam à costa, [isso envolve] os ventos, as marés e condições de temperatura. Assim, podemos saber, mais ou menos, quando [será] propício para proliferação dessas algas. E aí, podemos prever blooms [florescimentos] de algas nocivas com uma certa antecedência”, conclui.
A reportagem é de Elaine Alves
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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