Mudanças climáticas, e não El Niño, são principal causa da seca extrema na Amazônia

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Desde meados de 2023, a Bacia do Rio Amazonas encontra-se em meio a uma seca excepcional, impulsionada por precipitações reduzidas e temperaturas persistentemente elevadas ao longo de todo o ano anterior. Essa vasta bacia hidrográfica, abrigando a maior floresta tropical do mundo, tornou-se um ponto crítico global para a biodiversidade, desempenhando um papel importante no ciclo hidrológico e no carbono global. Os níveis dos rios atingiram mínimos históricos nos últimos 120 anos, colocando em risco os 30 milhões de habitantes da bacia amazônica, em países como Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador e Bolívia. A seca interfere no transporte, isola comunidades e ameaça a vida selvagem.

O impacto se estende à produção de energia, com países como Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia dependendo significativamente da hidroeletricidade. A seca já causou cortes de energia na região desde junho de 2023, comprometendo as capacidades das barragens e a produção de energia.

Cientistas do Brasil, Holanda, Reino Unido e EUA conduziram estudos utilizando métodos revisados por pares para analisar a influência das mudanças climáticas e do El Niño na severidade da seca. A pesquisa, publicada nesta quarta-feria (24) na revista World Weather Attibution mostrou que seca, que começou no oeste da bacia e expandiu-se para toda a região durante a segunda metade do ano, tem como principal causa o aquecimento global.

De acordo com os pesquisadores, o aumento da evapotranspiração devido ao aquecimento regional intensifica os impactos da seca. O Índice Padronizado de Evapotranspiração de Precipitação foi utilizado para caracterizar a seca agrícola, enquanto o Índice de Precipitação Padronizado avaliou a seca meteorológica.

Populações altamente vulneráveis, como pequenos agricultores e comunidades indígenas, foram desproporcionalmente afetadas pela seca. A exposição aos impactos da seca foi agravada por práticas históricas de gestão de terras, água e energia, incluindo desmatamento, incêndios e agricultura corporativa.

Dados baseados em registros meteorológicos indicam que a seca é excepcional, mesmo no contexto climático atual. A análise revela que a tendência de seca agrícola é ainda mais acentuada, tornando essa seca extremamente rara em climas mais frios.

O El Niño, embora tenha contribuído para a redução da precipitação, não é o principal impulsionador da severidade da seca. As mudanças climáticas, especialmente o aumento das temperaturas globais, desempenham um papel preponderante.

Para enfrentar crises futuras, é preciso reformar as políticas de gestão da seca, integrando previsões e alertas precoces, planos de contingência e práticas sustentáveis. A queima de combustíveis fósseis e o desmatamento devem ser abordados urgentemente para evitar eventos mais frequentes como este num futuro mais quente.

Embora todos os países afetados tenham planos de gestão da seca, as secas recentes destacam a necessidade de reformas e investimentos em infraestruturas para lidar com situações mais intensas no futuro. Estes resultados enfatizam que o aumento do estresse hídrico, impulsionado pelas mudanças climáticas e outros fatores sistêmicos, permanece como uma grande ameaça para a população e exige esforços imediatos em estratégias de gestão da água e cooperação regional.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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