Por UERJ – Esqueça aquela imagem que vem à mente quando se pensa em golfinhos: animais nadando em grandes grupos junto a embarcações, dando saltos e espetáculos de exibição. A toninha, espécie que figura na lista do Ibama de animais ameaçados de extinção, é bem diferente das demais de sua “família”: tanto pelo pequeno tamanho, que vai de 1,50m a 1,70m, como pelo perfil, bem mais discreto. Esse animal raro e encantador acaba de ganhar um espaço virtual que registra sua história, evolução e beleza, ajudando a conscientizar sobre a importância da preservação: o Museu Virtual das Toninhas, criado pelo Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O Museu das Toninhas é uma experiência imersiva totalmente virtual, imaginado na Baía da Ilha Grande. Com cinco salas temáticas recheadas de vídeos, informações e interações sobre o pequeno cetáceo, o ambiente oferece uma visita bem realista e guarda uma surpresa no final: um mergulho no fundo do mar para observar o animal em seu habitat natural.
A toninha tem bico comprido, nada em águas rasas e em grupos pequenos, expondo-se pouco e não correspondendo às tentativas de aproximação – bem diferente do golfinho cinza, com perfil mais exibido. Essa timidez a fez ser conhecida também como “golfinho invisível”. A toninha pode desaparecer completamente da natureza se nada for feito para mudar o cenário atual. Este alerta é um dos principais destaques na exposição permanente do museu, uma oportunidade única de se admirar este animal raro e considerado vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
O site conta com recursos em três dimensões e projeta uma construção localizada à beira do oceano, com formas inspiradas no animal. É um daqueles espaços que gostaríamos de visitar presencialmente, mas sua existência no mundo virtual o torna especial pela possibilidade de pessoas de qualquer lugar do mundo poderem navegar on-line e conhecer mais sobre o mamífero aquático, que vive apenas na Costa Sul do Atlântico Ocidental.
As boas-vindas ao visitante são dadas por uma toninha virtual. Os detalhes, como luz e sombras, dão ainda mais realidade à experiência. A segunda sala, a mais interativa do passeio, se dedica à anatomia da espécie e permite ao visitante manipular virtualmente um esqueleto totalmente projetado em 3D a partir de um modelo real. Já a sala três é volta à ecologia e comportamento da espécie; na número quatro, são tratados os temas sobre reprodução; e, na última sala, o assunto é a conservação.
A criação do museu faz parte de medidas compensatórias estabelecidas em Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PetroRio, conduzido pelo Ministério Público Federal.
Tecnologia: aliada na observação das toninhas
O interesse dos pesquisadores pela toninha vem de longe, mas as dificuldades eram muitas. “O estudo sempre foi realizado com base em animais encontrados mortos. Observá-los em ambiente natural, entender sua organização ou como eles interagem com o meio ambiente é muito mais difícil”, explica Alexandre Azevedo, oceanógrafo do Maqua. “Isso só começou a ser feito no final da primeira década desse século para cá”, salienta.
O coordenador do Maqua, José Lailson Brito Junior, destaca que a tecnologia tem ajudado nos estudos sobre a espécie. “Recentemente, o conhecimento sobre o comportamento das famílias teve um grande avanço com a introdução do trabalho com drones”, frisa. Mas, a timidez do animal também demandou adaptações para registro dos seus hábitos. “Tivemos que adequar algumas técnicas, não só de filmagem e de aproximação. Foi preciso utilizar equipamentos mais silenciosos para voar em altitudes mais baixas e com câmeras com maior resolução. Com isso, a gente tem descoberto coisas bastante interessantes”, relata Brito.
Uma delas é em relação à formação de grupos de toninhas. “O animal sempre foi descrito como formador de pequenos grupos, de dois, três indivíduos, alguns solitários, eventualmente. Com o uso de drones, temos conseguido alguns registros com grupos maiores, de seis, sete indivíduos. Chegamos a localizar um grupo de treze indivíduos na Baía da Ilha Grande”. Essa é uma das experiências da equipe do Maqua que está narrada nos documentários em exposição do museu.
Além de todos os riscos ambientais, a toninha é uma das espécies de golfinho com vida mais curta, já que “tanto o macho quanto a fêmea vivem em torno de vinte anos. Elas começam a reproduzir muito cedo; em torno de dois e quatro anos de idade, a maioria já está madura, acasalando e tendo filhotes. E também a reprodução é bastante rápida. Ela pode ter um filhote a cada ano ou no máximo de dois em dois anos. A gestação dura 11 meses para um filho só”, segundo o biólogo Daniel Danilewicz, do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars).
Um momento de muita emoção, que retrata bem a importância do trabalho do Maqua Uerj, está registrado em vídeo na sala dedicada à preservação: a equipe documentou o resgate de uma toninha na Baía da Ilha Grande. O animal estava preso por um emaranhado de restos de redes de pesca e, felizmente, foi avistado pela equipe, que retirou as linhas que o prendiam e feriam, devolvendo-o ao mar.
O oceanógrafo Eduardo Secchi, do Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha da Universidade Federal do Rio Grande (Ecomega/Furg) é enfático ao afirmar que “hoje, a principal ameaça em curto prazo é a mortalidade em linhas de pesca. Essa captura é acidental. O pescador coloca a rede para os peixes que ocorrem na mesma área que a toninha, só que ela fica presa nessas redes malhadas e morre asfixiada”. A toninha também vem enfrentando poluição e pesca excessiva, que retira seu alimento. Esses importantes dados são alguns dos destaques no museu, onde também descobrimos que, se essa realidade não for alterada, há a projeção de uma alta probabilidade de declínio da espécie já para os próximos 25 anos.
Por viver em águas costeiras, esse golfinho “ocupa ambientes que nós humanos também ocupamos com muita frequência e, portanto, está exposto a todas as nossas atividades”, afirma Camila Domit, bióloga do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná. Ela faz um alerta. “A gente precisa entender esse processo: a perda de qualquer espécie influencia a sobrevivência de todos nós”.
A visitação ao Museu das Toninhas está aberta sete dias por semana, 24 horas por dia. Para mergulhar nessa aventura de conhecimento e beleza, acesse: www.museudastoninhas.com.br.
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