A masculinidade frágil é a ansiedade que o homem sente ao acreditar que está se distanciando do que a sociedade denomina como padrões de masculinidade. Este sentimento pode motivar a pessoa a ter atitudes e ações compensatórias, que têm o intuito de restaurar as “verdadeiras” ações masculinas.
Apesar do tema da masculinidade frágil ter sido abordado há pouco tempo, já existe uma grande quantidade de estudos que revelam as consequências e as bases desse sentimento. A masculinidade frágil é uma constelação de atitudes regressivas socialmente que reforçam a dominação da mulher pelo homem, desvalorização de mulheres, homofobia e violência.
O gênero é uma construção social binária que divide as pessoas em dois grupos: homens e mulheres. Por muito tempo, se denominou o gênero das pessoas a partir do sexo biologico que elas apresentavam ao nascer. Ou seja, uma pessoa com órgãos reprodutivos masculinos, seria entendida como um homem.
Por esse mesmo motivo, se pregou, e ainda prega, a ideia de que as pessoas podem ser reduzidas a gêneros. Tese que é muito questionada por cientistas da área da biologia e da antropologia. Logo, com o desenvolvimento da sociedade, também surgiram estereótipos designados para cada um dos gêneros. Estereótipos estes que influenciam diretamente a masculinidade frágil.
Há o pensamento de que a fragilidade, o sentimentalismo e a inferioridade são traços femininos que devem ser expressados apenas por mulheres. Assim, o homem está diretamente ligado a traços de força, racionalidade e dominação.
Apesar das questões de gênero e masculinidade frágil terem entrado em debate nas últimas décadas, esse ciclo ainda é muito presente. Isso porque a desigualdade de gênero ainda tem respaldo na sociedade, e o homem ainda é visto como uma figura superior e fadada a estar no poder.
De acordo com o psiquiatra Raymond Buscemi, estudioso do tema, a masculinidade frágil está restrita às ações de negar o feminino. Ou seja, um homem com masculinidade frágil tem a sua identidade de gênero totalmente voltada ao fato de que ele não é uma mulher, e ele precisa provar isso constantemente.
Quando uma pessoa apresenta a masculinidade frágil, ela geralmente se defende afirmando que não tem traços de mulher. Desta forma, ela reafirma não ser uma pessoa sentimental, fraca e afeminada. Afinal, é comum que, quando em contato com outras pessoas, esse indivíduo seja caçoado ou inferiorizado por essas mesmas características.
Essa situação gera um medo constante de apresentar características femininas e ser reprovado pelos outros membros do grupo por isso. A pessoa que desenvolve a masculinidade frágil acaba afetando todos ao seu redor com este sentimento.
Por exemplo, um pai que constantemente expressa sinais de sua masculinidade frágil, diminuindo a existência de sua mulher como um ser feminino e negando seus sentimentos, certamente vai impactar aqueles ao seu redor. Se seus filhos apresentarem características femininas, eles provavelmente serão reprovados por si mesmos ou pela figura paterna.
A masculinidade frágil gera uma urgência em se provar homem.
Essa frase vem da ideia de que o sentimentalismo é uma função unicamente feminina. Todas as pessoas têm sentimentos e a capacidade de chorar, isso não está restrito a um gênero específico. Chorar não torna inferior.
Outro fator que intensifica a desigualdade de gênero é a separação de atividades e gostos. Não existe separação de gênero quando se trata de atividades, sentimentos e gostos. Cada um pode gostar do que quiser, independentemente de ser mulher, homem, ou pessoa não-binária.
Uma outra característica da masculinidade frágil é a necessidade de expressar agressividade. Existe uma crença de que todo homem é violento e agressivo e isso é uma característica normal. No entanto, essa ideia influencia na mortalidade masculina e está diretamente ligada com o fato dos homens morrerem mais que as mulheres, vítimas de suas próprias atitudes machistas.
A masculinidade frágil presa pela distância do homem de qualquer característica socialmente considerada feminina. O que significa que a homofobia é muito presente neste cenário.
Afinal, para a sociedade conservadora, não existe nada mais feminino do que um homem que tem interesse em outro homem. Além disso, homens homossexuais que apresentam características “femininas”, como ser sentimental, cuidar da aparência ou ser interessado em moda, são estigmatizados por aqueles de masculinidade frágil.
Para a masculinidade frágil, quem está em desvantagem é o gênero feminino. Afinal, as normas de gênero pregam que a mulher precisa ser protegida pela figura masculina. Isso faz com que muitos homens cresçam vendo a imagem feminina como algo menos que um ser humano.
Ou seja, como um indivíduo com pouco valor, que deve servir apenas às necessidades masculinas. Este tipo de pensamento é uma das bases da masculinidade frágil, e porque cerca de 13 mulheres sofrem feminicídio — homicídio em decorrência de gênero — todos os dias no Brasil.
Um estudo, publicado na revista Social Psychological and Personality Science, realizou análise de dados fornecidos por mulheres sobre suas relações sexuais com seus parceiros. Segundo a pesquisa, quanto mais uma mulher enxergava masculinidade frágil em seu parceiro, mais ela era propensa a ansiedade, não experienciar orgasmos e pouca comunicação.
Outra análise feita pela revista, também revelou que mulheres que estão em relacionamentos com homens de masculinidade frágil são menos propensas a terem uma comunicação sexual sincera. Ou seja, costumam mentir mais a respeito de sua satisfação sexual.
Uma pesquisa recente, publicada pela Current Opinion in Behavioral Sciences, provou que a masculinidade frágil tem papel importante na política. Para os estudiosos, existe uma ligação entre atitudes políticas que são agressivas, apoio a partidos extremistas e a existência de uma masculinidade frágil.
Quando se trata de assédio, a masculinidade frágil também está presente. De acordo com estudo realizado com 284 homens, aqueles que se consideram menos masculinos que a média são mais propensos a praticarem algum tipo de assédio sexual, moral ou verbal à mulheres na internet.
Em artigo publicado na revista Scientific American, um experimento com mais de 2 mil participantes da China e dos Estados Unidos mostrou que homens são menos propensos a ações eco-friendly. Para os estudiosos, isso se explica pois esses homens de masculinidade frágil acreditam que a preocupação com o meio ambiente é uma característica unicamente feminina.
Homens com masculinidade frágil são mais propensos a desenvolverem atitudes agressivas e violentas. Este fator foi revelado em estudo da Duke University. Os pesquisadores descobriram que homens jovens definem sua masculinidade pela opinião dos outros. O que acaba gerando mais probabilidade de ações hostis.
Se você está buscando entender como combater a masculinidade frágil, é possível fazer isso desconstruindo muitos padrões viciosos da sociedade. Para lutar contra a masculinidade frágil é preciso lutar pela igualdade de gênero, para que todas as pessoas entendam que não existe diferença entre os seres humanos, e todos merecem as mesmas oportunidades.
Você pode começar suas ações ensinando a juventude a não desenvolver masculinidade frágil. Isso pode ser feito aceitando os sentimentos de meninos, falando para eles que não existe tal coisa como “homem não chora” ou “o homem é mais forte”. Além disso, também os criando em condições iguais às meninas, onde ambos têm os mesmos direitos e responsabilidades, seja em casa ou em sociedade.
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