Meteorologia: por que é tão importante prever o tempo?

A meteorologia estuda a atmosfera terrestre, suas propriedades e seus fenômenos, produzindo informações importantes sobre seus impactos no tempo e clima da Terra.

As condições de alguns elementos são analisadas pela meteorologia e suas características ajudam na construção da previsão do tempo. Fatores como temperatura, umidade e pressão do ar, velocidade e direção dos ventos, além da quantidade e tipos de nuvens e de precipitação, somados às modificações que possam ocorrer, ajudam a compreender mudanças iminentes no planeta e estabelecem as previsões meteorológicas.

De acordo com a Universidade de Michigan existem algumas razões para a meteorologia ser uma ciência tão relevante. A atmosfera terrestre e suas alterações são fundamentais para compreender vários aspectos do clima terrestre. 

Qual é a importância da meteorologia?

Com a compreensão da atmosfera e de seus elementos é possível entender (e até se antecipar) às mudanças que podem afetar a vida na Terra. Nesse sentido, a meteorologia busca compreender o funcionamento da atmosfera e dos aspectos que moldam a previsão do tempo. 

A previsão do tempo é uma ferramenta essencial para um bom desenvolvimento da vida terrestre. Isso porque saber sobre o tempo é uma forma de se antecipar, se planejar e, em alguns casos, se proteger dos fenômenos do clima. Desde a forma como nos vestimos até o preço que pagamos por determinados produtos são influenciados pelas previsões meteorológicas.

A agricultura é uma das áreas onde essas previsões são de extrema importância. Os níveis de chuva, as variações de temperatura e eventos climáticos impactam diretamente nos cultivos agrícolas. Nesse contexto, as previsões do tempo também fazem parte da gestão das lavouras. 

Na área da aviação, a meteorologia também é parte cotidiana, já que é indispensável conhecer a previsão do tempo para garantir a segurança das operações. O mesmo se aplica à marinha.

Além disso, os estudos relacionados às mudanças climáticas formam uma outra área importante da meteorologia. A previsão de eventos climáticos, principalmente os extremos, que podem causar profundo impacto numa micro ou macro região, é primordial para a sociedade. Apesar de não serem capazes de modificar os acontecimentos, a previsão de eventos climáticos extremos pode salvar vidas.

Como são feitas as previsões do tempo na meteorologia?

Previsões do tempo podem ser feitas dentro de quatro escalas, que abrangem variações de espaço e tempo. São elas:

  • Escala sinótica: abrange fenômenos que atingem grandes áreas, com fenômenos também em grande escala, tais como ciclones e anticiclones extratropicais.
  • Escala global: se relaciona a padrões climáticos no transporte de elementos como calor, vento e umidade, por todo o globo. Um exemplo é a circulação atmosférica global, que é a distribuição do calor, ao longo da superfície terrestre, graças a movimentação de ar.
  • Microescala: aplicada para fenômenos meteorológicos que atingem pequenas áreas. São analisadas, normalmente, eventos que ocorrem próximos ao nível do solo, em conjunto com fenômenos químicos, como as transformações sofridas por gases poluentes no ar de uma cidade.
  • Mesoescala: estuda fenômenos que podem atingir regiões localizadas, mas de forma severa, como tempestades e inundações. Incluem dois processos importantes, conhecidos como complexos convectivos de mesoescala (CCM) e sistemas convectivos de mesoescala (SCM).
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O que são sistemas convectivos (SCM)?

Os SCM são sistemas formados por aglomerados de nuvens convectivas, que são as grandes nuvens que se desenvolvem na vertical, por conta de correntes de ar ascendentes. As nuvens convectivas podem ser classificadas como Cumulus e Cumulonimbus.

Foto de Ripato no Freepik

Essas nuvens surgem quando a atmosfera está instável, pois o ar da superfície está mais quente do que sua porção acima. O ar quente é menos denso, portanto, tende a subir, formando as chamadas correntes de convecção. A altura dessas nuvens pode ultrapassar 10 km, chegando à tropopausa, que é a faixa de transição entre a troposfera e a estratosfera (1ª e 2ª camadas da atmosfera, a partir da superfície).

