Muito além da exploração animal: criação de gado promove consumo de recursos naturais e danos ambientais em escala estratosférica

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Você se preocupa com emissões de gases, desmatamento e excesso do consumo de água? Se a resposta for sim, você deve se firmar bem na cadeira e se preparar para os dados alarmantes denunciados pelo documentário Cowspiracy, de Kip Andersen e Keegan Kuhn. Uma das maiores bandeiras do vegetarianismo e do veganismo é o fim da exploração animal. Mas além dessa importante faceta, há outra que não se fala tanto a respeito: a degradação ambiental decorrente da indústria agropecuária.

O documentário, de 2014, nasceu na mente de Andersen após ele se deparar com dados oficiais da ONU que informavam que a pecuária tem emissões de gases superiores a todo o setor de transportes (carros, caminhões, trens, navios e aviões). Além disso, ficou intrigado com o fato de grandes ONGs ambientalistas ignorarem a causa número um da destruição do planeta. O documentário está disponível no serviço de streaming Netflix.

Emissões de gases

Eles ocorrem devido à grande devastação que ocorre para abrir o espaço de pastagem, ao cultivo de grãos para alimentar as criações, aos gastos exorbitantes de água para manter essa produção, à emissão de metano pelos animais, entre outros fatores. Estudos comprovam que a pecuária e seus subprodutos são responsáveis ​​por pelo menos 32 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano, ou 51% de todas as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Além disso, devemos estar atentos a outros gases emitidos nesse processo, como o óxido nitroso. Pesquisas demonstram que a pecuária é responsável por 65% de todas as emissões humanas relacionadas com óxido nitroso – um gás-estufa com 296 vezes o potencial de aquecimento global do dióxido de carbono, e que permanece na atmosfera por 150 anos.

O metano expelido nos gases dos ruminantes tem mais impacto na mudança climática do que se imagina. O metano tem um potencial de aquecimento global 86 vezes superior ao do CO2 em um prazo de 20 anos. De acordo com pesquisas, vacas produzem 150 bilhões de litros de metano por dia (250-500 litros por vaca por dia, vezes 1,5 bilhão de vacas no mundo).

Além das emissões provocadas pelo sistema digestivo dos animais (metano e óxido nitroso emitidos pelas fezes), há também emissões de CO2 nas várias etapas de produção de carne, da queimada para geração de pastos até o consumo. A literatura científica prevê que essas emissões aumentem cerca de 80% até 2050. Os dados são tão colossais que fica difícil ignorar o impacto dessa emissão para a saúde do planeta.

Uso da água

Outro grande problema causado pela indústria agropecuária é o elevado consumo de água. Cultivar plantas para a alimentação animal representa 56% de toda a água consumida nos EUA. O cultivo de grãos consumidos pelos animais demandam de muita água – esse montante, somado ao consumo direto dos bichos representa faixas de consumo de água de 34-76 trilhões de litros por ano.

Se pensarmos diretamente no consumo final, na pegada hídrica dos alimentos, deparamos-nos com dados não menos alarmantes: 2,5 mil litros de água são necessários para produzir 1 libra (equivalente a mais ou menos 0,45 kg) de carne; 477 litros de água são necessários para produzir 1 libra de ovos; em média 900 litros de água por libra de queijo e mil litros de água para produzir um galão de leite (equivalente a 3,785 litros).

Quem se torna vegetariano ou vegano economiza água de maneira significativa: para se produzir um quilo de soja, são gastos 500 litros de água, enquanto para um quilo de carne bovina, são necessários 15 mil litros do líquido.

Uso da terra

Um terço da terra livre de gelo presente no globo é utilizada para criação de gado ou alimento para o gado. Considerando 48 estados dos EUA, o espaço total representa 1,9 bilhões de acres. Segundo estudo, desses 1,9 bilhões de acres: 778 milhões de acres de terras privadas são usadas para pastagem, 345 milhões de acres de alimentos para animais, 230 milhões de acres de terras públicas são usadas para pastagem de gado.

No Brasil, quais terras são utilizadas para essas plantações e pastagem? Segundo dados do Inpe, 62,8% de toda a área desmatada da Amazônia brasileira até 2008 foi ocupada por pastagem. Grandes florestas, como a floresta amazônica, estão sendo desmatadas para dar lugar à indústria agropecuária. Estudos demonstram que 91% da devastação da Amazônia se deve à produção agropecuária, entre pastagens e cultivo de grãos para a alimentação dos ruminantes. Dá pra acreditar? De acordo com dados do IBGE, o Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com aproximadamente 209 milhões de bovinos. Em nosso país, os ruralistas têm grande poder de intimidação, o que resulta em uma fiscalização ineficiente do desmatamento. Nos últimos 20 anos, mais de mil ativistas rurais foram mortos no Brasil.

