Por Teresa Sanches em UFMG | Os beija-flores compõem o grupo de aves nectarívoras mais diverso e especializado na relação com flores e contribuem para a polinização de milhares de espécies de plantas. Atualmente, as cerca de 350 espécies catalogadas são encontradas apenas no continente americano, do norte do Alasca ao sul da Terra do Fogo. Mas algumas delas estão ameaçadas de desaparecimento sob os efeitos das mudanças climáticas, especialmente as que ocorrem nas terras baixas da América do Sul.
O alerta vem de estudo publicado com destaque na Nature Ecology & Evolution, com participação do professor Pietro Kiyoshi Maruyama, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Coordenado pelos pesquisadores da Universidade de Copenhague (na Dinamarca) Jesper Sonne e Bo Dalsgaard, o estudo simulou cenários climáticos até 2070, com 84 comunidades de plantas e beija-flores, encontradas especialmente na Mata Atlântica e no Cerrado brasileiros, na Cordilheira dos Andes, em países da América Central, no México e nos Estados Unidos.
Em estudo anterior, os pesquisadores já haviam produzido um banco de dados com 169 espécies das aves nectarívoras e 1.200 de plantas em interação. Esses dados foram utilizados nesse estudo mais recente para subsidiar simulações computacionais dos efeitos das condições ambientais e climáticas sobre os processos de extinção, coextinção (extinção em cadeia de aves e plantas) e colonização das comunidades.
Segundo o professor Pietro Maruyama, os cenários projetados foram baseados em diferentes trajetórias, considerando do pior ao mais ameno, e as simulações foram feitas em quatro etapas. Na primeira, foi realizada a combinação de dados de presença e ausência geográfica com limites de alcance altitudinal para prever as distribuições dos beija-flores em um modelo de terreno digital. Com base nisso, extraíram quatro variáveis climáticas contemporâneas, que foram usadas para determinar o volume climático ocupado de cada espécie, e simularam colonizações de amostras em uma zona de 100 quilômetros e em outra de dez quilômetros.
Os padrões simulados de extinções, coextinções e colonizações foram orientados pelo clima para identificar regiões onde as comunidades são mais vulneráveis a futuras mudanças climáticas. “Foi analisada a perda inicial das espécies, ou seja, o que ocorre quando o beija-flor deixa de ter as condições climáticas ideais para sua sobrevivência, e investigou-se como a perda dessa ave pode desencadear extinções em cascata, tanto de outras espécies quanto de plantas”, explica Maruyama.
O resultado destacado pelo professor do ICB é a diferença de vulnerabilidade entre as comunidades dos Andes, da América do Norte e das terras baixas da América do Sul, incluindo o Brasil, onde houve muitas extinções e poucos eventos de colonização.
“Nos Andes, as condições topográficas da cadeia de montanhas proporcionam condições climáticas variáveis em um espaço relativamente pequeno. Ali, portanto, os beija-flores conseguem migrar para acompanhar condições climáticas mais adequadas à sua sobrevivência, percorrendo pouca distância. Além disso, as interações de espécies são mais especializadas e compartimentalizadas, o que gera menos impacto sobre a rede, mesmo quando alguma espécie é mais vulnerável”, relata.
Outra característica das comunidades da cordilheira, segundo Maruyama, é o maior potencial para colonização, também porque essa região apresenta maior diversidade de espécies.
Na América do Norte, as comunidades também interagem em rede, mas as espécies mais vulneráveis têm papéis mais periféricos, o que reduz as coextinções nos cenários projetados.
No caso das terras baixas da América do Sul, explica Pietro Maruyama, além da dificuldade de os beija-flores seguirem condições climáticas, porque precisariam percorrer longas distâncias para encontrar um ambiente com condições diferentes, as espécies mais importantes são vulneráveis. “Isso significa que as aves desempenham papéis fundamentais nas redes de interação e que a perda de um desses beija-flores poderia desencadear extinções secundárias em toda a comunidade.”
O estudo foi apoiado financeiramente pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo governo da Dinamarca.
Este texto foi originalmente publicado pela UFMG de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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