O microplástico pode estar influenciando as mudanças climáticas. Como se já não bastasse os impactos nocivos à saúde de pessoas e animais, os pequenos pedaços de plástico na atmosfera podem ter um efeito no aquecimento global pior do que qualquer gás-estufa, descobriram cientistas.
Um estudo publicado na revista Nature revelou que os microplásticos (pedaços com menos de 5 milímetros de comprimento) e nanoplásticos (menores que aproximadamente 1.000 nanômetros) presentes na atmosfera podem viajar milhares de quilômetros e afetar a formação de nuvens. Isso significa que eles também têm o potencial de interferir na temperatura, precipitação e mudanças climáticas.
Apesar de o plástico ser um produto relativamente novo – foi desenvolvido no século XX –, nos últimos anos, seus efeitos na saúde de pessoas e animais têm sido amplamente estudados.
Além de causar prejuízos físicos como sufocamento de animais marinhos e mortes por prisão em redes de pesca de plástico abandonadas que não se deterioram no mar – fenômeno conhecido como pesca fantasma –, o plástico também tem ação química nociva em pessoas e animais.
O maior problema já estudado a respeito dos riscos à saúde causados pelo uso de plástico, mencionado em um relatório publicado pela The Endocrine Society, é a sua composição feita a partir de disruptores endócrinos.
Os disruptores endócrinos (DEs) são um grupo de compostos químicos que podem causar interferência no funcionamento do organismo de pessoas e animais.
Eles alteram a forma natural de comunicação do sistema endócrino, causando distúrbios na vida selvagem e na saúde do próprio ser humano.
Ainda não se tem conhecimento de como o plástico entra no organismo humano.
Entretanto, um estudo publicado na revista Environmental Science and Technology aponta que os seres humanos consomem de 39 mil a 52 mil partículas de microplástico por ano.
Além disso, ao levar em consideração que o microplástico também pode ser inalado, esse número passa a ser maior que 74 mil.
Há microplásticos até mesmo na água potável e no ar, que são formados de diversas formas, como a partir do atrito de pneus com o asfalto, danos às embalagens de plástico e sacolas devido a mudanças de temperatura, descarte incorreto de materiais ou na lavagem de roupas de fibras de plástico.
A infeliz novidade, revelada por estudo publicado na revista Nature, é que o microplástico está agindo como um aerossol.
Um aerossol é uma partícula sólida ou líquida em um meio gasoso.
Alguns exemplos de aerossol líquido são as partículas que compõem nuvens, neblinas ou desodorantes e purificadores de ar.
Entre os aerossóis sólidos, estão pequenas partículas de poeira, sal, areia, fuligem ou outro material expelido pela queima de combustíveis fósseis, incêndios florestais, cozimento ou vulcões.
As emissões antropogênicas – ou seja, resultantes de atividades humanas – de aerossóis atmosféricos têm aumentado significativamente nos últimos 150 anos, desde a Revolução Industrial, causando vários impactos ambientais, que incluem efeitos adversos à saúde humana, como problemas de visão.
Antigamente, os aerossóis não eram incluídos em modelos matemáticos que buscavam prever o clima, o tempo e a qualidade do ar. O fato de suas influências sobre o clima serem consideradas hoje em dia demonstra um aumento na complexidade dos cenários de mudanças climáticas.
Complexificando ainda mais o cenário, estudos (1 e 2) confirmaram que os pequenos pedaços de plástico podem viajar milhares de quilômetros de sua fonte.
O microplástico também interfere no valor do albedo. O albedo é a medida de refletividade de uma superfície; ela indica a capacidade de absorção dos raios solares pelo planeta Terra.
O albedo ajuda a entender como diferentes aerossóis podem alterar o clima refletindo ou absorvendo a luz solar, o que pode depender, em parte, de sua cor.
A fuligem, por exemplo, que é preta, tende a ter um efeito de aquecimento, enquanto o gelo reflete e esfria.
Os aerossóis podem pousar no solo e alterar o albedo do gelo e da neve.
Os aerossóis também afetam a formação de nuvens: pedaços diferentes podem semear mais e menores gotas de água ou gelo, criando diferentes tipos de nuvens em diferentes elevações que duram diferentes períodos de tempo.
Embora minúsculos, os aerossóis têm mais influência sobre o clima extremo do que os gases do efeito estufa: um mundo aquecido pela remoção de aerossóis teria mais inundações e secas, por exemplo, do que um mundo aquecido na mesma quantidade por CO2.
Se as concentrações atingirem 100 partículas por metro cúbico, os plásticos podem ter aproximadamente o mesmo potencial de interferir no albedo de que alguns aerossóis já incluídos nas avaliações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Em outras palavras, os plásticos se tornam notáveis. Mas se eles iriam aquecer ou esfriar, a Terra é uma informação desconhecida e difícil de mensurar.
O que mais preocupa pesquisadores e ambientalistas é que a produção de plástico e o seu acúmulo no meio ambiente continuam aumentando e tendem a crescer.
Os cientistas estimam que, com o crescente uso do plástico, ele possa vir a representar mais de 50% dos aerossóis de origem antropogênica que pousam em algumas partes do oceano.
Por isso é importante, e urgente, que sejam tomadas medidas para reduzir a produção e poluição por plástico.
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