Essa instabilidade atmosférica, fruto do SCM, está associada a tempestades, fortes ventanias e  descargas elétricas. Esse fenômeno meteorológico, que também pode causar queda de granizo, tem sua duração mínima variando entre seis e doze horas.

O que são complexos convectivos (CCM)?

Os primeiros estudos sobre o SCM datam da década de 1980, quando o pesquisador estadunidense Robert A. Maddox associou o surgimento de desastres naturais, como queda de granizo, enchentes e vendavais, com os sistemas convectivos de mesoescala.

Os SCM, de acordo com Maddox, podem ser do tipo linear tropical ou circular. Os nomes estão ligados a forma como os sistemas se desenvolvem na atmosfera. No caso dos CCM, que são uma subdivisão do SCM, nuvens de tempestades se aglomeram em um formato quase circular. 

Imagem de satélite da formação de uma tempestade (CCM), no mar do Caribe / Foto de Nasa, sob domínio público no Wikimedia Commons

Variações da meteorologia causadas pelo aquecimento global

Um estudo, realizado por pesquisadoras da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e da Universidade de São Paulo (USP), analisou as características de dois ciclones que atingiram a região Sul do Brasil, no inverno de 2023.

Os ciclones apresentaram padrões anormais de formação e deslocamento, causando uma série de impactos nas regiões atingidas, inclusive mortes.

De acordo com as pesquisadoras, existem três regiões na costa atlântica da América do Sul, que são favoráveis à formação de ciclones, em escala sinótica. Esses fenômenos podem ser comuns ao Sul da região costeira da Argentina, ao extremo Sul entre Uruguai e Brasil ou na área que vai do sudeste ao Norte da região Sul do Brasil. 

O estudo destaca ainda, a diminuição do intervalo entre os eventos, levando a uma maior frequência, além das condições de tempo extremo. Chuvas intensas, com enchentes, inundações, deslizamentos de terra e ventos fortes causaram destruição em diversas regiões do País, principalmente entre 2000 e 2023.

Ciclones atípicos atingem Sul do Brasil em 2023

Os ciclones de 2023 ocorreram no intervalo de um mês. O ciclone ocorrido em junho se formou no litoral do Rio de Janeiro e migrou, de forma anormal, contrariando a trajetória padrão, causando forte ventania em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Quando atingiu Porto Alegre, o sistema causou chuvas tão extremas, que atingiram níveis não vistos desde 1916. O ciclone percorreu 7558 km, durando cerca de 9 dias, bem mais do que a média, que é de três dias.

Rio Grande do Sul em junho de 2023 / Foto de Governo do Estado do Rio Grande do Sul, sob CC BY-NC 2.0 DEED no Flickr

Já o ciclone, que ocorreu no mês seguinte, teve origem entre Paraguai, Argentina e Rio Grande do Sul e causou chuvas e ventos extremos. Essa região é uma das que apresenta menor frequência de ciclogêneses (formação de ciclones) na América do Sul. No entanto, é uma região que apresenta SCM, principalmente durante as estações mais quentes do ano, o que levanta um estado de alerta. Esse ciclone também durou além da média, foram 4 dias e cerca de 5280 km percorridos.

El Niño

A análise do 2º ciclone demonstrou que a região de sua origem apresentou fluxos de umidade e transmissão de calor anormais na atmosfera para a época do ano. Essas condições meteorológicas são típicas do verão. Outro ponto destacado pela pesquisa é a atuação do fenômeno El Niño, que estava presente alterando a circulação atmosférica e intensificando os chamados jatos subtropicais (correntes de ar de alta velocidade), que podem causar divergências atmosféricas.

Segundo as pesquisadoras, com os efeitos das mudanças climáticas e o aquecimento global, a tendência é de que esses fenômenos passem a se tornar cada vez mais potentes, causando chuvas, ventanias e inundações severas. Em maio de 2024, 450 cidades do Rio Grande do Sul foram novamente afetadas por eventos extremos do clima. Mais de 90% do estado ficou debaixo d’água, sofrendo com mais destruição e mortes.

Nesse contexto, fica nas mãos dos governantes buscarem medidas adaptativas, que possam amenizar os efeitos desses fenômenos extremos, protegendo a população dos impactos destrutivos que esses eventos podem causar. 

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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