O tema dos microplásticos na lavagem de roupas não é novo. Um estudo publicado na revista Nature, em 2019, mostrou que lavar roupa é um processo que libera microplásticos no oceano. Apesar de algumas conclusões apontando para efeitos nocivos da contaminação por plaśtico, como efeito disruptor endócrino em humanos e animais, ainda não se tem certeza do que a exposição a esse tipo de material pode causar. Nesse cenário, algumas empresas começaram a desenvolver soluções para a poluição por microplástico têxtil.
A empresa europeia Grundig foi a primeira a lançar uma máquina de lavar com um filtro de microplástico embutido. É estimado que cerca de 700 mil de fibras sintéticas sejam liberadas em cada ciclo de lavagem e que 86% dos microplásticos na água salgada sejam derivados de fibras sintéticas.
O filtro da máquina é capaz de reter cerca de 90% dos microplásticos soltos em um ciclo de lavagem de roupas. Além disso, ele é feito 98% de materiais reciclados e pode ser devolvido para a própria empresa livre de custos para seu reaproveitamento. Sua vida útil é de seis meses e pode ser substituído facilmente.
A máquina de lavar conta com um ciclo específico para filtrar microfibras sintéticas e pode ser usada normalmente para a lavagem de outras roupas. Tipos de fibra orgânica, como o algodão, são biodegradáveis e não oferecem riscos maiores para os oceanos.
A empresa visa acabar com o ciclo do microplástico — que é solto pelas roupas, vai parar no mar e contamina os alimentos que comemos diariamente.
A poluição de microplásticos já é vasta em todo o mundo. Ele é o principal poluente dos oceanos e sua presença já foi comprovada nos cantos mais remotos da Terra, chegando até no Monte Evereste. Seu uso na agropecuária também foi apontado como causa da contaminação da produção agrícola.
É quase impossível evitar sua ingestão, uma vez que suas partículas foram encontradas até no ar. O material já foi encontrado na água potável, diversos alimentos e até mesmo no sal de cozinha.
Uma empresa britânica chamada Matter criou um mecanismo que retém os microplásticos soltos por fibras sintéticas e que não precisa ser substituído. Ele é chamado de Gulp e é conectado entre o tubo de saída de água e o ralo em máquinas de lavar já existentes. Os plásticos devem ser esvaziados do mecanismo a cada 20 usos e reinstalado.
Ainda na Grã Bretanha, membros do congresso visam criar uma nova regulamentação para que todas as máquinas de lavar a partir de 2025 tenham um filtro de microplásticos embutido. A Austrália, União Europeia e a Califórnia também estão considerando a criação de uma regulamentação parecida.
Porém, especialistas frisam que a filtragem desses materiais não é a única coisa a ser feita para diminuir sua poluição. Cerca de 50% das fibras não são espalhadas durante a lavagem, e sim no uso. Essas fibras são quebradas e levadas pelo ar com o movimento.
Por isso, novas alternativas além de fibras sintéticas estão sendo desenvolvidas para quebrar o ciclo de uma vez por todas. Empresas estrangeiras como a AlgiKnit e a Orange Fiber estão criando fibras orgânicas a partir de algas marinhas (kelp) e suco de laranja, que são biodegradáveis e não oferecem riscos para o mar.
Além de ser uma ótima alternativa para fibras poluentes, roupas produzidas a partir desses materiais também têm a promessa da durabilidade, que pode ser a solução de outros problemas da indústria têxtil, como o fast-fashion.
Diversos outros filtros e mecanismos estão sendo desenvolvidos ao redor do mundo para a retenção de microplásticos na lavagem de roupas, mostrando que esse é um problema longe de ser relevado. Porém, ainda é necessária a conscientização para que a implementação de regulamentações parecidas com a discutida na Grã-Bretanha façam efeito ao redor do planeta.
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