Milhares de portugueses, espanhóis, franceses e marroquinos são evacuados de suas casas por causa das mudanças climáticas

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A Autoridade de Proteção Civil de Portugal declarou estado de contingência desde domingo (10), após ondas extremas de calor atingirem o país. Uma pessoa morreu e 135 apresentaram ferimentos em decorrência dos incêndios florestais que começaram na semana passada. 

Mas o clima não atingiu somente os portugueses, nesta semana, milhares de marroquinos, espanhóis e franceses foram evacuados de suas casas pelo corpo de bombeiros, após as temperaturas locais atingirem 45°C. Até quinta-feira, Portugal tinha registado 28 incêndios ativos, com mais de 2 mil bombeiros atuando nas regiões atingidas. Estes dados foram publicados hoje (15) no jornal The Guardian.

“Esta não é uma situação normal, e é grave em todos os aspectos”, disse ao The Guardian a portuguesa e meteorologista Patrícia Gomes.

Pedro Pimpão, autarca de Pombal, município do centro de Portugal, disse que a situação é “terrivelmente grave”, acrescentando: “Já tivemos casas a arder, pessoas feridas – tanto bombeiros como civis – e um dos nossos moradores acabou com 50% de queimaduras.”

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Os incêndios florestais continuam cinco anos após o incêndio devastador no município central de Pedrógão Grande, que matou 66 pessoas e deixou centenas de feridos, e devastou 30 mil hectares de floresta.

Autoridades do departamento de Gironde, onde os incêndios ainda estão ocorrendo, descreveram a situação como “adversa”.

Um dos dois incêndios de Gironde ocorreu em torno da cidade de Landiras, ao sul de Bordeaux, onde 4.200 hectares foram queimados, estradas foram fechadas e quase mil moradores foram evacuados.

O outro incêndio, que já queimou 3.100 hectares, foi ao longo da costa atlântica perto da “Dune du Pilat” – a duna de areia mais alta da Europa – na área da Baía de Arcachon, acima da qual nuvens pesadas de fumaça escura foram vistas subindo no céu.

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Cerca de 6 mil pessoas foram evacuadas de acampamentos na quarta-feira, e outras 4 mil pessoas na quinta-feira.

A Espanha bateu recordes de temperatura, atingindo 44,1°C na cidade de Ourense, no noroeste, pela primeira vez na quinta-feira. As temperaturas em partes da Extremadura, onde os bombeiros estão combatendo um incêndio florestal que consumiu mais de 4 mil hectares de terra, chegaram a 45°C na quinta-feira.

Na sexta-feira, outro incêndio ocorreu no parque nacional de Monfragüe, na Extremadura, famoso por sua biodiversidade e avifauna.

A tendência é que esse cenário piore

A pior parte de tudo isso é que esse cenário tende a piorar e atingir novos locais. Nos últimos anos, ganharam visibilidade grandes incêndios nos Estados Unidos, Brasil, Austrália e Grécia.

 Entre 2002 e 2016, uma área do tamanho da União Europeia foi queimada, cerca de 4,2 milhões de quilômetros quadrados.

Cayetano Torres, porta-voz do escritório meteorológico espanhol, Aemet, disse ao The Guardian que esta pode não ser a última onda de calor do ano. 

“Não podemos tirar uma conclusão convincente, mas uma análise climatológica das tendências de temperatura mostra que as altas temperaturas do verão estão começando mais cedo e estão se tornando mais intensas”, disse Torres. “Há também uma ligeira tendência a ondas de calor mais duradouras.”

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Ele também disse que o aumento das temperaturas causado pelo aquecimento global já está causando mudanças no clima e alterando a geografia de partes da Espanha.

“Sabemos que algo está mudando: os gráficos de temperatura mostram que cada ano é mais quente que o anterior”, disse ele. “Essa é uma tendência clara e está produzindo a desertificação. Pode-se dizer que Almería é uma extensão do deserto do Saara, e que está avançando ao longo do sudeste.”

Refugiados do clima e conflitos bélicos

O relatório Beyond Borders previu uma onda de mais de 10 milhões de refugiados do clima nos próximos 20 anos. Esse é um número bem maior do que o de refugiados da guerra civil na Síria nos últimos dez anos, que já é um número suficientemente problemático para questões geopolíticas. Isso significa que muito provavelmente, em um futuro próximo, onde a população mundial terá ultrapassado os 8 bilhões de habitantes (seremos 8 bilhões em novembro), haverá milhares de pessoas desabrigadas envolvidas em conflitos de imigração. Isso pode ser particularmente pior para refugiados negros, latino-americanos e de origem pobre, que também são vítimas de racismo ambiental e injustiça ambiental

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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