A misoginia é definida como a forma como o patriarcado põe em prática a opressão contra as mulheres. A misoginia pode ser considerada um tipo de sexismo que se mostra como uma aversão às mulheres, recheado de preconceito, desdenho, e hostilidade direcionadas ao sexo feminino.
Entender o que é a misoginia é importante para se aprofundar no relacionamento entre homens e mulheres na sociedade, e também para lutar contra certos tipos de violências e desigualdades. A violência doméstica, abusos sexuais, a perseguição, o feminicídio e a homofobia são alguns dos preconceitos que têm raízes na misoginia e podem ser combatidos com melhor entendimento deste conceito.
Uma pessoa que perpetua a misoginia pode ser de qualquer gênero e sexualidade. Isso significa que mulheres também podem ser misóginas, graças a diversos fatores, como o convívio com valores preconceituosos ou ensinamento de que mulheres devem ser submissas aos homens.
No entanto, é preciso entender que a forma como um indivíduo do gênero feminino perpetua a misoginia é diferente de alguém do gênero masculino. Afinal, essa estrutura tem como objetivo beneficiar o patriarcado, e portanto, garantir que o homem continue sendo a figura de poder na sociedade.
A pessoa misógina entende que qualquer um que fugir da ideia de que o feminino é inferior e deve ser submisso, tem de ser punida e excluída do ciclo social. Homens que pregam os ideais da misoginia enxergam as mulheres como suas propriedades, como objetos que devem ser controlados. Em alguns casos, eles podem se sentir revoltados caso lhes sejam negados amor ou sexo, o que pode resultar em atos de violência, abuso ou assassinato.
Uma das principais teorias sobre os fundamentos da misoginia é a desumanização da mulher. Segundo o movimento feminista, atitudes, ações e instituições misoginas tratam as mulheres como algo menos do que pessoas. Esse fator teria fundamentos na objetificação da figura feminina.
Nesse caso, a mulher é nada mais do que um corpo em relação ao homem, um instrumento no qual eles podem usar quando for de seu agrado.
Para a filosofa feminista contemporânea, Kate Manne, a misoginia é a forma que o machismo ou o sexismo encontram de aplicar a Lei da superioridade masculina. Ela reforça atitudes que são descritas como “corretas” para pessoas do gênero feminino e masculino e pune aqueles que fogem dessa realidade.
Dentro desta teoria, existem dois fatores importantes:
O que as mulheres “devem” aos homens: respeito, amor, segurança, carinho, aceitação, gentileza, compaixão, atenção moral, cuidados e simpatia;
e
O que as mulheres não podem “tirar” do homem: liderança, autoridade, influência, dinheiro, status, poder, orgulho, reputação, posição social e liberdade.
De acordo com pensadoras do feminismo, como Kate Manne, a misoginia funciona para reforçar a dominação masculina na sociedade. Desta forma, ela não vai tentar agredir apenas mulheres que fogem do estereótipo de “o bom feminino”, mas também castigar qualquer indivíduo que ousa perturbar o sistema patriarcal.
Um exemplo disso são as vítimas de homofobia que sofrem por sentirem atração por pessoas do mesmo gênero. Homens homossexuais sofrem violência e preconceito por seus comportamentos que são comparados com os de “mulheres”. Enquanto mulheres homossexuais são julgadas por não atenderem às expectativas de se submeterem a um relacionamento heterossexual.
Como essas pessoas, LGBTQIA + e mulheres, têm que lidar com a misoginia perpetuada pelos homens, muitas vezes nós internalizamos esse preconceito e passamos adiante. Logo, aqueles que reforçam esses estereótipos misóginos são presenteados com migalhas de aceitação social.
Apesar de não ser uma doença, a misoginia ainda é causada por experiências, influências e normas culturais que os seres humanos enfrentam no dia a dia. Algumas vivências que podem gerar atitudes misóginas contra a mulher são:
Crenças religiosas: algumas religiões ensinam que a mulher deve ser submissa ao homem, devido à ideia de que ela foi criada a partir de sua existência. Além disso, também se prega que o sexo feminino foi resposável pelo surgimento do pecado no mundo, o que gera uma relação problematica entre a religião e a forma como a sociedade enxerga as mulheres. Todos esses fatores contribuem com a misoginia.
Educação: crescer em uma família que prega misoginia pode ajudar a criar um ser humano misógino. Alguns estudos apontam que a exposição a violência doméstica na infância está associada ao sexismo, misoginia e violência direcionada à mulher.
Fatores culturais: normas culturais sobre gênero também afetam, em grande parte, a forma como um ser humano enxerga alguém do sexo oposto. Em certas culturas, a sociedade se desenvolveu com a ideia de que as mulheres são inferiores e devem exercer um papel de cuidado da família. Assim, a misoginia se torna um problema estrutural difícil de combater e que pode ser encontrado até mesmo em pessoas que estão lutando contra ela.
Esses são apenas alguns exemplos de como a misoginia se mostra no meio social. Para identificar essas atitudes fique de olho em qualquer tentativa de fazer uma mulher se sentir inferior ou de fazer com que ela questione a própria verdade.
O machismo é um conceito mais naturalizado e estrutural que entende que o homem é superior. A misoginia pode ser tida como uma discriminação decorrente do machismo, tendo bases psicologicas profundas. A palavra “misoginia” vem da Grécia antiga e se traduz de maneira literal para “ódio contra as mulheres”.
O sexismo pode ser praticado por qualquer gênero. Apesar do termo ser usado majoritariamente para se referir ao modo como os homens tratam as mulheres, o sexismo é definido como o preconceito ao gênero oposto — seja qual for.
É preciso lutar contra a misoginia, afinal, o sexismo está diretamente ligado a condições como depressão, ansiedade, estresse e trauma. A ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu a luta contra a desigualdade de gênero como uma ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Logo, combater a misoginia não é apenas lutar pelos direitos humanos, mas também por um planeta mais saudável.
Confira a seguir algumas formas de se posicionar contra a misoginia:
O feminismo negro e transgênero entende que a misoginia, o machismo, sexismo e a desigualdade de gênero têm impacto maior em mulheres não-brancas e LGBTQIA+, pois elas sofrem com mais de um preconceito. Para além de serem tratadas como menos do que os homens, as mulheres trans e negras/racializadas são vistas como menos do que as mulheres brancas cisgênero.
Sendo assim, seus corpos são vistos como mercadorias e objetos de prazer pelo pensamento machista, racista e transfóbico. Diariamente, elas precisam lidar com o preconceito racial, de gênero, a LGBTfobia e a hiperssexualização de sua existência.
Por isso, antes de assumir a luta contra a misoginia, é preciso entender as diversas formas que ela atinge mulheres em suas especificidades. Pessoas do gênero feminino que são ricas, brancas, cisgênero e héterossessuais têm dificuldades diferentes de mulheres trans negras e perifericas. Ter isso em mente ajuda a manter a equidade entre o movimento feminista, para que todas possam alcançar seus direitos, em suas devidas realidades.
Como a misoginia tem raízes no ódio à mulher, ela pode acabar resultando em casos de violência extrema que acabam chocando o mundo. Um exemplo são os tiroteios em massa que ocorreram nos Estados Unidos em 2021, onde um homem matou seis mulheres de ascendência asiática por motivos misóginos e racistas.
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