Os microplásticos, como o próprio nome diz, são pequenas partículas de plástico. Esse tipo de material é um dos principais poluentes dos oceanos. Alguns pesquisadores consideram que o tamanho máximo dos microplásticos é de 1 milímetro, enquanto outros adotam a medida de 5 milímetros.
O problema é que, como mencionado em nossa matéria sobre a grande quantidade de plástico nos oceanos, os microplásticos alteram a composição de certas partes dos oceanos. Isso prejudica o ecossistema da região e consequentemente a saúde humana.
Nas últimas décadas, a produção de plástico tem aumentado cada vez mais, independentemente de sua matéria-prima, em função da sua aplicabilidade em itens de diferentes setores. Dentre os polímeros mais comuns, destacam-se:
Eles correspondem a cerca de 90% da demanda de plástico no mundo. Essa procura por materiais plásticos está relacionada ao seu baixo custo, alta durabilidade e resistência a produtos químicos, radiação e pressão.
Em consequência do consumo de produtos feitos por esses polímeros, são geradas grandes quantidades de resíduos que nem sempre são reciclados ou reutilizados. Assim, eles são lançados de forma direta ou indireta no ambiente e causando uma série de danos. Desse modo, as atividades antrópicas e industriais são consideradas altamente impactantes, pois são as principais fontes de inserção de plásticos no ambiente.
Grande parte das roupas são compostas por fibras têxteis sintéticas de plástico – um exemplo é o poliéster. Durante a lavagem das roupas, por meio do choque mecânico, as partículas de microplásticos se desprendem e acabam sendo enviadas para o esgoto, indo parar em corpos hídricos e no ambiente.
Cientistas de Hong Kong indicam que as secadoras de roupas são as maiores fontes de poluição de microfibras de plástico na atmosfera. Foi relatado que apenas uma secadora é responsável pela liberação de 120 metros de microfibras no ar a cada ano.
De acordo com os condutores da pesquisa, as microfibras de plástico permaneceram poluindo o meio ambiente enquanto a indústria têxtil permanecer usando tecidos sintéticos. Nos testes feitos em laboratório, foi observado que tecidos orgânicos como o algodão também soltam microfibras. No entanto, esse material é biodegradável e pode ser digerido por animais, diferentemente do plástico.
A descoberta feita na Universidade da Cidade de Hong Kong é um passo para solucionar o problema das microfibras no ar. Porém, filtros de microplásticos já estão sendo produzidos e utilizados em diversas partes do mundo.
Na Grã Bretanha, por exemplo, membros do congresso visam criar uma nova regulamentação para que todas as máquinas de lavar a partir de 2025 tenham um filtro de microplásticos embutido. A Austrália, União Europeia e a Califórnia também estão considerando a criação de uma regulamentação parecida.
Porém essas regulamentações devem ser mudadas para abranger a filtração do resíduo liberado pelas secadoras.
As fibras têxteis de plástico também vão parar no ar. Um estudo sugere que o simples atrito de um membro do corpo humano com o outro, quando a pessoa está vestida com roupas de fibras têxteis sintéticas plásticas, já seria o suficiente para dispersar os microplásticos na atmosfera. Essa poeira pode ser inalada, juntar-se ao vapor ou ir parar em seus alimentos, por exemplo.
Alguns sabonetes, cremes, pastas, géis e máscaras esfoliantes são um perigo para o ambiente. Esses produtos podem ser feitos com partículas de polietileno que, após o uso, caem diretamente na rede de esgoto. Mesmo quando há estações de tratamento, as microesferas de plástico dos cosméticos não são retidas pela filtragem de partículas. Isso porque são muito pequenas e acabam indo parar no oceano.
Uma reportagem mostrou que a tinta plástica utilizada em casas, carros e navios se desprende por meio de intempéries e vai parar no oceano, formando uma camada de microplásticos na superfície do mar. Vale ressaltar que as tintas látex e acrílicas usadas para artesanato também podem ser acrescentadas nesse tópico como materiais geradores de microplásticos.
A pesca fantasma está associada ao abandono e descarte de equipamentos desenvolvidos para capturar animais marinhos. Além de colocar em risco toda a vida marinha, esses itens possuem plástico em sua composição. Ao se degradarem, essas partículas plásticas se transformam em microplásticos.
Diferente dos resíduos plásticos que se degradam até se tornarem microplásticos, os nurdles já são feitos com um tamanho reduzido. Eles são a maneira mais econômica de transferir grandes quantidades de plástico para fabricantes de uso final do material em todo o mundo.