A produção de alimentos vegetais exige muito menos espaço de terra do que a produção de alimentos de origem animal. Por exemplo, em um hectare de terra é possível plantar 42 mil a 50 mil pés de tomate ou produzir apenas uma média de 81,66 Kg de carne bovina por ano. Assim, a alimentação vegetariana estrita estimula a diminuição do desmatamento.

Resíduos

Uma exploração agrícola com 2,5 mil vacas leiteiras produz a mesma quantidade de resíduos que uma cidade de 411 mil pessoas. A cada minuto, toneladas de excremento são produzidas por animais criados para o abate. De acordo com estudos, a quantidade produzida de resíduos pela indústria da carne poderia cobrir as cidades de Nova Iorque, São Francisco, Tóquio, Hong Kong, Londres, Rio de Janeiro, Bali, Berlim, Delaware, Dinamarca, Costa Rica, Paris, Nova Deli juntas. Para onde vão esses resíduos? Eles são despejados nas águas.

Contaminação da água e exploração excessiva

A exploração excessiva dos mares assusta. Existem projeções que indicam que em 2048 não haverá mais peixes comestíveis no mar. Em média, 90-100 milhões de toneladas de peixe são extraídas de nossos oceanos a cada ano. Para cada 0,45 quilo de peixe capturado, até 1,81 quilos de espécies marinhas não intencionais são capturadas e descartadas. Estudos apontam que, em média, 40% (28,5 mil milhões de quilos) de peixes capturados globalmente a cada ano são descartados e que até 650 mil baleias, golfinhos e focas são mortos a cada ano por navios de pesca. Além de, em média, 40-50 milhões de tubarões são mortos em linhas de pesca e redes.

Fome

Em escala mundial, as vacas bebem 45 bilhões de litros de água e comem 61,2 bilhões de quilos de comida por dia. Pelo menos 50% dos grãos são produzidos vão para alimentar o gado. Os EUA poderiam alimentar 800 milhões de pessoas com grãos que o gado consome. Dá pra mensurar o que isso significa? 80% das crianças famintas vivem em países onde os alimentos são administrados aos animais, e os animais são comidos por países ocidentais. A indústria agropecuária reflete diretamente as contradições do capitalismo e seus abismos sociais. Alimentos que poderiam retirar milhões de pessoas da fome são utilizados para alimentar gado. Gado que é consumido em excesso e, segundo muitas visões, sem necessidade fisiológica (diversas pesquisas apontam os benefícios da dieta vegetariana para a saúde).

Dentre os muitos impactos ambientais da pecuária, ela também se encontra como a principal causa da extinção de espécies, zonas mortas nos oceanos, poluição da água e destruição de habitats. Ela contribui para a extinção de espécies de muitas maneiras. Além da destruição do habitat causado pelo desmatamento de florestas e conversão da terra para o cultivo de alimentos para animais e para o pastejo dos animais, predadores e espécies de “concorrência” são caçados por causa de uma ameaça ao gado e aos lucros que eles proporcionam. O uso disseminado de pesticidas, herbicidas e fertilizantes químicos utilizados na produção de culturas para alimentação animal interfere nos sistemas de reprodução dos animais e na saúde do consumidor final. A exploração excessiva de espécies selvagens por meio da pesca comercial, do comércio da carne de caça, bem como o impacto da pecuária sobre as alterações climáticas… Todos contribuem para o esgotamento global das espécies e recursos.

A cada dia, uma pessoa que possui uma dieta vegana poupa 1,1 mil litros de água, 20,4 quilos de grãos, 2,7 metros quadrados de terra florestada, além da vida de um animal. O site do documentário deixa um desafio: que tal 30 dias de uma dieta vegana? É possível transformar hábitos de uma vida inteira e modificar seu impacto sobre o planeta. Parar de comer carne pode ser mais eficiente do que outras medidas para a preservação do ambiente. Como diz o diretor Andersen, no documentário: “Eu descobri que um hambúrguer de 114 gramas requer quase 2,5 mil litros de água para ser produzido. Eu tenho tomado banhos curtos para economizar água e descubro que comer apenas um hambúrguer é equivalente a dois meses inteiros de banho”. Confira 12 dicas para você ser vegetariano nos dias úteis da semana.

Para saber mais confira o trailer do documentário Cowspiracy (disponível na íntegra no Netflix)

Equipe eCycle

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