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À medida que essas florestas avançam para o norte, elas nos oferecem uma visão do futuro de nossos litorais em um mundo em aquecimento

Nas últimas duas décadas, a ecologista Ilka C. Feller testemunhou um fenômeno intrigante na Ilha Merritt, na costa atlântica da Flórida. Uma planta, conhecida por pertencer ao mangue, estava avançando. Os manguezais formam florestas diversificadas que protegem as costas da erosão e capturam grandes quantidades de carbono. No entanto, mudanças climáticas estão impulsionando essas florestas em direção aos polos, remodelando o litoral global.

Os manguezais são encontrados em mais de 70 espécies adaptadas a habitats quentes e com solo pobre em oxigênio. Eles crescem apenas em latitudes tropicais e subtropicais, onde a ausência de geadas permite seu estabelecimento. Apesar de não serem nativos da Ilha Merritt, em 2002, Feller encontrou esses arbustos robustos pontilhando o pântano salgado. Sua busca a levou ainda mais ao norte, até St. Augustine, onde também encontrou manguezais isolados.

Ao longo de 20 anos, Feller e sua equipe documentaram a migração dos manguezais na América do Norte, indicando uma mudança nas fronteiras das regiões subtropicais. Desde 1980, mais de 35% dos manguezais globais foram perdidos devido ao desenvolvimento, poluição e eventos climáticos extremos. No entanto, na costa leste da Flórida, a área de manguezais duplicou, enquanto na Austrália e no Brasil, as árvores também migraram para novos territórios. Na África do Sul, os manguezais estão se movendo para o sul, expandindo a fronteira subtropical.

Feller iniciou sua carreira em 1975 como ilustradora científica no Smithsonian Institution. Seu interesse pelos manguezais começou quando desenvolveu uma técnica de desenho subaquático e posteriormente se envolveu em pesquisas no Panamá. Fascinada pelas plantas, Feller retornou aos estudos para obter um doutorado em ecologia e, em 1997, voltou ao Smithsonian como ecologista. Desde então, ela estabeleceu centros de pesquisa em várias partes do mundo e é amplamente reconhecida como pioneira na ecologia experimental de manguezais.

No início dos anos 2000, Feller começou a documentar manguezais ao norte de St. Augustine, explorando a transição entre diferentes habitats conhecida como ecótono. Esse trabalho revelou como o litoral mudaria com a redução das geadas e o aumento das tempestades. Tempestades podem dispersar as sementes dos manguezais, ajudando a expandir seu alcance, mas também podem destruí-los. Em 2019, o furacão Dorian devastou metade das florestas de mangue em Grand Bahama.

Os manguezais são importantes para a defesa contra a elevação do nível do mar, sequestrando mais carbono do que qualquer outra planta. No entanto, sua expansão pode substituir os pântanos salgados, habitats essenciais que sustentam diversas espécies e ajudam a filtrar a água.

As mudanças climáticas estão tornando as geadas menos frequentes, permitindo que os manguezais avancem. Estudos históricos revelam que os manguezais já estiveram presentes mais ao norte no passado, mas foram empurrados para o sul por geadas. Agora, com o aumento das temperaturas, essa migração para o norte pode se tornar permanente, transformando os pântanos salgados em um bioma de árvores e gramíneas.

A migração dos manguezais tem implicações complexas para os ecossistemas costeiros. Eles podem proporcionar novos habitats para aves e outras espécies, mas também substituir habitats críticos como os pântanos salgados. A expansão contínua dos manguezais deve ser monitorada para entender melhor suas consequências ecológicas e desenvolver estratégias de conservação eficazes.

A história dos manguezais em movimento destaca a complexidade das mudanças climáticas e a necessidade de adaptação às novas realidades ambientais. À medida que essas florestas avançam para o norte, elas nos oferecem uma visão do futuro de nossos litorais em um mundo em aquecimento.

Fonte: Scientific American


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