O problema é que navios e trens despejam acidentalmente essas bolinhas em estradas ou no mar. Ou a parte que sobra da produção não é tratada adequadamente. Se alguns milhares de nurdles caem no mar ou em uma rodovia, é praticamente impossível fazer a limpeza.
Material semelhante aos nurdles são os pellets, feitos da mesma maneira mas em formato cilíndrico. Os pellets também vão parar no ambiente devido às perdas no transporte e contaminam corpos hídricos, solo e animais.
Durante o ano, pelo menos oito milhões de toneladas de resíduos plásticos que foram descartados incorretamente vão parar nos oceanos, lagos e rios do mundo todo. Esses descartes, se fossem encaminhados corretamente para a reciclagem, poderiam voltar para a cadeia energética. Mas, uma vez no oceano, se fragmentam em microplásticos e acabam entrando na cadeia alimentar, participando inclusive da dieta humana.
Cada canudo, sacola, tampa, rótulo ou embalagem descartados incorretamente se quebrarão e formarão microplásticos. O plástico não desaparece, só fica menor.
Os microplásticos de pneus derivam do atrito entre a superfície das estradas e os pneus, resultando no desgaste e abrasão de ambos os materiais. Esse desgaste faz com que partículas de polímeros sintéticos, chamadas de Partículas de desgaste de pneus e estradas (Tyre and Road Wear Particles ou TRWP), sejam liberadas.
E, embora os pneus sejam feitos de borracha e não de plástico, ambos esses materiais são polímeros. De fato, as partículas de pneus são uma das maiores fontes de micro-polímeros que acabam no oceano.
Estimativas apontam que, todos os anos, cerca de 6,1 milhões de toneladas métricas de microplásticos de pneus são liberados no meio ambiente e em corpos d’água. Adicionalmente, um estudo realizado nas proximidades do rio Sena comprovou que 18% das partículas acabam em corpos d’água e outros 2% são levados para estuários.
Quando se fala sobre microplásticos, uma das maiores dúvidas é: o que eles podem causar no meio ambiente e na saúde humana? Veja alguns de seus efeitos:
Quando escapam para o meio ambiente, os microplásticos atuam como captadores de poluentes orgânicos persistentes (POPs) altamente nocivos. Além disso, uma pesquisa publicada no jornal Chemosphere indica que os microplásticos também são responsáveis pelo aumento da toxicidade dessas substâncias em até dez vezes. Dentre esses poluentes estão os PCBs, os pesticidas organoclorados, o DDE e o nonilfenol.
Os POPs são tóxicos e estão diretamente ligados a disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas. Eles ficam durante muito tempo no ambiente e, uma vez ingeridos, têm a capacidade de se fixarem na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais de animais e humanos.
Similarmente, uma pesquisa liderada pela Universidade Politécnica de Hong Kong em conjunto com a Universidade Batista de Hong Kong comprovou que filtros UV podem tornar o cromo metálico mais tóxico quando expostos a microplásticos. De acordo com o estudo, os microplásticos e as substâncias químicas presentes em suas composições interagem com outros poluentes encontrados nesses meios, alterando suas propriedades químicas. Um exemplo disso são os metais, como o cromo — que pode atingir diferentes tipos de oxidação em contato com o material.
Desse modo, os cientistas envolvidos na pesquisa começaram a observar as possíveis interações entre os microplásticos e a oxidação do cromo em relação a outros poluentes comumente encontrados na água, como os filtros UV. Para testar a ação da substância com os microplásticos e o cromo, os especialistas criaram misturas desses agentes com ou sem a interferência de filtros UV do tipo benzofenona.
Os resultados mostraram que, além de influenciar o estado de oxidação do cromo, os filtros UV também contribuem para um maior acúmulo do metal na superfície dos microplásticos.
Ingerir microplásticos contaminados não é muito difícil, já que essas partículas estão presentes no meio ambiente desde o final da Segunda Guerra Mundial. Na Indonésia, trabalhadores da pesca já estão consumindo mexilhões contaminados por plásticos. Mas não é somente na Indonésia, no Reino Unido e na Austrália, os mexilhões também estão contaminados por essas partículas.
Recentemente, um novo estudo realizado pela Universidade de Bayreuth mostrou que os microplásticos estão presentes em mexilhões de todo o mundo. A equipe de pesquisadores investigou a carga de microplásticos de quatro espécies desse molusco que são vendidas com frequência como alimento em supermercados de doze países ao redor do mundo.
Todas as amostras analisadas continham partículas microplásticas, e os pesquisadores detectaram um total de nove tipos diferentes de plástico. O polipropileno (PP) e o tereftalato de polietileno (PET) foram os tipos de plástico mais comuns encontrados durante a realização da pesquisa.
