“Melhor amigo do homem” é um sinônimo para cachorro há muito tempo. Mesmo que o termo tenha sido adequado para melhor amigo do ser humano, o sentimento é o mesmo. A lealdade e carinho dos cães foi traduzida para uma amizade entre espécies, mas de onde veio essa noção?
A domesticação do cachorro ocorreu há milhares de anos, onde antes disso, os lobos que originaram esse animal trabalhavam em cooperação com os seres humanos. Na caça, uma ajuda mútua se estabelecia entre lobo e o homem, o que pode ser uma das alavancas nessa “amizade” histórica.
Especialistas defendem a ideia de que essa relação é mutuamente benéfica desde então. Os cachorros são, por características próprias, animais sociáveis e após a sua domesticação, não conseguem sobreviver sozinhos na maioria das vezes. Por outro lado, o ser humano também precisa do companheirismo de seu melhor amigo, criando uma relação simbiótica.
Os primeiros indícios de domesticação de animais são pela criação de lobos filhotes. Especialistas acreditam que o ser humano, ao socializar com esses filhotes, estabeleceu o papel de alfa. O alfa de uma alcateia é a figura mais respeitada entre os lobos, portanto, os animais começaram a respeitar os humanos.
Na caça, os humanos se beneficiavam do olfato, audição e visão dos lobos, além de sua energia e rapidez na hora de capturar suas presas. Por outro lado, os seres humanos eram uma fonte de alimento e abrigo para esses animais.
Os lobos, então, aceitaram o seu papel de melhor amigo do homem, sendo domesticados por gerações — consequentemente evoluindo para cachorros.
Acredita-se que o termo melhor amigo do homem surgiu na Suprema Corte dos Estados Unidos, em 1870. Em um caso onde o cão de um homem foi assassinado por seu vizinho, o advogado George Graham Vest disse:
“O único amigo absoluto e altruísta que o homem pode ter neste mundo egoísta – aquele que nunca se mostra ingrato ou traiçoeiro – é seu cachorro.”
De acordo com uma pesquisa publicada no Scientific Reports, mutações no gene do receptor de melanocortina 2 — que é associado à produção de cortisol — podem ser responsáveis pela domesticação do cachorro. Anterior à pesquisa, especialistas acreditavam que a domesticação tinha origem na mudança de genes responsáveis pela influência do comportamento social dos animais. Contudo, ainda não havia uma explicação concreta para embasar essa teoria.
Na pesquisa, especialistas dividiram dois grupos de cachorros: o grupo “antigo”, com raças mais próximas aos lobos, como o Husky Siberiano e o grupo geral, com qualquer outra raça distante da espécie de origem. Esses cachorros passaram por dois testes.
No primeiro teste, eles tinham que indicar em qual de dois potes continha comida escondida. O segundo era um teste de resolução de problemas, em que os grupos tinham que abrir um recipiente para ter acesso a comida.
A análise feita por especialistas responsáveis pela pesquisa era de quanto tempo os cachorros passaram observando os experimentos. Essa observação, sugere-se, representava o apego social aos humanos. De acordo com a pesquisa, o grupo antigo passava menos tempo analisando os experimentos, o que indica um apego menor aos seres humanos.
A partir disso, alguns genes foram analisados dentro dessas características caninas, como os genes da ocitocina, receptores de ocitocina, receptores de melanocortina 2 (MC2R) e um gene chamado WBSCR17. Duas alterações no gene MC2R foram associadas a essas características do grupo geral — da aproximação aos seres humanos.
Desse modo, os autores da pesquisa sugerem que essas alterações podem ter um papel importante na domesticação do cachorro e na noção de que é o cachorro é o melhor amigo do homem.
Em uma análise transcultural, pesquisadores de Antropologia da Washington State University, nos EUA, descobriram que vários fatores podem ter desempenhado um papel relevante na construção da relação mutuamente benéfica entre humanos e cães – incluindo temperatura, caça e, surpreendentemente, gênero. As evidências sugerem que o cachorro não é, como dizem por aí, o melhor amigo do homem – na verdade, ele provavelmente é o melhor amigo da mulher. Um artigo com detalhes da pesquisa foi publicado no Journal of Ethnobiology.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais