Para Brenda Ramos Silva, estudante de Nutrição na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a paz com a alimentação durante a pandemia da covid-19 só foi possível com o mindful eating. Em meio ao caos que atingiu a todos, os sentimentos de ansiedade, insegurança e medo afetaram os hábitos alimentares da estudante, que tomou os alimentos por refúgio nos dias mais difíceis.
A mistura de emoções, com as mudanças impostas pelo momento e o isolamento em casa, intensificou os confrontos que Brenda apresentava na relação com os alimentos e dividiram seus dias “entre comer desordenadamente” e tentar “controlar esse comer desordenado”. Segundo a estudante, o cenário só mudou quando incluiu o mindful eating em sua rotina e agora consegue ficar tranquila na cozinha, ao lado dos alimentos. Como futura nutricionista, avalia, essa abordagem alimentar deve complementar sua bagagem profissional.
Com origem no mindfulness, o mindful eating é uma experiência ao se alimentar, “na qual trazemos todos os nossos sentidos e escolhemos tomar consciência para as sensações, emoções, sentimentos e pensamentos que estão presentes ali, no momento”, explica Marina Rodrigues Barbosa, membro efetiva e pesquisadora do Centro de Mindfulness e Terapias Integrativas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e professora do curso de Nutrição da UFU. Trata-se de atenção plena e olhar integral para os alimentos no ato de comer, pois, na perspectiva do mindful eating, a comida é uma oportunidade para experienciar o mundo, “por meio do nosso corpo” e de “todos os nossos sentidos”.
Nesse período pandêmico, cheio de incertezas e emoções que podem afetar o hábito alimentar, a prática ajuda a entender a “qualidade de presença que estamos tendo ao nos alimentar”, afirma Marina, que atua como pesquisadora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica da EERP. E a perda de peso não é o objetivo do mindful eating, adianta a especialista, garantindo que o foco é melhorar a relação com os alimentos e a aceitação corporal.
Em estudo recente sobre o tema, conta a pesquisadora, notou-se que pessoas que adotam a prática do mindful eating experimentam benefícios no comportamento alimentar, nos aspectos psicoemocionais da alimentação, na redução dos níveis de estresse e ansiedade e até na diminuição de episódios de compulsão alimentar.
O mindful eating é indicado para todas as pessoas que desejam investigar suas próprias conexões com os alimentos, envolvendo corpo e mente, e pode ainda ser praticado no dia a dia, de maneira simples, a cada nova refeição. Antes de se alimentar, é possível refletir sobre “o que eu escuto daquele alimento e daquela preparação; o que eu sinto de cheiro; e como eu o vejo e o que ele desperta na minha visão”, explica Marina. Já com os alimentos na boca, a pesquisadora indica a percepção das sensações corporais presentes no momento, junto aos pensamentos e aos sentimentos ali despertos, “sem precisar pensar em nada além daquilo ou acessar alguma mídia social”, além de refletir também sobre processos e caminhos pelos quais os alimentos passaram antes de chegar à mesa. Segundo a pesquisadora, toda essa consciência começa pela escolha dos alimentos.
Para melhor aprofundamento da prática, os interessados podem participar de programas que contam com instrutores especialistas na abordagem do mindful eating, com formação sólida, alerta Marina. Além disso, a pesquisadora informa que existem protocolos específicos para pessoas com transtornos alimentares, obesidade ou alguma outra condição de saúde.
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