Além disso, outra pesquisa concluiu que a água potável é uma fonte significativa de microplásticos na dieta humana. Por isso, a padronização de métodos para analisar microplásticos faz-se urgentemente necessária. Outro estudo realizado na Universidade Médica de Viena, na Áustria, sugere que uma pessoa comum ingere cerca de cinco gramas de microplásticos por semana. Esse valor é equivalente ao peso de um cartão de crédito e pode ser ingerido de diversas formas.
Os bisfenóis, utilizados em larga escala pela indústria, estão presentes em tintas, resinas, latas, embalagens e materiais de plástico em geral. Quando escapam para o ambiente, além da poluição visual e física que causam, geram poluição química. Uma vez no ambiente e no organismo, o bisfenol se comporta como um disruptor endócrino. Isso significa que ele pode causar esterilização, problemas comportamentais, diminuição da população, entre outros.
Um estudo realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Massachusetts Amherst e da Universidade Shandong, na China, mostrou que os microplásticos presentes no solo podem reduzir a biomassa total das plantas. Isso tem influência direta no rendimento e valor nutricional das safras.
Os microplásticos também apresentam diversos riscos para a vida animal. Alguns exemplos incluem:
Três pesquisas realizadas com o objetivo de analisar a disseminação de microplásticos entre esses indivíduos mostraram que 30% dos peixes amazônicos têm o intestino contaminado por partículas plásticas.
Outra pesquisa demonstrou que os plásticos no oceano podem liberar produtos químicos que causam danos e deformidades nas larvas de ouriços-do-mar. Em um experimento, ouriços-do-mar que tiveram contato com esses compostos tóxicos desenvolveram uma variedade de anormalidades. Algumas delas incluem esqueletos deformados e complicações no sistema nervoso. Dessa maneira, pode-se concluir que produtos químicos utilizados para tratar plásticos também podem apresentar riscos para a vida animal, já que são liberados na água.
Um grupo de cientistas conseguiu provar que a ingestão de microplásticos por uma espécie de mosquito pode desencadear mudanças evolutivas. A descoberta foi feita após cientistas observarem as colônias de insetos em ambientes controlados, mas com quantidades de microplásticos similares ao meio ambiente. Inicialmente, quando o material foi introduzido pela primeira vez, a taxa de mortalidade dos insetos subiu em 50%, provando os possíveis impactos do plástico nos mosquitos.
Contudo, após três gerações, os organismos começaram a criar uma certa resistência às substâncias poluentes do microplástico, diminuindo sua taxa de mortalidade. Isso, notou-se, pode ter sido resultado de uma mudança de genoma da espécie, que possibilitou uma mudança e adaptação tão rápida.
Por fim, um estudo demonstrou que os microplásticos afetam as espécies marinhas de forma desigual. A equipe de pesquisadores identificou tendências que ajudam a explicar por que certos animais são mais vulneráveis à ingestão de plástico do que outros, como é o caso de peixes. De acordo com os dados coletados, espécies que vivem em ambientes marinhos mais poluídos e ocupam níveis tróficos superiores nas cadeias alimentares são mais suscetíveis ao consumo de microplásticos.
Os alimentos embalados por recipientes contendo bisfenol sofrem contaminação. Ao consumirmos esses produtos, ingerimos também o bisfenol. Seu consumo está comprovadamente associado a diversas complicações, como:
Um estudo publicado no Journal of Hazardous Materials indicou que a ingestão de microplásticos através da comida, do ar e da água pode causar lesões celulares. Foi comprovado que esses materiais resultam no dano nas paredes das células, morte celular e reações alérgicas.
Também foi observado que o seu formato pode influenciar no tipo de dano. Microplásticos de formas irregulares causam mais mortes celulares do que os esféricos. Isso é importante porque reflete pesquisas prévias que usavam esferas pristinas em seus estudos.
Sua presença também já foi confirmada na corrente sanguínea, de acordo com uma pesquisa realizada em Amsterdã. O estudo pioneiro testou o sangue de 22 participantes e conseguiu encontrar partículas de plástico em 80% dos voluntários.
A presença dos microplásticos no sangue significa que esse material é capaz de viajar pelo corpo e possivelmente ficar alojado em alguns órgãos. Embora não existam provas concretas, alguns especialistas acreditam que o microplástico inalado através do ar pode se alojar dentro dos pulmões. Portanto, o seu efeito no sangue é preocupante.
Por fim, um estudo mostrou que pessoas com doenças inflamatórias intestinais têm 50% mais microplásticos em suas fezes.
