A indústria da avicultura no Brasil é enorme. De fato, o país é o terceiro maior produtor e maior exportador de carnes de frango de todo o mundo. Só em setembro de 2014, foram embarcadas cerca de 332 mil toneladas do produto. Os benefícios comprovados no consumo dessa carne são consideráveis, mas uma grande discussão é feita acerca do modo de produção: desde os criadouros até abatedouros. Questões higiênicas são grandes preocupações para consumidores e produtores e certamente é nesse âmbito que giram todas as atenções da indústria e dos órgãos públicos a favor da saúde do consumidor.
Algumas doenças são atribuídas à carne de frango, como a gripe aviária (influenza h5n1) e certas complicações relacionados à bactéria salmonella, como a febre tifoide. Para matar micro-organismos que podem surgir no frango, a indústria aplica jatos de produtos químicos diversos nas carnes durante a linha de produção – isso inibe e matar qualquer patogênico. Um processo essencial que, no entanto, parece ter efeitos colaterais nos trabalhadores e consumidores.
Foram reportados casos, nos Estados Unidos, de trabalhadores e inspetores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) com sérios problemas respiratórios e na pele depois do aumento do uso de componente químicos bactericidas nas linhas de produção no sul do país. Os casos foram denunciados pelo jornal Mother Jones no começo de 2014, depois de uma matéria no Washington Post centrada na morte de um funcionário das linha de produção dos matadouros. Pode estar a um hemisfério de distância de nós, mas não há garantias de que a mesma história não ocorra por aqui.
Diversos inspetores do Departamento de Agricultura estadunidense atribuíram à exposição elevada dos químicos o aparecimento de diversos problemas respiratórios, como asma e falta de ar, além de erupções cutâneas, queimaduras, irritação nos olhos e úlceras de sinusite. A super exposição a tantos produtos químicos foi causada por um outro problema para os trabalhadores dessas linhas: o aumento na velocidade de 140 frangos por minuto para 175 por minuto. Essa mudança, aprovada para atender demandas do mercado, além de gerar lucros para as empresas na forma de redução de pessoal e ganho por produto, demanda que mais agentes químicos sejam usados, numa velocidade ainda maior, o que por vezes chega a ser desnecessário.
Imagine que uma carcaça de frango já foi descontaminada uma vez, mas devido ao fato de se encontrar numa linha de produção acelerada, que requer mais equipamentos para liberação dos químicos, invariavelmente a mesma carcaça será desinfetada mais de uma vez. Os inspetores públicos e das próprias empresas negam que esses agentes químicos possam ser responsáveis pelas moléstias apresentadas nos trabalhadores das linhas, embora estudos comprovem que os agentes químicos mais utilizados nas linhas de avicultura sejam maléficos em exposição prolongada.
O próprio aumento da velocidade nas linhas de produção é um grande inimigo para o trabalhador. Embora contestado pela USDA, um estudo do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional, (NIOSH, na sigla em inglês) mostrou que o aumento de 25% da velocidade nas linhas de produção pode ocasionar até mais 42% de prevalência da Síndrome do Túnel do Carpo, uma lesão causada pelo esforço repetitivo dos trabalhadores que precisam lidar com mais carcaças de frango em um tempo menor do que antes.
Depois das denúncias dos jornais americanos, agências de direitos humanos entraram na justiça contra industriais do ramo avícola nos Estados Unidos. Abaixo, o vídeo do depoimentos de um dos advogados a favor dos direitos humanos e trabalhistas acusa as condições dos trabalhadores nas linhas de produção, denunciando que “a velocidade do trabalho é tão implacável que força trabalhadores a defecar e urinar nas roupas, pois os empregadores negam o uso razoável do banheiro, violando os direitos dos trabalhadores à dignidade”.
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