O cérebro é conhecido como o órgão principal da biologia humana e, assim como o resto do corpo, é importante mantê-lo saudável durante a vida. No entanto, desde 2018, cientistas observam a presença de microplásticos no organismo humano, o que pode representar uma ameaça à saúde e ao funcionamento do corpo.
Os microplásticos no cérebro foram observados pela primeira vez em um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 2024. As descobertas publicadas no JAMA Network Open confirmaram que os microplásticos podem estar presentes nos bulbos olfativos do cérebro das pessoas, com base na análise de do cérebro de 15 pessoas falecidas que moravam em São Paulo.
E, mesmo que novas pesquisas precisem ser feitas para confirmar essas descobertas, a presença de microplásticos no cérebro já cria um certo nível de preocupação na comunidade científica.
Os microplásticos são categorizados como partículas de plástico cujo diâmetro é inferior a 5 milímetros. Portanto, devido ao seu tamanho, esse material não tem problema para entrar e transitar no organismo humano — evidências sugerem que as partículas de microplásticos podem viajar para diversas áreas do corpo humano, como a corrente sanguínea e o cólon
No entanto, uma grande questão a partir da descoberta desses materiais no cérebro humano é como eles foram parar lá.
De acordo com as descobertas da FMUSP, os microplásticos foram localizados no bulbo olfatório do cérebro humano — indicando que a via olfativa dos neurônios do nariz até o cérebro poderia permitir a entrada de certas substâncias no cérebro.
“Estudos anteriores em humanos e animais mostraram que a poluição do ar atinge o cérebro e que foram encontradas partículas no bulbo olfatório, razão pela qual pensamos que o bulbo olfatório é provavelmente um dos primeiros pontos para os microplásticos chegarem ao cérebro”, disse a Dra. Thais Mauad, líder do estudo.
Para este estudo, os pesquisadores examinaram os bulbos olfatórios de 15 indivíduos mortos com idades entre 33 e 100 anos. Antes da morte, todos os indivíduos eram residentes em São Paulo há mais de cinco anos.
Os pesquisadores usaram vários métodos para evitar a contaminação externa das amostras com microplásticos. E, por fim, foram capazes de identificar microplásticos em oito dos 15 indivíduos.
Além disso, o plástico mais comum encontrado foi o polipropileno, um tipo de plástico muito utilizado em roupas, embalagens de alimentos e garrafas.
A presença de microplásticos no cérebro é uma grande questão para a comunidade científica, uma vez que é o órgão conhecido como “o mais protegido do corpo humano”.
A proteção do cérebro é resultante da ação da barreira hematoencefálica, que regula o transporte de substâncias entre o sistema nervoso central e o sangue. Ela age como uma membrana protetora natural que impede o sistema nervoso central de toxinas e patógenos no sangue.
Portanto, a presença de microplásticos no cérebro significa que eles foram capazes de penetrar a barreira, deixando o órgão suscetível aos produtos químicos encontrados nos plásticos.
“A barreira hematoencefálica não é tão protetora quanto gostaríamos de pensar”, diz Bethanie Carney Almroth, ecotoxicologista da Universidade de Gotemburgo que não esteve envolvida no estudo.
A maior parte do que os cientistas entendem sobre como os 4 mil produtos químicos usados para fazer plástico, e as próprias peças, podem prejudicar a saúde humana foi limitado a estudos com animais. Um estudo de 2023, por exemplo, mostrou que a exposição a microplásticos através da água potável ao longo de três semanas causou alterações cognitivas no cérebro de ratos. As partículas também foram capazes de cruzar a barreira hematoencefálica.
Além disso, os microplásticos no cérebro podem oferecer outros riscos.
“Sabemos que há uma reação inflamatória quando as células são expostas a microplásticos no laboratório”, disse a Dra. Mary Johnson, cientista e pesquisadora de saúde ambiental em Harvard, que não esteve envolvida na pesquisa, à NBC News.
Johnson também observou que as doenças neurológicas, incluindo a demência, têm sido associadas à exposição à poluição atmosférica.
“A ideia é: os microplásticos poderiam ser parte do quebra-cabeça?” ela disse. “Parte da preocupação não é apenas a partícula em si, é o fato de esses plásticos conterem aditivos, alguns dos quais sabemos serem potencialmente tóxicos”.
É importante notar que as pesquisas sobre os efeitos dos microplásticos no cérebro e no organismo humano em geral ainda estão sendo desenvolvidas. Porém, diversos especialistas recomendam limitar a exposição a essas substâncias.
Esse é o caso da professora e diretora do Centro de Pesquisa e Tradução Ambiental para Saúde (EaRTH) da Universidade da Califórnia, São Francisco, que não esteve envolvida no estudo, Tracey Woodruff, PhD.
“[…] Você pode ser exposto a microplásticos através da água potável, do consumo de alimentos [e] do ar. Uma área sobre a qual os indivíduos têm mais controle em relação à poluição por microplásticos é a alimentação. Há coisas realmente simples que as pessoas podem fazer: não colocar plásticos no microondas, tentar usar menos recipientes de plástico, [e] comer frutas e vegetais frescos e em níveis mais baixos na cadeia alimentar, melhorar a sua resiliência à exposição a produtos químicos tóxicos em geral”, explica.
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