Sua presença também foi confirmada nos pulmões de pacientes vivos. Pesquisas anteriores já estabeleceram que o ser humano respira o material. Porém, seu paradeiro era apenas uma sugestão. Dessa vez, foi possível provar que as partículas de plástico são capazes de alojar nos pulmões, oferecendo possíveis riscos à saúde.
Os cientistas responsáveis pela descoberta alegam não esperar encontrar o material em grandes quantidades nos pulmões. De acordo com eles, as partículas eram maiores do que o imaginado, uma vez que as vias aéreas são estreitas, principalmente no fundo do órgão — onde os microplásticos foram encontrados.
Pela primeira vez, pesquisadores de um estudo publicado na revista Environment International encontraram microplásticos nas placentas de mulheres gestantes, o que causou grande preocupação.
Os pesquisadores notaram uma dúzia de partículas de plástico em apenas 4% de placenta. Isso sugere que o número total de microplásticos pode ser muito maior. Todas as partículas analisadas eram plásticos tingidos de azul, vermelho, laranja ou rosa e podem ter origem em embalagens, tintas ou cosméticos e produtos de higiene pessoal.
No estudo, os pesquisadores concluíram que “devido ao papel crucial da placenta no apoio ao desenvolvimento do feto e em atuar como uma interface com o ambiente externo, a presença de partículas de plástico potencialmente nocivas é uma questão de grande preocupação. Mais estudos precisam ser realizados para avaliar se a presença de microplásticos pode desencadear respostas imunológicas ou pode levar à liberação de contaminantes tóxicos, resultando em danos. ”
Outra pesquisa mostrou que as mamadeiras podem ser fonte de ingestão de microplásticos em bebês. Observando as taxas de consumo de leite em mamadeiras e de amamentação em todo o mundo, pesquisadores estimaram que um bebê consome, em média, 1,6 milhão de partículas de microplásticos todos os dias.
Na América do Norte, onde mamadeiras de plástico são mais comuns e as taxas de amamentação são mais baixas quando comparadas aos índices de países em desenvolvimento, esse número chega a 2,3 milhões de partículas por dia. No continente europeu, a taxa é de 2,6 milhões; na França, Holanda e Bélgica, entretanto, pode chegar até 4 milhões.
Confira dicas de como evitar a disseminação de microplásticos:
Embora sejam encontrados nos mais diversos ambientes, detectar e identificar os microplásticos ainda é um desafio, já que não existe uma metodologia padrão para esses processos. Diante disso, pesquisadores de diferentes áreas estão empenhados em estabelecer a melhor técnica para realizar esses procedimentos em amostras ambientais. Enquanto isso, você pode adotar algumas medidas citadas acima para diminuir a disseminação de microplásticos no meio ambiente e reduzir os diversos danos causados por eles.
Cientistas do Laboratório Marinho de Plymouth (PML) testaram a eficácia dos mexilhões na eliminação de microplásticos da água do mar usando um tanque de calha projetado sob medida. Os experimentos mostraram que 300 mexilhões podiam filtrar mais de 250.000 microplásticos por hora!
Esses microplásticos são ejetados pelos animais em sua matéria fecal. Quando as fezes continham altos níveis de plástico, elas flutuavam rapidamente para a superfície da água, podendo ser coletadas junto com os microplásticos.
O professor Pennie Lindeque, chefe de ciência do Grupo de Ecologia Marinha e Biodiversidade, disse: “Os experimentos têm sido extremamente promissores, e estamos muito entusiasmados com o impacto positivo que esses sistemas podem ter em locais onde os microplásticos se acumulam”.
Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Tarleton, no Texas, estudou as propriedades pegajosas do quiabo, conhecidas no Brasil como “baba”, como uma possível solução para a remoção de microplásticos da água. O objetivo do estudo era encontrar um substituto para o poliacrilamida, uma substância química que, em algumas circunstâncias, pode se tornar tóxica.
Os especialistas conseguiram observar que o quiabo, com suas propriedades pegajosas, era capaz de fazer a remoção de grande parte dos microplásticos presentes na água por conta dos polissacarídeos presentes no alimento. Em conjunto com feno-grego, o extrato de quiabo conseguiu remover os microplásticos da água salgada, enquanto a mistura de quiabo com tamarindo funcionou em água doce.
Os idealizadores do processo afirmaram que continuarão procurando outras alternativas à base de plantas para a remoção de microplásticos da água. Um de seus objetivos é comercializar a técnica, oferecendo um método mais seguro para garantir a limpeza da água potável.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais