Por Alexandre Milanetti* em Jornal da USP | Um trabalho da Escola de Engenharia de São Carlos da (EESC) levou ao desenvolvimento do Modelo de Maturidade em Ecodesign (EcoM2), uma estrutura conceitual destinada a apoiar as empresas na aplicação e gestão do ecodesign, em que o desenvolvimento de produtos é integrado às questões ambientais. A autora do estudo, a engenheira ambiental Daniela Cristina Antelmi Pigosso, publicou um artigo sobre o EcoM2 em 2013 no Journal of Cleaner Production. Dez anos depois, a publicação está entre os artigos mais citados de ecodesign na base de dados de textos científicos Scopus.
O modelo levou a mudanças nas práticas de fabricação nas indústrias, gerando produtos feitos com melhor desempenho ambiental, por exemplo, com menos emissões de gases ou reduzindo o consumo de água. No último mês de janeiro, a pesquisadora recebeu o prêmio Reinholdt W. Jorck and Wife’s Fund’s Research pelos estudos sobre práticas de sustentabilidade não prejudiciais ao meio ambiente.
De acordo com dados da União Europeia, cerca de 80% dos impactos ambientais causados ao longo do ciclo de vida de produtos – da extração da matéria-prima ao uso do produto e disposição final – são definidos nas fases iniciais do processo de desenvolvimento de produtos. No entanto, apesar do reconhecimento dos benefícios do ecodesign, a sua implementação ainda não é consolidada nas empresas em todo o mundo, principalmente devido às dificuldades de gestão. Isso inclui: falta de sistematização das práticas de ecodesign, falta de integração ao processo de desenvolvimento de produtos, gestão e estratégia empresariais; e falta de suporte para selecionar as melhores práticas de ecodesign a serem aplicadas.
Essas questões foram objeto de estudo para o desenvolvimento da tese de doutorado de Daniela Cristina Antelmi Pigosso, defendida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da EESC. Ela foi orientada pelo professor Henrique Rozenfeld, do Departamento de Engenharia de Produção. A partir da tese, foi desenvolvido o conceito EcoM2. A pesquisa também resultou em um artigo científico.
O EcoM2, explica Daniela Cristina Antelmi Pigosso, “possibilita o diagnóstico da maturidade das empresas com relação às melhores práticas de ecodesign, a definição de visões estratégicas para melhoria e o desenvolvimento de roadmaps customizados com a indicação das melhores práticas a serem implementadas”. A ex-aluna da EESC destaca ainda que o trabalho possibilitou empresas a expandirem o número de produtos com melhor desempenho ambiental para todas as linhas de produto, isto é, com menor emissão de carbono, menor consumo de água, menor uso de substâncias tóxicas etc. “Após o doutorado, o EcoM2 foi expandido para considerar não apenas práticas ambientais, mas também práticas orientadas para os negócios e inovação social, resultando no Modelo de Maturidade em Sustentabilidade”, relata a engenheira ambiental, que hoje atua como professora associada na Universidade Técnica da Dinamarca e é cofundadora da Essensus, empresa de consultoria criada em 2015 para aumentar a maturidade da indústria em sustentabilidade.
O Modelo de Maturidade em Sustentabilidade possibilitou, segundo Daniela Cristina Antelmi Pigosso, uma mudança de paradigma na abordagem para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, e hoje é o corpo de conhecimento mais abrangente e a estrutura acionável para o design sustentável, com mais de 800 práticas recomendadas. A engenheira ambiental aponta que, com a ajuda do modelo, centenas de produtos com melhor desempenho de sustentabilidade foram desenvolvidos, por empresas não somente no Brasil (Natura e Embraer), mas também nos Estados Unidos (Steelcase e Bose) e Europa (LEGO e Philips). Para Rozenfeld, produções acadêmicas como essa demonstram que “pesquisas na área de sustentabilidade precisam ser orientadas à aplicação prática, pois é urgente a necessidade de se desenvolver produtos que possuam um menor impacto ambiental e social em todo o seu ciclo de vida”.
O professor da EESC acrescenta ainda que Daniela Cristina Antelmi Pigosso começou suas atividades de construção desse modelo já na iniciação científica, como bolsista da Fapesp, quando a ex-aluna fez um árduo levantamento bibliográfico sobre mais de 1 mil práticas existentes. “Depois disso, ela começou o mestrado para dar continuidade e construir o modelo de maturidade”, relata. “Na sua qualificação, passou para o doutorado direto, devido à excelência e ineditismo do seu trabalho. Foi quando ela criou o modelo, entrevistando os maiores especialistas sobre o assunto na época, que foi aperfeiçoado com as aplicações iniciais em empresas. Não podemos deixar de destacar o papel essencial da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no fomento dessa pesquisa”.
“Hoje, ela é uma das maiores especialistas em economia circular, continua a trabalhar intensamente com pesquisadores do Brasil e, há pouco, obteve um fomento pessoal de um projeto europeu, que poucos pesquisadores obtêm, para desenvolver uma teoria inédita de design sobre o efeito rebote resultante de ações de sustentabilidade”, destaca Rozenfeld. “Com o fomento desse projeto, ela envolve pesquisadores brasileiros da pós-graduação em Engenharia de Produção da EESC para realização de um estágio na Dinamarca sob sua orientação. Em janeiro de 2023, a Daniela recebeu o prêmio Reinholdt W. Jorck and Wife’s Fund’s Research devido às pesquisas que têm desenvolvido sobre o design de soluções sem efeito rebote”
*Da Assessoria de Comunicação da EESC
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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