Supermercados e grandes varejistas nos Estados Unidos, como Kroger, Walmart e Costco, estão descobrindo que doar alimentos vencidos para bancos de alimentos pode ser mais vantajoso do que simplesmente vendê-los com desconto ou descartá-los. Um estudo recente revela que a prática de doar itens prestes a expirar, além de ser um ato de responsabilidade social, aumenta os lucros ao liberar espaço para produtos mais frescos nas prateleiras. Além disso, essa abordagem melhora a percepção da qualidade dos produtos por parte dos consumidores, o que impacta positivamente nas vendas.
Dados de 2022 mostram que grandes varejistas doaram cerca de 2 bilhões de libras de alimentos, o equivalente a US$ 3,5 bilhões, para bancos de alimentos e outras instituições. Ao contrário do que se poderia pensar, os alimentos doados são frequentemente palatáveis e seguros para consumo, mas com imperfeições estéticas que os tornam inadequados para venda. O impacto dessa estratégia vai além da responsabilidade social. Economistas que estudam a cadeia de suprimentos afirmam que as doações ajudam a melhorar a qualidade dos alimentos expostos, o que, por sua vez, eleva a receita e a margem de lucro das lojas. O estudo aponta que ao remover produtos vencidos das prateleiras e substituí-los por itens mais frescos, as vendas podem aumentar de forma significativa, beneficiando tanto as redes de varejo quanto os consumidores.
Nos EUA, os bancos de alimentos atuam há mais de 50 anos, distribuindo mais de 6 bilhões de libras de alimentos por ano, sendo que 30% desse volume é proveniente das doações de grandes varejistas. Esse fluxo de alimentos é crucial para o combate à fome em um país onde quase 50 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar. Embora haja programas governamentais, como o Programa de Assistência Alimentar de Emergência, as doações do setor privado continuam sendo uma parte vital dessa rede de apoio. Durante a pandemia de COVID-19, o volume de alimentos doados por supermercados e grandes redes praticamente dobrou em relação ao que era oferecido pelo governo.
Em meio a esse cenário, a prática de “remoção preventiva” se destaca. Esse termo, utilizado pelos pesquisadores, refere-se à decisão de retirar produtos perecíveis que estão próximos do vencimento para abrir espaço para itens mais novos. Essa escolha não só melhora a aparência das prateleiras como também eleva a percepção da qualidade dos produtos da loja. Ao manter alimentos com desconto ou em condições visivelmente inferiores à venda, como bananas manchadas ao lado de frutas frescas, o varejista corre o risco de prejudicar sua imagem. Isso pode gerar um efeito negativo, fazendo os consumidores questionarem a qualidade geral dos produtos oferecidos pela loja.
Ao optar pela doação desses itens, os varejistas não só evitam a perda de alimentos, mas também aumentam o valor médio dos produtos restantes. A pesquisa indica que a prática pode elevar os preços médios em até 1%, o que representa um aumento de 33% nas margens de lucro. Considerando que as margens de lucro de supermercados e outros varejistas de alimentos costumam ser inferiores a 3%, esse crescimento, ainda que pequeno, tem um impacto significativo no resultado financeiro.
Por outro lado, vender alimentos próximos do vencimento com desconto pode ser menos vantajoso do que parece. Além de ocupar espaço que poderia ser destinado a produtos novos, a presença de alimentos com qualidade questionável pode afastar os consumidores mais exigentes. Embora as lojas recuperem algum valor ao vender esses itens com desconto, o impacto na percepção da marca e no espaço das prateleiras pode ser mais prejudicial do que o retorno financeiro obtido.
Portanto, para muitas redes varejistas, a doação de alimentos vencidos surge como uma solução estratégica, permitindo que lucrem mais ao mesmo tempo em que colaboram para reduzir a fome e o desperdício. É uma estratégia que, ao mesmo tempo em que contribui socialmente, melhora o desempenho financeiro das empresas.
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